É um absurdo que uma banda do porte da Nômade Orquestra não tenha o devido valor em seu próprio país. Surgida da cena jazzística paulista, a formação com dez músicos talvez seja o melhor representante do jazz contemporâneo em solo nacional, com habilidade e talento para mesclar tradicionalismos, regionalismos, e modernidades musicais sem desandar a fórmula, ou soar pretensioso.
E em “Entre Mundos”, seu segundo trabalho, vão do Jazz clássico ao Hip Hop, passando por texturas indianas, orientais, e nordestinas, pincelando doses de soul, funk, e até uma certa lisergia roqueira pontual. É impressionante que uma banda que começou, em 2012, como um pequeno grupo de amigos que se divertiam em jam sessions atinja um senso artístico deste porte, tão maduro e conciso, em tão pouco tempo.
Indubitavelmente, este segundo trabalho deu contornos mais fluidos ao mundo musical concebido pela banda, que evidencia uma bagagem musica pesada, e um curiosidade artística quase acadêmica, sem deixar de ser envolvente.
“Entre Mundos” transforma o coletivo Nômade Orquestra, quiçá, no melhor representante do jazz brasileiro contemporâneo, com habilidade e talento para mesclar tradicionalismos, regionalismos, e modernidades musicais sem desandar a fórmula, ou soar pretensioso.
Temos então um jazz tipicamente brasileiro, com elementos regionais e tradicionais entremeados aos pilares do fusion, com seção rítmica concisa, manejando bem o groove ciclotímico das composições (“Madame Butterfly” é de rachar o assoalho), intercalado por harmônias que parecem simples num primeiro momento, mas que se tornam eloquentes quando prestamos atenção ao detalhes (como nas pontuais linhas vocais que se tornam movimento entrelaçam no instrumental).
Os naipes de metais conferem calor à sonoridade engenhosa e esmerada, aclimatando muito bem a proposta, seja em momentos mais intrincados, como na viajante “Terra Fértil” (de evoluções que esbarram em texturas do Rock Progressivo) e na abertura “Jardins de Zaira”, ou no groove amaciado e quase pop de “Estrada Para Camomila”, e até mesmo na psicodelia remodelada em “Vale da Boca Seca”, que se segue após o texturizado aspecto oriental de “Felag Mengu”.
Confira o álbum na íntegra, via youtube… [youtube https://www.youtube.com/watch?v=sbqAxF7Rikw&w=560&h=315]
Todavia, os destaques máximos vão para “Rinoceronte Blues” – um fervilhante blues que moderniza o molde das big bands, com groove e uma “caliente” textura de trilha sonora (que aparecerá também em “Travessia”) -, para a hipnótica, curvilínea e cativante “Deliriuns”, e para a flamejante “Olho do Tempo”.
Um exemplar riquíssimo da música brasileira contemporânea.
Formação da Nômade Orquestra:
Guilherme Nakata • Bateria
Ruy Rascassi • Contrabaixo
Marcos Mauricio • Teclas
Beto Malfatti • Sax Alto / Flauta / Pick-Ups
Marco Stoppa • Trompete / Shofar
Bio Bonato • Sax Baritono
Luiz Galvão • Guitarra
Fabio Prior • Percussão
Victor Fão • Trombone
André Calixto • Sax Tenor / Sax Soprano / Flautas /GaitaParticipação.:
Beto Montag • Vibrafone em “Jardins de Zaíra” e “Deliriuns”
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