Alejandro Ramirez Jourgensen, ou simplesmente Al Jourgensen, é o insano guia do Ministry, banda seminal do metal industrial, por mais de três décadas, e uma voz ativa e provocativa contra a política conservadora norte-americana.
Uma rápida olhada na capa e no encarte de “Amerikkkant”, mais recente trabalho do Ministry, e fica claro que sua crítica ácida, encharcada de niilismo está presente, seja na citação de Chuck Pallaniuk, retirada do antológico “Clube da Luta”, ou na Estátua da Liberdade desiludida e destituída de sua simbologia, dando um explícito fuck you ao abandonar a Ilha de Ellis. Ou ainda na referência ao extremismo conservador dentro da sociedade americana pelos três “k”‘s presentes no título do álbum. Uma franca associação ao preconceito da Ku Klux Klan.
Numa mesma arte ele acusa a liderança da nação norte-americana de imperialista, extremista e preconceituosa!
Claro que aquela psicodelia agressiva amarrada à sonoridade da banda está presente. Mas longe das formas odiosas que ajudaram a conjurar álbuns como “Psalm 9” (1992), na esteira da insanidade de “The Mind Is A Terrible Thing to Taste” (1989).
Aquele tempero mais infernal era reflexo do abuso de drogas de Jourgensen, o mesmo abuso que criou uma instabilidade na discografia da banda à partir da segunda metade dos anos 1990. Ou seja, esse verniz psicodélico/industrial/eletrônico não significa garantia de qualidade para “Amerikkkant”.
Por outro lado, a limpeza do vício de heroína e a entrada de George W. Bush na presidência dos E.U.A. nos deu uma sequência de álbuns irrepreensíveis: “Houses of the Mole” (2004), “Rio Grande Blood” (2006) e “The Last Sucker” (2007), formavam a conhecida Trilogia Bush, e nos davam a dica de que um político como Bush liderando os E.U.A. era um gerador de energia, revolta, e criatividade da Al.
Se Bush foi o motivador das últimas grandes obras da carreira do Ministry, há de se pensar que Donald Trump (uma versão mais pomposa e menos letrada de Bush) tenha o mesmo poder que Bush, neste caso para impulsionar a contestação musical perpetrada pelo Ministry.
“Amerikkkant” é sim um manisfesto anti-Trump sarcástico, sujo, cheio de samples, provocações e engajamento político, emoldurado por metal moderno, texturas eletrônicas e peso, sendo também uma clara tentativa de renovar o legado musical de Al Jourgensen, dialogando com seus elementos musicais mais eficientes.
Mas e aí? O Ministry acertou ou não a mão neste disco?
Já no primeiro contato que temos com “Amerikkkant”, na abertura com “I Know Words”, a viagem lisérgica está presente entre colagens e efeitos eletrônicos bem alocadoss, criando um clima distópico para “Twilight Zone” entrar com sua pulsação industrial bem marcada, mostrando que estes sons de revolta estão mais cadenciados, viajantes, perspicazes e maduros. Mais incômodos, provocativos e distópicos do que agressivos, iracundos e brutais.
As batidas ainda são frias e matemáticas, mas longe do ritmo metralhado de outrora e a produção potencializou a sensação de pesadelo, ou bad trip, em detrimento da aspereza e sujeira que viraram marcas registradas da sonoridade do Ministry.
É fato que as guitarras estão mais discretas, tanto em volume quanto em peso, e a sonoridade esta longe da forma crua e pujante.
Junte isso ao fato de também divagarem por longas, viajantes e tortuosas passagens eletro/industriais, variando texturas, velocidades e peso, e não há como negar que existe um viés progressivo em “Amerikkkant”.
Após “Victims of a Clown” (com um desfecho pesadíssimo), que traz linhas melódicas envolventes, linhas de vozes imperativas e “refrão” marcante, que se segue a “Twilight Zone”, não há como fechar os olhos (ou seriam os ouvidos?) a este fato. O desfecho com a introspectiva faixa título só vem confirmar ainda mais essa impressão progressiva.
Ao mesmo tempo o Ministry apresenta uma instrumentação interessante (existem gaitas, violinos e naipe de metais texturizados trovejando pela chuva de samples), transformando a visão de mundo de Jourgensen em uma música industrial cinzenta, fria, e madura em suas críticas que se amplificam de Trump para o conservadorismo e a desesperança da sociedade norte-americana.
Todavia, é na segunda parte do repertório que estão os melhores momentos do álbum! Justamente aqueles mais diretos, com faixas não tão longas.
Podemos até ver como a proposta de “The Mind Is A Terrible Thing to Taste” (1989) seria reconstituída com as ferramentas de hoje, afinal a dobradinha “TV5/4Chan”/“We’re Tired of It” invoca os demônios eletro-industriais daquele clássico disco, mesmo que, no geral, “Amerikkkant soe como uma fusão de “The Land of Rape and Honey” (1988) e “Filth Pig” (1996).
“We’re Tired of It” é um thrash metal com texturas industriais, e obviamente a melhor do trabalho ao lado da climática e belicosa “Wargasm”. Completam essa parte do disco, “Antifa” (com o DNA do Minsitry) e a robótica “Game Over” (que fecha, ao lado de “We’re Tired of It” e “Wargasm”, o tripé de destaques que sustenta a viagem psicodelico-industrial de “Amerikkkant”).
Enfim, respondendo a pergunta quanto a qualidade deste álbum, confesso que Al se saiu melhor no conceito lírico do que no aspecto musical. Porém, posso dizer também que “Amerikkkant” tem mais acertos do que erros, e mesmo estando longe dos clássicos da discografia, é um bom álbum de uma versão menos impetuosa do Ministry.
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