Offal – “Macabre Rampages and Splatter Savages” | Você Devia Ouvir Isto

 

“Macabre Rampages and Splatter Savages”, segundo disco da banda OFFAL, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

Definição em um poucas palavras: Old School, escatológico, pesado, grotesco, filme de terror classe B.

Estilo do Artista: Death metal/Goregrind

Comentário Geral:  death metal surgiu explorando os limites da contracultura musical no fim do século XX.

Enquanto algumas bandas usavam as catacumbas do inferno, ou os demônios mais profundos da mente humana, outras se valiam da escatologia e do grotesco como temas de suas músicas brutais.

Nessa direção escatológica surgiu uma forma extrema de se praticar o death metal que usava a estética dos filmes de terror de segunda classe como inspiração de barbáries, necrofilia, perversões sexuais, mutilações, empalamentos e toda a forma brutal de extrair sangue, fluídos corporais e vísceras de um ser humano.

Nesse secto, o do splatter/goregrind, as fronteiras musicais entre death metal e grindcore ficavam tênues, e bandas tão distintas como Autopsy, Cannibal Corpse, Carcass (em sua primeira fase), Exhumed, e Impetigo por vezes se viram irmanadas pela temática.

No Brasil, tivemos alguns nomes interessantes como Flesh Grinder, Zombie Cookbook, Rotting Flesh e o Offal.

Formada em 2002 com o nome de Orgy in Excrements (também nome de uma música do Autopsy, presente no álbum “Acts of the Unspeakable”, de 1992), a banda se reformulou com o nome Offal no final do ano seguinte.

Seu primeiro disco, autointitulado, mostrava que tinham algo a mais para oferecer, mas foi com o trabalho seguinte que realmente mostraram a que vieram no underground.

Offal - Macabre Rampages and Splatter Savages (2010 - 2020, Black Hole Productions, Mindscrape Music)
Offal – “Macabre Rampages and Splatter Savages” (2010 – 2020, Black Hole Productions, Mindscrape Music)

“Macabre Rampages and Splatter Savages” foi o segundo álbum de estúdio do Offal, lançado em 2010 e com a formação já novamente reformulada.

De várias formas eu poderia te dizer que esse trabalho é uma obra de arte do nosso heavy metal, mas vou sustentar meu argumento apenas na forma com que o Offal criou um disco conceitual em torno de clássicos do terror classe B.

Nas doze faixas que completam pouco mais de trinta e oito minutos de puro death metal old school, temos uma homenagem sincera a filme cult de terror, feitos por mestres como Lucio Fulci, Amando de Ossorio, Dan O’Bannon, Joel M Reed, Dario Argento e até mesmo o sucesso slasher da franquia “Sexta-Feira 13”.

A única composição que não foi inspirada em algum filme de terror é “Putr-essence”, que foi composta e lançada em um EP anterior ao lado da banda australiana Bowel Fetus.

Aqui se faz necessário enaltecer o relançamento em comemoração aos dez anos do lançamento original de “Macabre Rampages and Splatter Savages”.

A parceria entre os selos Mindscrape Music e Black Hole Productions (por onde originalmente saiu o disco) rendeu uma edição primorosa, disponível em três versões diferentes, com qualidade de importado e com direito a poster da romântica capa.

Porém, o grande atrativo desta belíssima edição está no encarte completamente remodelado.

Cada composição é apresentada por um texto que a amarra ao filme, ou mais especificamente à cena que a inspirou, além de alguns dados biográficos que dão mais relevância ao lançamento.

É muito possível que você não goste da música que sairá do CD, pois o som do Offal não é para ouvidos que se ofendem facilmente, mas não há como não se encantar com a arte do produto final.

“Mas e as músicas?”, você me pergunta.

Macabro, funesto, sujo e pútrido são adjetivos que não cabem apenas ao conceito, mas também à música que escutamos.

Lembre-se que “Macabre Rampages and Splatter Savages” é um “disco conceitual”, sendo assim faixas como “Flesh Freak ” e “Deep Red – The Blood Is Runing Cold” acabam se tornando fatores de transformação do escatológico, do violento e do grotesco, em reverência à arte.

Veja bem, assim como as letras são inspiradas no cinema cult, as dissonâncias e harmonias agressivas das composições não são apenas ruídos sistemáticos e o Offal está longe de ser a harpa eólica do death metal/goregrind.

“Feast For The Dead”, que chegará impressa por uma energia mórbida e crua após a faixa instrumental “Offal”, será a primeira confirmação dessa observação, muito pela passagens com groove sorumbático sustentadas por ótimas linhas de bateria.

Assim como como ouviremos nos arrasa-quarteirões “Putr-essence” (que belíssimo título para uma música de goregrind) e “Death’s Curse”, ou na dinâmica “The Cold Grips of Death” que possuem sua dose de experimentalismo, como perceberemos em todo o disco.

Aliás, chama a atenção o fato de não usarem blasting beats a todo tempo, além de construírem o clima de suas músicas com destreza cinematográfica, muito pelas introduções emprestadas dos filmes.

Se você conferir apenas “Terrore In Giallia” e tiver assistido qualquer um dos clássicos filmes de Dario Argento vai entender o que quero dizer.

Além disso, o riffão que abre “Trial Of Undead” não teria o mesmo impacto sem o excerto cinematográfico introdutório.

Essa música ainda ressalta a importância do contraste das linhas vocais mais gritadas do guitarrista Tersis Zonato com o gutural de André Luiz, e, principalmente, seu trabalho versátil na guitarra.

Os riffs pesados (o de “Onslaught Of Dismemberment” é brutal!) e as linhas desenhadas nas seis cordas de Tersis Zonato guiam as músicas por vezes esbarrando mais no thrash metal (como no destaque “Mortuary Waste” – em que os excertos dos filmes aparecem no meio da música), te levando para os velhos tempos do death metal.

Ao mesmo tempo ele certeiro em movimentos mais climáticos, como na instrumental “Deep Red – The Blood Is Running Cold”, onde esboça um traquejo melódico por movimentos quase progressivos.

Já os vocais de André Luiz são tão guturais e opressivos que fazem os de Chris Barnes parecerem cânticos natalinos. Confira as linhas “suínas” que ele registra em “The Eye-gouging”.

Esse disco é supra-sumo da anti-estética, um oximoro da arte, um experimentalismo do grotesco.

Por isso tudo é sensacional!

Obviamente, você devia ouvir isto!

Ano: 2010

Top 3:  “Terrore In Giallia”, “Mortuary Waste” e “Trial Of Undead”.

Formação: André Luiz (vocais), Eduardo Tobe (bateria), João Carlos Ongaro (baixo), Tersis Zonato (guitarra e vocal)

Disco Pai: Necrophagia – “The Divine Art of Torture” (2003) ou o Mortician – “Chainsaw Dismemberment” (1999)

Disco Irmão: Zombie Coockbook – “Outside the Grave” (2012)

Disco Filho:  Rancid Flesh – “The Sick Art … Some Lessons of Pathology” (2014)

Curiosidades: Os filmes que serviram de inspiração para as músicas foram: “Zombie” de Lucio Fulci, em três músicas; “The Return of the Evil Dead”, de Amando de Ossorio; “The Return of the Living Dead”, de Dan O’ Bannon; “Bloodsucking Freaks”, de Joel M. Reed; “Deep Red”, “Phenomena” “Suspiria” de Dario Argento; e “Sexta-Feira 13 – Parte 2”, de Steve Miner.

Pra quem gosta de: Filmes de terror classe B, violência gratuita, sangue, vísceras, cerveja e bacon na salada.

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