É inegável que o King Crimson se desenvolve em torno do gênio Robert Fripp, que já se mostrava ousado e alternativo, muito antes do termo alternativo ser construído como gênero roqueiro.
O músico influenciou nomes que vão de Kurt Cobain a Mikael Åkerfeldt (basta ver os mais recentes álbuns do Opeth), além de participar de discos de David Bowie e Peter Gabriel.
Seu King Crimson é uma banda reverenciada pelas estrelas neo-progressivas contemporâneas do Tool e The Mars Volta, muito por uma discografia de alta qualidade, principalmente em sua primeira fase.
O que a banda criou, à partir do clássico “In the Court of the Crimson King” (1969) até “Red” (1974), não tem paralelo dentro da música progressiva, em volume e qualidade. Sempre ousado, inventivo, inteligente, exploratório e experimental, o King Crimson nunca se privou de estar na vanguarda da música moderna.
Por isso, elegemos cinco, dentre as quase duas dezenas de álbuns lançados pela banda, para o leitor se iniciar no mundo musical do King Crimson.
1) “In the Court of the Crimson King” (1969)
Esse álbum é tão emblemático que costuma ser citado como o mais importante da história do Rock Progressivo.
Exagero ou não, a verdade é que ele é um divisor de águas dentro dos primórdios do estilo, situando-se na vanguarda do estilo naqueles dias, criando praticamente uma cartilha para a confecção do Progressivo que seria feito por Yes, Pink Floyd e Genesis.
O épico riff de “21st Century Schizoid Man” mostra claramente a inventividade de Robert Fripp que casava perfeitamente com a voz de Greg Lake, nome que brilha na bela e chorosa “Epitaph”, versando melancolicamente sobre o destino.
A ousadia deste trabalho advém da variação entre arabescos folk, improvisos jazzísticos, flautas e bateria apocalíptica, combinando Heavy Rock, Progressivo e Psicodelia.
2) “Larks’ Tongues in Aspic” (1973)
Neste álbum o King Crimson muda o rumo de sua música, em tonalidades mais experimentais e pesadas, saindo do formato fusion/progressivo, para algo mais Avant-Garde, com guitarras dissonantes e andamentos “matemáticos” preciosos, mesclando o tradicional jazz fusion, dos álbuns “Lizard” (1970) e “Islands” (1971), com ambient, Heavy Rock (como nos riffs sabáticos da faixa de abertura), flamejante sabor jam-session, melodias cadenciadas, pontuais momentos épicos e clima de trilha sonora de filme de terror.
Só as duas partes da faixa título, abrindo e fechando o trabalho já lhe valeria o posto de melhor trabalho do King Crimson, mas além de faixas brilhantes como “Book of Saturday” e “The Talking Drum”, temos a melhor formação da história da banda em um álbum, com o gênio Robert Fripp nas guitarras, John Wetton no baixo e vocais, David Cross na violino, viola e mellotron, Bill Bruford na bateria e Jamie Muir na percussão. Certamente um dos cinco melhores álbuns da história do Rock Progressivo.
3) “Starless and Bible Black” (1974)
Quiçá o mais obscuro álbum da discografia do King Crimson, “Starless and Bible Black” continua a escalada de inventividade , dedicação e exploração dentro da música progressiva.
Porém de modo mais melancólico e sombrio, estudando as imperfeições da música, e a incompletude da geometria musical assimétrica com uma habilidade técnica assombrosa, combinada a uma climatização eletrônica emocionante, enquanto a melodia advém das linhas de violino, viola, guitarra e mellotron.
“The Night Watch” é uma das mais belas e negras peças que o Rock Progressivo forjou, seguida de perto dentro deste trabalho por “Lament”, “Fracture”, “The Mincer” e a faixa-título. Da formação que gravou “Larks’ Tongues in Aspic” (1973) “só” tivemos a baixa de Jamie Muir, mostrando, indubitavelmente, que esta era a melhor fase da banda, a ser confirmada no próximo trabalho, o elegante “Red” (1974)
4) “Red” (1974)
Ao contrário da assimetria do trabalho anterior, “Red” é mais coeso e elegante, num puro exercício de criatividade em cada um de seus detalhes.
Um trabalho inteligente, altamente progressivo e variado, que impactou nomes das gerações posteriores que vão de Kurt Cobain (há quem diga que este álbum foi a grande influência do grunge do Nirvana [!?!]) a Mikael Åkerfeldt (do Opeth).
“Starless”, a faixa que dá acordes finais a esta peça é uma das grandes preciosidades da história do rock e encerra uma das maiores formações que a música progressiva viu unida, que, mesmo desfalcada de David Cross, manteve a alta classe em conluio à ousadia técnica.
Após este álbum, Robert Fripp encerrou as atividades da banda, que se silenciaria por sete anos. Se este fosse seu capítulo final, seria em grande estilo e uma das grandes saídas de cena da música moderna.
Todavia, a banda voltaria nos anos 1980 ainda relevante e com sonoridade contextualizada.
5) “Discipline” (1981)
Os sete anos que o King Crimson ficou fora de cena mudaram o mundo música.
Neste ínterim, a música progressiva se tornou datada, o punk surgiu com força e se ramificou na New Wave, que abarcava nomes que iam de Duran Duran ao Talking Heads.
E é inegável que aqui, nestas faixas, existe toda a picardia progressiva do King Crimson mergulhada em influências New Wave, principalmente do Talking Heads, que trazia uma proposta musical interessantíssima dentro da comercialidade e acessibilidade do gênero.
Nas mãos de Fripp, Brufford e cia, a New Wave se transmutou em Art Rock, muito pela parcela de Tony Levin (baixista) e Adrian Belew (vocais e guitarras) que completam a formação da banda, dando todo o arcabouço técnico para a experimentação rítmica que Fripp tinha em mente, mas encaixada na tradição musical do King Crimson.
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Ouvindo musicas do Red na última noite. Mais uma bela resenha.