De tempos em tempos temos projetos audaciosos dentro da música nacional, que sobressaem pela qualidade e pela excelência criativa. “Anunnaki – Mensageiros do Vento”, é um dos mais recentes e bem vindos dentre estes casos.
Os Anunnakis são um grupo de divindades sumérias e babilônicas que deram um forte impulso à teria dos deuses astronautas, de Erich Von Daniken, e principalmente de Zecharia Sitchin, onde apresentavam uma perspectiva para a gênese humana.
Em sua obra que merece ser lida, Zecharia Sitchin afirma que os elohim bíblicos eram os Anunnakis que vieram à Terra do planeta Nibiru, e que o DNA dos hominídeos aqui presentes foi modificado com o acréscimo dos genes dos Anunakis.
Partindo deste conceito, nasce a rock opera “Anunnaki – Mensageiros do Vento” concebida como um desenho animado.
Só pelo fato de amarrar diferentes formas de arte, este material já coleciona muitos pontos positivos, mas a criatividade e a riqueza do produto final guarda surpresas mais do que interessantes àqueles que mergulharem no trabalho.
O projeto que frutificou em “Anunnaki – Mensageiros do Vento” foi patrocinado pela Secretária de Cultura da Bahia, e ao longo das vinte e oito faixas, também disponíveis num CD duplo, temos uma história bem amarrada à mitologia dos Anunnakis.
Musicalmente trazem todo o senso épico e dramático que o formato pede.
Temos uma ópera-rock com traços progressivos (mais proeminentes em “Babel”), mesclando texturas e intensidades numa instrumentação que se desdobra entre o metal tradicional e o hard rock, baseada nos contrastes para construir emoções presentes na narrativa épica.
Tudo muito bem trabalhado em estúdio, forma orgânica e vibrante.
Destaque ao trabalho das guitarras no instrumental, que percorre um espectro vasto de timbragens e pesos para descrever emoções e intensificar sentimentos.
Como bem pede o tema, elas desenham arabescos e orientalismos bem diluídos nas melódias épicas e dramáticas construídas por riffs empolgantes e solos precisos (como em “Mensageiro do Criador”, “Humana Experiência”, e “Crônicas de Nibiru”, por exemplo).
Um exemplo claro de como as guitarras são peça-chave no resultado final pode ser observado em faixas como “Eridu” e “Paraíso Perdido” onde o contraste de instrumentos acústicos e eletrificados espelham a dualidade entre sentimentos ternos e tormentas.
Capitaneando o ousado – e pioneiro no Brasil – projeto, temos Fabrício Barretto (voz e guitarra – responsável por todas as artes da animação) e Fábio Shiva (baixo), dois ex-membros do Imago Mortis que ajudaram a dar luz ao clássico “Vida: The Play of Change” (2002), um dos maiores discos da história do metal nacional.
Completando a formação da banda Mensageiros do Vento temos Julio Caldas (guitarra) e Thiago Andrade (bateria).
Muitas participações especiais de artistas convidados abrilhantam ainda mais a trilha sonora: Luciano Campos, Carlos Lopes, Tassio Bacelar, Kiko Souza, José Rios, Kekedy Lucie e Eneida Lima.
A produção artística de “Anunnaki – Mensageiros do Vento” fica à cargo de Richard Meyer, enquanto a produção executiva é de Analu Franca.
Destacar momentos num trabalho tão uniforme e interligado como “Anunnaki – Mensageiros do Vento” é complicado, pois ele deveria ser absorvido como um todo.
Todavia, “A Criação de Adamu” e “Inanna e Dumuzi” podem ser enaltecidas pela forma como a voz feminina é utilizada dentro do contexto musical e narrativo, assim como “Viagem à Lua” traz um detalhe de saxofone instigante.
A animação presente no DVD pode até ser encarada como simples se você não está acostumado a graphic novels ou animações alternativas, mas a dinâmica um tanto rígida, junto as inspirações na arte suméria, traçam uma personalidade forte à estética visual de “Anunnaki – Mensageiros do Vento”, até mais forte do que a musical.
Se eu pudesse oferecer um único porém ao trabalho, este seria destinado à dificuldade de acompanhar o “quem-é-quem” dos personagens se você já não está habituado com a mitologia de Nibiru, o que pode tornar tudo um tanto confuso se você não tem o encarte do CD em mãos, que trazem as falas designadas aos personagens.
Ou seja, vale a pena ter tanto o CD duplo quanto o DVD para absorver toda a excelência de “Anunnaki – Mensageiros do Vento”.
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