“IX” é o álbum de estréia da banda Host, um projeto que funde electropop com gothic rock feito por membros da lendária banda de heavy metal britânica Paradise Lost. Uma obra-prima moderna da música.
Em 24 de fevereiro de 2023 o álbum de estreia do HOST, initulado “IX” , foi lançado. Composto pelas lendas do Paradise Lost, Greg Mackintosh e Nick Holmes, o HOST é uma homenagem ao álbum homônimo lançado pela banda britânica em 1999. Abaixo, você confere nossa resenha completa deste disco lançado no Brasil pela parceria entre os selos Shinigami Records e Nuclear Blast.
Em 1999, o Paradise Lost tinha ido da promessa de ser o novo Metallica, conforme alguns críticos diziam após o clássico “Draconian Times”, à decepção entre os fãs e críticos mais radicais pelo experimental “Host”, um disco que recriava as influências frias de Depeche Mode, New Order, Kraftwerk e Dead Can Dance pela estética do gothic metal que eles ajudaram a criar ao longo daquela década.
O álbum “Host” cruzou as fronteiras da ousadia e chegou a chocar os fãs, pois não mascararam a mudança e nem disfarçaram as influências de pop rock. O peso, as melodias arrastadas do doom metal e as texturas góticas do Paradise Lost foram amainadas. Os vocais guturais abandonados. Os cabelos ficaram mais curtos e os teclados ganharam o primeiro plano em melodias que passaram da abordagem pesada e depressiva para o tom confortavelmente melancólico, e mais experimental. Naquela época, independente da boa música que faziam, o Paradise Lost se tornou um traidor dentro do ensimesmado e imaturo mundo do heavy metal.
Atualmente, a banda inglesa vive sua melhor fase, tendo criado uma musicalidade plural, mas bem definida. Tanto que quando Greg Mackintosh e Nick Holmes, os principais compositores do Paraside Lost, quiseram experimentar novamente as texturas frias e os climas sombrios inspirados pelas bandas oitentistas de electropop criaram um novo projeto intitulado justamente HOST. O próprio Greg assumiu em entrevista que o desejo de recriar este tipo de musicalidade veio do processo de remasterização do álbum “Host”, do Paradise Lost.
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O primeiro trabalho do HOST, intitulado “IX”, chega com nove faixas no tracklist original e doze na vesão nacional por causa das faixas bônus, e obviamente muito inspirado na musicalidade dos anos 1980. Uma mistura óbvia de “Music For The Masses” e “Violator”, do Depeche Mode, com o New Order da era-“Substance”, pincelada por doses homeopáticas do gothic rock oitentista, além da própria personalidade musical do Paradise Lost. Pense num repertório para ser tocado na íntegra num moderno baile de máscaras no castelo do Conde Drácula.
Faixas como “Tomorrow’s Skies” e “Divine Emotion” mostram exatamente essa atualização e a definição de uma personalidade própria partindo de referências bem definidas. Enquanto a primeiro atualiza o electropop oitentista, a segunda é outra belíssima, fria e introspectiva canção com ótima letra. Ambas possuem melodias envolventes e arranjos inspirados, ousados, imprevisíveis e talhados aos detalhes.
Estas duas faixas são dois dos maiores destaques do disco e junto com “Troubled Mind” (que esbarra na frieza do Kraftwerk) e “My Only Escape” são as provas mais evidentes de que o HOST conseguiu criar uma musicalidade nada datada. O trabalho em estúdio é irrepreesível para capturar as timbragens frias e estéreis do electropop e do dark wave e efetuar esta fusão de estilos pelo fogo da modernidade, seja nas timbragens, mas também na abordagens, desdobramentos melódicos e letras.
Aliás, as letras olham para dentro da condição humana, falando sobre amor, mortalidade e emoções conflitantes. Mesmo que algumas destas letras sejam repetitivas, isso também reflete a música, porque muitas das estruturas instrumentais usam a repetição como ponto focal. Ouso dizer que “IX” possui uma personalidade mais segura e melhor definida que o próprio álbumm “Host”, do Paradise Lost, podendo ser visto apenas como uma continuação conceitual, pois, musicalmente, “IX” é brilhante no desenvolvimento do conceito, principalmente na construção melódica dos refrãos, que são todos inesquecíveis.
Um dos maiores destaques de “IX” é “Wreched Soul”. Esta faixa abre o trabalho com um contraste instigante entre timbragens eletrônicas e orgânicas na musicalidade melancólica, sendo, junto com “Hiding From Tomorrow” (com ótimo trabalho de bateria de Jaime Gomez Arellano, o produtor do trabalho), uma versão de como poderia ser o Paradise Lost se tivesse seguido pelo caminho proposto pelo álbum “Host” (1999).
As guitarras aparecem na musicalidade do HOST de forma discreta, climática, numa ambientação etérea, como podemos percebem em “My Only Escape”. Mas em “Years of Suspicion” as mesmas guitarras já surgem com riffs que são os grandes protagonistas dentro do arranjo desta que é uma das melhores faixas do disco, com tom épico e clima tenso. Para falar friamente, apenas “Inquisition” é uma faixa pouco abaixo do adjetivo genial.
Mas logo “Instinct” e, principalment, “I Ran” chega com o brilhantismo de uma faixa que certamente seria um hit nos anos 1980. Opa! Ela é um hit do A Flock of Seagulls que foi retrabalhada de tal forma pelo duo Mackintosh/Holmes que o HOST pode reclamar que “pai é quem cuida”, pois a introdução lembrando “Cry Little Sister”, clássico da trilha sonora do filme “Gorotos Perdidos”, e o solo de guitarra vibrante deram um novo sabor a esta ótima composição. Confesso que fiquei curioso para saber o que HOST faria com alguma das músicas do Orchestral Manoeuvres in the Dark.
Enfim, “IX” traz a musicalidade eletrôica para as sombras da melancolia, para o mistério sinistro do gótico, seja pop, seja rock ou heavy metal. Além disso, fica claro que a dupla Greg Mackintosh e Nick Holmes estudou com atenção os movimentos melódicos e os detalhes mais acertivos da musicalidade do electropop e do dark wave, principalmente do Depeche Mode. Até por isso, as sete primeiras músicas deste disco são obras-primas modernas do electropop, fazendo da primeira parte do trabalho perfeita.
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