“E contemplei, dissipadas as dúvidas mais nebulosas, uma visão magnífica de o que a invisibilidade poderia significar para o homem: o mistério, o poder, a liberdade. Não vi nenhuma desvantagem.”
Griffin, personagem de “O Homem Invisível”, de H. G. Wells.
Em algum momento da vida, todo munda já desejou ser invisível, seja pela impunidade, seja pela magia.
Claro que um desejo tão comum à mente humana iria permear as artes ao longo do desenvolvimento cultural da humanidade.
Mitologia (lembre-se do elmo de Hades) e clássicos da literatura (lembre-se do anel de Bilbo ou da capa de Harry Potter), vez ou outra, trataram do tema da invisibilidade, e, talvez, “O Homem Invisível”, livro de H. G. Wells, um dos pioneiros da ficção científica, seja o mais conhecido deles.
Nascido em 21 de setembro de 1866, H. G. Wells foi o inventor do romance científico, e sua o obra como um todo é muito forte no imaginário popular do século XX, principalmente em sua primeira metade, tanto que Orson Welles causou verdadeiro pânico em 30 de outubro de 1938 ao usar o livro “Guerra dos Mundos” como base para uma suposta cobertura jornalistica de uma invasão alienígena.
Porém, “O Homem Invisível” teve ecos ainda mais fortes, sendo referenciado do cinema à música, dos programas de televisão às histórias em quadrinhos. E nesse último campo, o da nona arte, cai um dos mais interessantes frutos modernos deste livro de Wells.
Estou falando de “O Ninguém”, de Jeff Lemire, recentemente lançado no Brasil pela excelente editora Pipoca & Nanquim. Aqui aproveito para alertar o leitor da altíssima qualidade da curadoria desta relativamente nova editora, com amplo espectro de estilos, abordagens, e conceitos, além de muita preocupação com os detalhes e o acabamento de seus produtos.
Voltando à graphic novel, assim como H. G. Wells se inspirou no poema “The Invisible Perils of Invisibility”, de W. S. Gilbert, para escrever seu “O Homem Invisível”, Lemire bebeu na fonte de Wells para escrever “O Ninguém”.
+ Leia o poema “The Invisible Perils of Invisibility”, de W. S. Gilbert.
Diria até que “0 Ninguém” é mais uma homenagem do que uma inspiração, ou uma releitura mais simplificada como o próprio nome do protagonista de Lemire nos infere.
Homenagem, inclusive, extrapolada da obra de Wells para a era de ouro do terror/suspense no cinema, na literatura, e nos quadrinhos pulp, através das ilustrações que separam as partes da graphic novel.
Lançada originalmente em 2008, pelo selo Vertigo, da DC Comics, a trama de Lemire leva o Homem Invisível para uma cidade pequena nos Estados Unidos (a primeira diferença com a trama de Wells, que se passa no interior na Inglaterra), onde ele se relaciona com a solitária adolescente que sonha em conhecer o mundo além da pacata e imutável Boca Larga.
Até por essa falta de agitação, quando o estranho enfaixado, envolto em bandagens da cabeça aos pés, surge na cidade, Vickie, a adolescente, não se contém e tenta uma aproximação para descobrir qual o mistério que este forasteiro esconde.
Partindo dessa ideia, Lemire desenrola discussões psicológicas, de identidade, medo, paranoia, e histeria coletiva, usando como gatilho para a primeira camada de sua narrativa um suposto crime que coloca o forasteiro estranho como principal suspeito.
Afinal, como seres humanos, tememos aquilo não compreendemos e tendemos a nos deixar levar pelo calor do momento.
A narrativa de Lemire reforça essa ideia de como o desconhecido nos assusta, de forma que até o mais centrado ser humano comete atos impulsivos e fatais no auge deste temor causado pelo “invisível”.
Isso, junto ao ensinamento que Stepehen King nos deixou em “A Tempestade do Século” e “Trocas Macabras”, de que toda pequena cidade é boa em guardar seus segredos, e só isso justifica a inconsistência leve no final de “O Ninguém” quanto ao ferimento de Griffen.
