“Logan” (2017) | Resenha de Filme

 

Logan é um filme de 2017, dirigido por James Mangold, com base no personagem da Marvel Comics, Wolverine e marca a aposentadoria de Hugh Jackman no papel que o consagrou.

Abaixo você lê a resenha feita pelo nosso colaborador Ricardo Leite Costa.

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“Logan” marca a aposentadoria de Hugh Jackman no papel que o consagrou. Foram nove filmes no total, estabelecendo um recorde: o personagem interpretado mais vezes no cinema pelo mesmo ator. Realmente, quando falamos em Logan, automaticamente lembramos de sua personalidade mais inflamada, selvagem, no caso, o Wolverine.

O mutante mais querido e carismático do universo Marvel teve boas incursões cinematográficas, graças em boa parte ao talento de Jackman na entrega ao papel, porém, em todas elas faltava aquela explosão de fúria e intensidade tão peculiar ao baixinho cascudo. Era um Wolverine cavalheiro, que mal proferia palavrões e que jamais arrancaria a cabeça de um malfeitor. A extremidade do caráter do personagem nunca havia sido exposta de fato. Muito se falava de um longa onde pudéssemos vivenciar o real Wolverine. Aquele que aprendemos a amar e a odiar em igual proporção, e esse dia chegou…

“Logan” é um filme de extremos. Primeiramente, se você for assisti-lo com a ideia pré-concebida de se tratar de um filme de herói, vai cair do cavalo. O filme não trata do X man Wolverine e de como, juntamente com sua equipe de mutantes evoluídos e poderosos, ele vai salvar o mundo da ameaça mais tenebrosa. “Logan”, como o próprio nome diz, foca no homem, que tem fraquezas, dúvidas, erra e, principalmente, sucumbe como qualquer outro.

O filme é baseado (ainda que sutilmente) nos quadrinhos “O Velho Logan” (The Old Man Logan, de 2008), onde a ação se passa em 2029, num futuro em que a espécie mutante foi praticamente extinta. Nesse cenário quase pós-apocalíptico, temos um envelhecido Logan (Hugh Jackman) que vive como motorista de limousine, tentando levar uma vida aparentemente normal.

Além de seus afazeres triviais, ele ainda cuida de um debilitado e atormentado Charles Xavier (Patrick Stuart), que é portador de Alzheimer. Ambos vivem refugiados em uma antiga siderúrgica abandonada na fronteira do México com os Estados Unidos, juntamente com Caliban (Stephen Merchant), um mutante albino com poder de rastrear outros mutantes, e que ajuda Logan a cuidar de Xavier.

Nesse ambiente de total desolação, vivendo uma angústia e um conflito interno implacáveis, nosso herói se mete em uma enrascada quando uma misteriosa mulher, Gabriela (Elizabeth Rodriguez), pede sua ajuda. Fisicamente e emocionalmente esgotado, Logan não tem interesse algum em voltar à ativa, mas involuntariamente acaba envolvido em algo que não imaginava.

A narrativa, apesar de ser um filme de quase duas horas e meia de duração, é bem dinâmica, sem perder muito tempo em desenvolvimentos desnecessários e focando primordialmente no conceito da trama, que não tem também muitas “mirabolâncias”, indo direto ao foco. A partir do momento que surge Laura (Dafne Keen), pivô central de toda a história, o ritmo torna-se intenso e violento, mas muito violento.

Laura é uma mutante criada em laboratório a partir do DNA de Logan, portanto, possuidora dos mesmos poderes, porém, enquanto Logan está com seu fator de cura seriamente comprometido, o de Laura é avançadíssimo. A garota está sendo caçada por um grupo de mercenários (os Carniceiros), e cabe a Logan a tarefa de ajudá-la a escapar em segurança.

Logan : Foto Dafne Keen
Dafne Keen, em seu primeiro papel no cinema, se mostrou a escolha perfeita no papel de uma Laura perturbada, agressiva e próxima da selvageria absoluta. Uma autêntica “besta” recolhida em um frágil corpo de criança.

Durante o desenrolar da trama, é visível a decadência crescente de Logan. Além dos poderes que já não são mais os mesmos, Logan é um sujeito sem esperanças, que perdeu há muito tempo a fé na humanidade (ainda mais sendo ele uma vítima de experimentos tão traumáticos); em contrapartida, todo esse esgotamento físico e mental, por assim dizer, é convertido em ódio, e aquela fera enclausurada é posta em liberdade e, meus amigos, o banho de sangue é abundante.

Tudo aquilo que você não viu nos filmes anteriores é visto aqui. James Mangold (diretor) não teve medo de expor a dura realidade dos personagens na tela. As cenas de combate e as coreografias de lutas são impecáveis e gráficas. A sonoplastia faz você sentir as garras rasgando a sua carne. Os efeitos especiais não abusam da computação gráfica, tornando tudo muito mais verossímil.

Em “Logan” você vai presenciar decapitações, amputações, eviscerações, e vai achar sensacional, claro, se for um real fã do personagem. Do contrário, vai sentir algum desconforto gástrico e não vai ver muito sentido nisso tudo.

O roteiro foi muito bem construído e toda a “liberdade poética” que temos aqui não atrapalha e nem descaracteriza sumariamente a história original. “Logan” tem sequências de ação eletrizantes, porém, trata-se muito mais de um drama misturado com faroeste moderno. A trajetória dos personagens é muito sofrida, dificultada pela ambientação inóspita, desértica (pelo menos em boa parte da trama), que não raro fará o espectador se solidarizar com eles.

Logan : Foto Hugh Jackman
Hugh Jackman mais uma vez encarna com perfeição Wolverine, e deu o sangue no encerramento de sua saga.

O desafio de criar uma história baseada em uma “grafic novel” conceituada, e sem temer críticas por causa das discrepâncias e da bagunça cronológica dá ainda mais mérito ao diretor James Mangold e sua obra. Hugh Jackman mais uma vez encarna com perfeição Wolverine, e deu o sangue no encerramento de sua saga.

Em entrevista recente, Jackman disse que, para dar mais veracidade a sua aparência de velho e cansado, ele utilizou lentes de contato próprias, que deixavam seu olhar com aspecto sofrido, além de usar uma pedra no sapato para tornar a claudicação muito mais convincente. Dafne Keen, em seu primeiro papel no cinema, se mostrou a escolha perfeita no papel de uma Laura perturbada, agressiva e próxima da selvageria absoluta. Uma autêntica “besta” recolhida em um frágil corpo de criança.

“Logan” é um encerramento digno, o descanso merecido (pelo menos por enquanto) de um dos personagens mais emblemáticos das HQ’s. Resta saber se algum outro autor o interpretará com tamanha propriedade em uma outra série de filmes, ou ainda: se teremos um filme solo da Laura/X-23. Bom, só nos resta esperar.

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