Heavatar – Resenha de “Opus II: The Annihilation” (2018)

 

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Heavatar – “Opus II: The Annihilation” (2018, Shinigami Records, earMUSIC) NOTA:9,0

É fato que o heavy metal  e a música erudita já estão unidos nas mais diferentes formas. Seja na estruturação complexa e sinfônica do prog rock/metal, ou na pompa régia do power metal, e até mesmo nos amálgamas com mais presença da música clássica, como nos casos do Apocalyptica e do Van Canto.

E justamente do Van Canto que surgiu o Heavatar, afinal, Stefan Schimdt, mentor intelectual do Heavatar, é oriundo do Van Canto, grupo que causou certo frisson na cena metálica pela proposta diferenciada  de fazer o heavy metal acapela, por mais dicotômicas que as naturezas abordadas possam parecer.

Voltando um pouco no tempo, e analisando a história da música, vemos que as múltiplas facetas da música clássica (sinfonias, óperas, concertos, etc) não são assim tão distantes do heavy/power metal. Talvez a única coisa que separe as pedras fundamentais de tais gêneros seja a eletricidade.

Mozart, por exemplo, tinha um estilo de vida altamente rock n’ roll, com excessos e agitada vida social. Além disso, Wolfgang Amadeus Mozart primava por explosões viscerais, virtuose e feeling, além de passagens dramáticas em suas composições.

Assim como Beethoven, outro dentre os grandes compositores da música clássica. Mas no caso de Ludwig Van Beethoven a energia estava fluindo por movimentos efusivos, complexos e quase celestiais.

Ou diabólicos, afinal Beethoven inseriu em sua Quinta Sinfonia (base para a faixa-título deste álbum) o trítono, um artificio que confere tensão à música, e também, serviu de base para o heavy metal, sendo referenciado como diabolus in musica.

E por falar em requinte celestial não podemos esquecer de Bach, um virtuoso, assim como Paganini  e Vivaldi, estes dois últimos claras influências de guitarristas como Yngwie Malmsteen, Steve Vai e Wolf Hoffman, além de gêneros inteiros como o power metal.

O apreço pela grandiosidade, pela assinatura irregular de tempos, ritmos e polirritmos de alta técnica, e até a larga habilidade dos músicos que praticam tanto o heavy metal quanto a música clássica, foram elementos que levaram Stefan a uma questão interessante e, em 2012, a fundar o Heavatar: “Como soaria se Beethoven, Mozart, Chopin e amigos se juntassem a uma banda de metal?” 

A resposta gerou um conceito onde Stefan empunha a guitarra de sete cordas e cuida das linhas vocais, sendo a ideia do Heavatar construir suas composições à partir da música clássica, mas escrevendo-as pelo peso do heavy/power metal. 

O que mais chama a atenção em “Opus II: The Annihilation”, já segundo disco do Heavatar, é que a música clássica não serve de adorno, ou pano de fundo para as composições que possuem a vibração de uma banda de heavy/power metal, parecendo que tudo o que está registrado aqui pode ser tocado ao vivo.

Além disso, a música clássica está tão diluída nas bases pesadas e nos refrãos marcantes que só os ouvidos mais treinados irão se atentar a certas referências.

“Opus II: The Annihilation” também traz excertos conhecidos das peças originais da música clássica bem encaixados aos arranjos próprios, extrapolando a simples inspiração.

Fatos que, junto a contundência do heavy metal de “Opus II: The Annihilation”, vem da formação experiente, completada por  Jörg Michael (ex Stratovarius, e o grande destaque individual pela versatilidade no alicerce das composições), Sebastian Scharf (guitarra), Daniel Wicke (baixo), além do próprio  Stefan Schimdt (guitarra e vocal).

Ou seja, fica claro que a proposta do Heavatar é justamente retrabalhar os padrões complexos da música clássica, dialogando com seus compositores mais ilustres, como os já citados Mozart, Beethoven, Chopin, e o virtuoso Paganini.

Chopin, por exemplo, claramente inspirou a pesada “Hijacked By Unicorns” (com groove irresistível), e existe a marca de Beethoven em “The Annihilation”. 

Já “None Shall Sleep”, a abertura, foi trabalhada à partir de uma ópera de Puccini (mas sem pompa e com muita adrenalina nos riffs), enquanto Vivaldi mostra sua herança em “Into Doom” (altamente técnica e melódica).

Estas composições, junto com “The Look Inside” (um épico dividido em quatro faixas, com banda, vocais femininos, e instrumentação diferenciada, que possui uma versão extra, com orquestra), são os melhores momentos de “Opus II: The Annihilation”.

Mas não se engane pensando que teremos apenas o preciosismo complexo da música clássica, pois o Heavatar os veste pelo peso moderno, cheio de adrenalina, do power metal e do thrash metal, exatamente “como se  Beethoven, Mozart, Chopin e amigos se juntassem a uma banda de metal”.

Também não se engane pensando que o Heavatar faz em “Opus II: The Annihilation” releituras de música clássica pelo power metal, como Wolf Hoffman fez em seus dois álbuns solo.

Aqui, heavy metal música clássica estão misturados e costurados com precisão cirúrgica, numa miríade de texturas, pesos, velocidades e emoções retiradas do fascínio gerado pelo erudito desenhado por tintas populares.

Os corais (feitos pelo pessoal do Van Canto) conferem o tom épico de “Opus II: The Annihilation”, e junto aos refrãos bem azeitados e as melodias agressivas desenhadas pelas guitarras, são os elementos que dão maior poder de cativar destas novas faixas se compararmos ao primeiro trabalho do Heavatar.

Partindo da estrutura da música clássica, a banda gerou um heavy metal técnico, criativo, sem pompa e nada de pretensão, sendo uma divertida forma de reescrever padrões eruditos com ganhos certeiros, que funciona bem, e que empolga no geral.

Senhoras e senhores, uma salva de palmas para  o Heavatar!

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