Lemire tem se mostrado um ás nas releituras e costuras de referências, vide o que faz na aclamada série “Black Hammer”, contudo, “O Ninguém” é um de seus primeiros trabalhos autorais, mais ou menos da mesma época do magistral “Sweet Tooth”.
A pequena e pacata cidade, o misterioso forasteiro, o pano de fundo científico são similares à trama de Wells.
Porém, enquanto o clássico livro foca nas agruras físicas e nos conceitos científicos da invisibilidade, Lemire dedica-se mais aos aspectos psicológicos, e creio que aí está a maior diferença entre os trabalhos, além da abordagem e do formato.
Cabe também dizer que o livro de Wells traz premissas mais pesadas, como roubo, abuso psicológico, violência física e traços de psicopatia que na graphic novel de Lemire é mais explicitamente pontual e sugestionada no geral.
Além disso, a discussão do que somos capazes de fazer quando não somos vistos, tão antiga quanto a própria humanidade, é mais esmiuçada por Wells do que por Lemire (que deixa algumas pontas sobre quem, de fato era o Homem Invisível). O Griffin de Wells é mais trabalhado em sua essência, e o Griffen de Lemire nas circunstâncias.
Essa semelhanças e diferenças só reforçam a qualidade de ambas as abordagens, alavancada também pela natureza diferente de ambos os autores que narram a mesma história.
Se por um lado, não há equiparação de importância e brilhantismo entre as obras de Wells e Lemire, temos que registrar que além de coragem, “O Ninguém” reflete a capacidade do quadrinista em retrabalhar um clássico sem soar uma mímica artística.
O mais interessante em ambas as abordagens é ver a ironia que reside no fato da personagem se tornar ainda mais destacável e “visível” à medida que se esforça para esconder sua invisibilidade.
Griffin, no livro de Wells, chega a nos dizer que “fui direto ao ápice das coisas que os homens consideram desejáveis. Sem dúvida a invisibilidade tornou possível obtê-las, mas tornou impossível desfrutá-las quando alcançadas.”
A tensão e o mistério de “O Homem Invisível” também são trocados pela melancolia e a empatia (aqui residindo na figura de Vickie, ansiosa por algo diferente num lugar que nada acontece) em “O Ninguém”.
Enquanto Wells nos dá uma lista de desvantagens em ser invisível, Lemire parece usar Griffen como motivo para a narrar a história indireta de Vickie.
De fato, ele é ninguém, pois o mais importante é como sua passagem na cidade afeta os universos pessoais de cada habitante, principalmente da garota, sendo que suas pegadas na neve no desfecho são uma alegoria para a marca deixada por ele em Boca Larga.
Inclusive a pergunta “Fim?”, que fecha a graphic novel diz mais sobre o futuro dela do que dele. E já que estamos falado sobre o final, vale dizer que os rumos de “O Ninguém” e “O Homem Invisível” são bem diferentes, e seus desfechos distintos.
Até porque, as páginas finais de “O Homem Invisível” nos contam que os segredos de Griffin foram resguardados e permaneciam disponíveis a quem os encontrasse e “tivesse domínio sobre eles”. Ali ainda vemos como estes segredos despejam uma tentação quase irresistível em quem os tem! Talvez o Griffen de Lemire só conseguiu acesso a estas informações ou chegou nas mesmas conclusões científicas por outros caminhos.
Uma coincidência improvável? Sim. Mas o mundo real não está cheio delas?
Voltando para nossa discussão, um observação interessante: se você já leu o livro de Wells se atentará para o sofrimento de Griffen (de Lemire) no último quadro de “O Ninguém” (molhado e nu em em meio a neve).
Por fim, cabe ainda mencionar que o livro de Lemire é sobre as diversas formas de solidão, de ser incompreendido e de não se encontrar, no espelho ou na sociedade em que se enquadra.
Com mais leveza que Wells, Lemire consegue levantar as mesmas questões básicas, usando de metáforas e parábolas para críticas sociais, mesmo que em “O Ninguém” ele não se aproxime da genialidade desfiada em “Sweet Tooth”.
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