Era esse o disco que eu esperava em 2017!
Um conjunto de músicas que ousasse, que experimentasse ao nível de levar um gênero mais rígido para um patamar exploratório. Que arrepiasse, mas também colocasse o ouvinte para pensar, tirando-o de sua zona de conforto. Que fosse criativo e envolvente, mas altamente artístico…
“Ars Arcanvm Vodvm”, álbum que satisfaz estas expectativas, é o primeiro da banda Le Chant Noir, formada por membros do Patria, Mysteriis e Ancient. Nascido em 2016, o projeto, liderado Lord Kaiaphas (ex-Ancient/ Thokkian Vortex), Malphas (Mysteriis) e Mantus (Patria/ Mysteriis), vem com o objetivo de mergulhar no brutal e causticante escopo do Black/Death Metal, elementos diferenciados de música erudita (à cargo da Noir Royal Philharmonic Orchestra), progressiva, bem como nuances de Rock/Metal.
Intuito atingido com louvor e criatividade, sem medo de arriscar em texturas mais experimentais ou passagens viajantes, bem como salpicar detalhes diferenciados por uma instrumentação nada usual ao Black/Death Metal (ouça “Unleash in Dementia” e perceba como o gênero aqui tem até pinceladas de New Wave nos teclados), com uso de tímpanos, marimbas, vibrafone de afins, por vezes resvalando no Avant-Garde (confira “Portal Overture”), numa fórmula que não fará deste trabalho de fácil assimilação.
E a própria introdução já te coloca neste clima de arranjos trabalhados, contrapondo melodia com profanações harmônicas, abrindo espaço para “Forsaken Ghosts” com seu andamento inicial tipicamente erudito desaguando num diferenciado Heavy Metal de seção rítmica tribal, guitarras de espírito roqueiro e donas de melodias cativantes, além de vocais oscilando das texturas Black/Gothic para a rispidez inerente ao gênero, como acontecerá de modo ainda mais grandioso em “My Elder’s Cry”.
Confira a faixa “Wormslayer”… [youtube https://www.youtube.com/watch?v=RQ-LRSm8p90&w=560&h=315]
Por aí já percebemos que a coisa será bem diferente do que costumam praticar os nomes envolvidos em suas bandas originais, sendo impossível até mesmo classificar o que acontece nestas composições brilhantemente produzidas.
De fato, não é algo trivial, e muito menos de fácil assimilação, pois a sobreposição de texturas, gêneros e abordagens segue o padrão progressivo e, neste sentido, “Bedevilded By Tchort” é um ótimo resumo desta proposta de entrelace de estilos, numa faixa que até tangencia o Metal Clássico.
As melodias são sombrias, e também existe uma alta dose de agressividade, mas é moderno, altamente experimental, e brilhante. “Wormslayer”, por exemplo, é melancólica, densa e cativante, num Avant-Garde obscuro e climático, como um magma amorfo e movediço do Black Metal sinfônico, enquanto “The Luciferian Whetstone” e “Outro” soam como trilhas sonoras de filme de terror.
Ou seja, temos uma musicalidade refinada e de construção engenhosa, com vocais versáteis de Lord Kaiaphas. Mas não pense que eles se privam do peso, da velocidade e da rispidez do Black Metal, e faixas como “Cabaret de L’Enfer” e “Ars Arcanum Vodum” (uma das mais destacáveis do álbum, com backing vocals sombrios) confirmam isso.
Confira a faixa “Forsaken Ghosts”… [youtube https://www.youtube.com/watch?v=8AQOKgNX4uQ&w=560&h=315]
“Ars Arcanvm Vodvm” é um álbum dotado de vida própria, expressando fúria ou deleite de modo investigativo, numa variedade infinita de nuances e diferenças. Trata-se de uma obra de arte, que leva o Black Metal a um patamar ainda mais reverente, nos transmitindo de imediato um sentimento de força e poder.
Além disso, não espere que estas composições lhe digam a mesma coisa em sucessivas audições.
Um dos grandes álbuns do ano!
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