Dizem que para o Brasil virar circo só falta cobrir com uma lona! Bem… A julgar pelo que vemos na sociedade e na política brasileira não posso dizer que estão sendo muito cruéis.
Acredito que a tradicional banda de thrash metal paulista MX não pede mais nem o uso da lona, proclamando o Brasil como um circo a céu aberto em seu novo álbum, “A Circus Called Brazil”.
A capa, de autoria do desenhista e escultor Cleyton Amorim, diz tudo: os pilares da sociedade brasileira representados pelos políticos (corruptos), a religião (irada, decrépita e rica), o crime organizado (controlando pela violência povo e classe política) e o povo (paupérrimo, de mão vazias e nariz de palhaço).
Mensagem direta, desconcertante, e instigante! Escrita em bom português para não deixar dúvidas na faixa-título:
“Povo brasileiro/ preste atenção para aprender/ o verdadeiro inimigo é bem fácil de se ver/ um sistema corrupto, Estado imundo/ eleitores brigando não dá pra entender/ Não importa se são vermelhos ou azuis eles roubaram você/ Não importa se são vermelhos ou azuis eles tem que se fuder”
Mas e as músicas? Você me pergunta.
Se você conhece o poderio do thrash metal do MX, de clássicos como “Simoniacal” (1988) e “Mental Slavery” (1990) sabe o que esperar.
Velocidade, peso e execução técnica de primeira, que não nos ataca apenas com riffs potentes, à lá Slayer e Kreator, mas também instila solos bem trabalhados.
Mas são quase vinte anos sem material inédito da banda. Isso fez alguma diferença, certo?
Sim! No sentido maturidade e produção.
Retrocederam alguns passos que tinham dado em direção ao groove metal noventista em “Again…” (1997) e “The Last File”(2000), e se renderam ao mais puro thrash metal de seu legado, como a presença de “Simon”, o padre do álbum “Simoniacal”, na capa anuncia.
Porém, a musicalidade que antes era prejudicada por uma produção quase diletante no Brasil dos anos 1980 quando se falava em thrash e death metal, agora resulta em músicas rápidas, agressivas, bem trabalhadas em estúdio por uma produção impecável.
“Fleeing Terror” tem a missão de apresentar estas credenciais, esfregando em nossas fuças palhetadas rápidas, linhas vocais iracundas e imperativas, como um trem desgovernado que se destina a esmigalhar nossos tímpanos.
Uma abertura cheia de energia e raiva, mas também pincelada de passagens com certo groove e guitarras bem desenhadas nos preceitos melódicos do thrash metal, lembrando uma mistura de Slayer e Exodus, que será melhor equilibrada em “Murders” que vem na sequência.
O thrash metal do MX é aquele veloz, simples, mas caótico, soando como se a qualquer momento a avalanche dos andamentos pudesse sair do controle de modo explosivo.
A seção rítmica, que é responsável por sustentar esta entropia musical, controla velocidade e peso com fluidez e propriedade, enquanto os vocais agressivos (no meio do caminho entre Tom Araya e Peavy Wagner) entoam seus sons de revolta.
Nesse sentido “Mission” é uma mostra de como funcionam as coisas quando investem em uma composição mais cadenciada, apesar da insanidade impressa na sua segunda metade.
E assim percorreremos o caminho de “A Circus Called Brazil”, guiados por uma velocidade vertiginosa nos andamentos, riffs com guinadas bruscas e movimentos imprevisíveis, na primeira parte, e uma segunda parte mais cadenciada e “trampada” com “Toy Soldier” (cadenciada e mais ousada), “Keep Yourself Alive” (com uma ‘rifferama’ de emocionar), “Marching Over Lies” e “Apocalypse Watch” (com algo de Testament) impressionando na sequência final do trabalho.
Claro que não estamos falando de um álbum genérico, mas o MX em “A Circus Called Brazil” foi fiel a seu legado musical, sem buscar artimanhas fora de seus domínios para criar músicas cativantes, como “Lucky” (com forte apelo do crossover), “Cure and Disease” e a semi-virtuosa faixa-título.
Ou seja, “A Circus Called Brazil” é um retorno intenso, rápido e primitivo do MX, que vai agradar em cheio os amantes do speed/thrash metal sem firulas e retomar seu lugar de destaque na cena brasileira.
“A Circus Called Brazil” foi gravado no Estúdio Lamparina, em São Paulo, com a produção assinada por Tiago Hóspede, em conjunto com a própria banda, e está saindo no Brasil via Shinigami Records.
Vá atrás de “A Circus Called Brazil”, pois você está diante de um ponto marcante da história do metal nacional enquanto ele acontece.
TRACK LIST
Intro: Halloween Circus by Mike Kreunch
1. Fleeing Terror
2. Murders
3. Mission
4. Lucky
5. Cure and Disease
6. Toy Soldier
7. Keep yourself alive
8. Marching Over Lies
9. Apocalypse watch
10. A CircusCalledBrazil
11. Speedfreak (Motörhead Cover) * Bonus Track
FORMAÇÃO
Alexandre da Cunha (Bateria/Vocal)
Alexandre “Dumbo” Gonçalves (Guitarra/Backing vocals)
Décio Jr. (Guitarra)
Alexandre “Morto” Favoretto ( Baixo/Backing Vocals)
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