Neste artigo falamos sobre o artista Derek Riggs, o homem por trás das capas dos álbuns do Iron Maiden e da criação da mascote Eddie.
Os fãs de heavy metal, em especial da banda britânica Iron Maiden, conhecem bem o trabalho de Derek Riggs. Pelo menos no que tange a bandas deste segmento musical. Nascido no dia 3 de fevereiro de 1958, em Portsmouth, na Inglaterra, Derek ficou conhecido por seu trabalho como desenhista e designer, especialmente por ilustrar as capas de alguns dos clássicos do Heavy Metal, produzidos pelas bandas Dream Theater, Gamma Ray, Stratovarius e Bruce Dickinson, além do já citado Iron Maiden.
O maior trabalho comercial de Derek Riggs certamente é a mascote Eddie, marca registrada da cultura do heavy metal e símbolo da banda Iron Maiden. Conhecido como o Mikey Mouse do heavy metal, Eddie é a grande obra de Riggs que em certa entrevista chegou a dizer que: “Assim que terminei a primeira figura do Eddie, eu encostei na cadeira e pensei ‘esse desenho vai me fazer rico e famoso’… e então eu pensei ‘não seja idiota’, e fui pegar um café.”
Quando questionado sobre suas influências, Derek Riggs afirmou ser influenciado por todo tipo de arte, desde arte renascentista até arte do século XX e surrealismo. “Também gosto de arte abstrata e cubismo (Picasso e Braque). Então eu gosto da arte em quadrinhos de Jack Kirby e Berni Wrightson e a arte da capa do álbum de Roger Dean. Eu estava em tudo realmente, a lista continua e continua”, afirmou ele.
Derek Riggs Ilustrou os Maiores Clássicos do Iron Maiden
As obras que mais gosto do designer britânico são aqueles desenvolvidos para uma das maiores bandas de Heavy Metal da história, o Iron Maiden, mas não necessariamente as que estamparam as capas dos álbuns, muito pelo contrário. Nos primórdios da banda inglesa, Derek fez a seguinte ilustração:
Este desenho que estampou o segundo single da banda causou polêmica. Nele, a Dama de Ferro, Margaret Tatcher, é assassinada por Eddie à facadas. O single de “Sanctuary” foi lançando originalmente em 23 de maio de 1980. A música foi incluída no primeiro álbum da banda somente nos EUA, já na Europa a música não estava incluída.
A imagem acabou causando uma pequena agitação da mídia local. Na maioria das cópias originais do single, Thatcher aparece com uma tarja preta nos olhos, porque a capa original (extremamente rara), foi considerada ofensiva. A repercussão foi tamanha que houve até uma resposta mostrada na figura abaixo, onde Eddie é aguardado pela Primeira Ministra Britânica numa emboscada.
Apresento a seguir mais algumas obras clássicas e as que mais gosto de Riggs para o Iron Maiden. A primeira delas é a genial obra que ilustra a capa de um de maiores clássicos de estúdio: “Somewhere In Time”.
Sobre a arte para este disco, em entrevista ao site metalsucks.com, Riggs lembrou que o pedido da banda foi: “Queremos uma cidade de ficção científica. Um pouco como Blade Runner”. E teceu um comentário ácido sobre esse pedido: “Porque eles simplesmente roubam coisas dos filmes, isso é tudo que eles fazem, . . . roubar ideias em vez de tentar algo original. Eu apenas tive o suficiente disso. . . Mas fiz o melhor que pude para tentar torná-los originais e injetar um pouco de vida neles.”
Já ao site bandmine.com Derek Riggs fez declarações interessante oferecendo mais curiosisdades dos bastidores da capa de “Somewhere In Time”: “Essa foto levou dois meses e meio para ser feita, eu me envolvi tanto com ela que depois de dois meses comecei a sonhar acordado sobre onde todas as pessoas iam e o que estavam fazendo, então tive que parar por uma semana para recuperar minhas bolas de gude. A imagem tem apenas 15 polegadas por 32 polegadas, o que não é muito maior do que o tamanho reproduzido. Ficou muito intenso.”
Ao site bandmine.com o artista ainda ofereceu uma curiosidade sobre a ilustração da banda na contra-capa: “Eu estava tentando fazer os retratos da banda, que são menores que o rosto de um selo postal. o escritório do Maiden me enviou algumas fotos da banda e a secretária disse “por que você pintou o Nico assim? não se parece com ele.” e eu disse “bem, parece com a foto que você me enviou” e ela disse “bom, eu te mandei uma foto antiga, ele não se parece mais com isso. “E eu fiquei tipo… por que diabos você enviou para mim se não parecia com ele?”
Já sobre esta próxima arte, que foi usada na capa do álbum “Powerslave” (1984), e em entrevista ao site metalsucks.com, Derek Riggs comentou sobre a criação deste trabalho: “[Eles me disseram] ‘Temos essa coisa egípcia e queremos Eddie como parte de uma pirâmide’, ou algo assim, e Steve Harris tinha essa gravura do século 18 de um cara arrastando a cabeça de Ramsés. E ele pensou que queria a cabeça de Eddie lá. Essa foi a ideia dele. Então os direitos autorais não estão nem nisso [risos]. Então eu meio que peguei a ideia egípcia e comecei a desenhar. . .”
Mas o próprio Riggs assumiu, na mesma entrevista, que a ideia da capa de “Piece of Mind” foi original, apesar de sua parcela como artista foi além de ilustrar a ideia de Steve Harris: “Steve Harris [líder da banda] teve a ideia original para esta foto. . . ele queria Eddie sentado no canto de uma cela acolchoada e parecendo muito louco. Então foi isso que eu pintei. Mas é ideia dele e por isso é uma composição ruim. Porque não artistas não podem compor imagens corretamente. Esta composição não é a forma como deve ser feita. Mas ele foi tão enfático sobre isso que eu fiz de qualquer maneira. Quando chegou a esse estágio, eles viram e perceberam que não estava realmente ótimo. Então eles me pediram para parar e fazer do meu jeito. que é a capa que você tem agora no disco”.
Estas são apenas algumas demonstrações do talento deste desenhista que marcou a história do heavy metal ilustrando discos e singles do Iron Maiden. Para visualizar a obra completa dele basta acessar o site do artista pelo link http://www.derekriggs.com/.
Derek Riggs Além do Iron Maiden
A primeira ilustração abaixo foi feita originalmente para estampar um lançamento do grupo Hawkwind, cuja temática se assemelha à capa do álbum “Levitation” (1980). Todavia, depois de não utilizada, foi vendida para a RCA e estampou a capa de “Nightflight”, do Budgie, importante banda do Reino Unido que influenciaria todo o Heavy Metal da década de 1980, em especial, e declaradamente, o Metallica. Neste álbum do Budgie, podemos destacar ótimas canções como “Apparatus”, “Change Your Ways”, e “I Turned to Stone”.
Em entrevista ao site bandmine.com Derek Riggs lembrou desta época: “Este não era originalmente um cover de Budgie, eu fiz isso para uma banda chamada Hawkwind. Eu estava trabalhando com o diretor de arte da CBS Records em Londres na década de 1970 e ele tinha as duas bandas em sua lista. Então eu descobri que Hawkwind não pagaria as pessoas para fazer arte para eles, eles usariam e não pagariam. Então eu vendi para Budgie em vez disso. Eu estava tentando fazer com que o hardware de ficção científica parecesse metálico, algo com o qual eu estava tendo problemas na época. Esta foi a primeira vez que eu realmente consegui que parecesse duro e brilhante.”
A partir daí, salvo por uma discutível ilustração no álbum “RX5” (1981), do guitarrista Alvin Lee, o trabalho de Riggs praticamente virou exclusividade das capas do Iron Maiden, se tornando até mesmo parte da mitologia da banda. Veríamos com destaque a arte de Riggs novamente fora de um trabalho do Iron Maiden em meados dos anos 1990, mas nem tal dissociado assim da banda britânica, afinal, ela estamparia um álbum da carreira solo de Bruce Dickinson, à época ex-vocalista da banda, que ainda trazia o também ex-Iron Maiden Adrian Smith nas seis cordas.
Neste contexto, a imagem acima foi uma das propostas para a capa de Accident Of Birth, de Bruce Dickinson. Porém, foi recusada de imediato pelo vocalista que escolheu a figura abaixo, que foi proibida em vários países, incluindo no Brasil.
Sobre o desenvolvimento deste trabalho, Derek Riggs afirmou ao site bandmine.com que: “Essa foto foi ideia de Bruce, era sua marionete saindo do peito de um homem gordo. Não é uma grande ideia. Na época eu estava tendo problemas com a pintura. As tintas são um pouco tóxicas e estavam me incomodando um pouco, também já estava farto de pintar. Foi logo depois disso que passei a fazer arte digital. Eu estava realmente farto de usar tinta. Eu tinha uma sala muito pequena para trabalhar e tive que escolher entre ter um cavalete ou um computador… então joguei o cavalete fora e usei o computador. A próxima foto era o boneco em uma cruz com um vitral atrás dele, e era totalmente digital. Isso foi logo depois que eu me livrei de todos os contratos com o Iron Maiden.”
À partir daí, Derek Riggs, artista já renomado, começou a espalhar sua arte pelas bandas de heavy metal, principalmente das que investiam em temas que envolviam ficção científica ou fantasia. Ou seja, seus trabalhos começaram a estampar lançamentos das maiores bandas de heavy/power metal.
Nesta época, um dos mais belos trabalhos do desenhista foi feito, e estampou um dos últimos clássicos do Gamma Ray, sendo ele responsável pela parte gráfica do irrepreensível “Powerplant”, lançado em 1998. Além desta imagem, o Gamma Ray ainda utilizou mais uma obra de Derek Riggs na capa de sua coletânea “Blast From The Past” (2000).
Já sobre o trabalho para o Gamma Ray, Derek Riggs lembrou ao site bandmine.com de uma situação engraçada quando lhe cobraram sobre como andava a ilustração: “Eu estava trabalhando na arte e na metade (cerca de duas semanas) a secretária me ligou e me perguntou como estava indo, então eu disse ‘bem, eu tenho o antigo templo em Marte e as estátuas gigantes egípcias feitas e as seis pirâmides voadoras estão no lugar e agora estou trabalhando na multidão de duzentos alienígenas rezando para fangface’. Ela meio que ficou um pouco quieta e então disse ‘bem, eu vou deixar você fazer isso então’. Eu podia realmente ouvir seu cérebro derretendo tentando absorver tudo.”
Neste mesmo período, Derek Riggs teve outro trabalho gráfico de destaque com a banda Stratovarius, que chegava ao topo de popularidade em último grande álbum lançado. Aqueles que já acompanhavam a cena metálica nos anos 1990 sabem da força que o Stratovarius teve naquela década, até o início da seguinte, quando, com o álbum “Infinite” (2000), a banda se tornaria ainda maior, tendo videoclipe veiculado na MTv.
As partes gráficas dos álbuns “Infinite”, “Elements part 1” (2003) e “Elements part 2” (2003), foram todas feitas por Riggs. Além destas, ainda destaco os trabalhos que ilustravam os discos-solo do guitarrista do Stratovarius e do Symfonia, Timo Tolki, e a capa para o grande álbum da banda Zonata.
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