The Dead Daisies – Resenha de “Burn It Down” (2018)

 

The Dead Daisies Burn It Down
The Dead Daisies: “Burn It Down” (2018, SPV, Shinigami Records) NOTA:9,5

A banda Dead Daisies é incansável!

São quatro discos de estúdio em cinco anos, mais um ao vivo, o sensacional Live & Louder(2017), que consolidaram-na como uma das bandas mais legais da atualidade.

Formada por um time de monstros do hard rock, o Dead Daisies apresenta “Burn It Down”, seu quarto álbum de estúdio, se destacando já pela capa que promete mais peso, adrenalina e intensidade nas novas composições.

Costumo acreditar que discos ao vivo e algumas coletâneas funcionam como demarcadores e pontos de transição para certas bandas. E ouvindo “Burn It Down”fica a sensação de que  “Live & Louder” (2017), foi exatamente este ponto de mudança do Dead Daisies.

Inclusive, as promessas de peso, adrenalina e intensidade são confirmadas quando o disco começa, principalmente pelas texturas sujas que acredito irão surpreender àqueles que achavam que o Dead Daisies não poderiam superar seu trabalho anterior, “Make Some Noise” (2016).

Numa abordagem mais intensa que outrora fica clara a mão do produtor Marti Frederikisen já na primeira faixa, “Ressurrrected”, onde vemos uma timbragem robusta e uma determinação furiosa nos vocais de John Corabi. Aliás, a voz “curtida em álcool e tabaco” de Corabi, deu uma personalidade ainda mais libertina e despojada à proposta empregada em  “Burn It Down”.

Sem dúvidas, após o fim do álbum, posso afirmar que  Marti foi capaz de conferir uma boa dose de potência à sonoridade marcante do Dead Daisies, bem como inserir climas certeiros com teclados pontuais.

Assusta, também, como a sonoridade criada neste álbum manipula uma musicalidade claramente retrô, mas ainda soando extremamente moderna e inserida em sua época, sem perder um pingo de identidade.

Nesse sentido, “Burn It Down” invoca memórias de bandas diferentes do classic rock, indo do Deep Purple ao Rolling Stones, ou do James Gang ao Van Halen, passando por Beatles, Black Sabbath, Aerosmith e até mesmo algo de Blackfoot, de uma forma natural, sem mimetismos, e com autoridade.

Ao contrário da lapidação de “Make Some Noise” (2016)“Burn It Down” consegue ter o mesmo senso criativo e aspecto multifacetado daquele trabalho, por uma vibe  mais áspera, sóbria, e grave, como se inspirada mais na crueza e melodia dos anos 1970 do que na magia afetada dos anos 1980.

Isso fica latente não só na segunda faixa, “Rise Up” (que busca melodias quase introspectivas no refrão, enquanto o peso de inspirações sabáticas confere a tônica heavy metal da composição), mas também em “Bitch”, uma versão de um clássico dos Rolling Stones, afinada ao hard rock e até tradicional dentro da discografia do Dead Daisies (assim como veremos em “Leave Me Alone”) se comparada às demais, só que visceral em suas formas sacanas herdadas da dupla Jagger/Richards.

The Dead Daisies Burn It Down
Ao contrário da lapidação de “Make Some Noise” (2016), “Burn It Down” consegue ter o mesmo senso criativo e aspecto multifacetado daquele trabalho, por uma vibe  mais áspera, sóbria, e grave, como se inspirada mais na crueza e melodia dos anos 1970 do que na magia afetada dos anos 1980.

Ou seja, o sabor old school está acentuado na receita musical revigorada pelas guitarras mais cruas, e pelas passagens com groove pesado perfuradas por linhas de guitarras mais incisivas e cortantes.

E assim como no disco anterior, Dough Aldrich é o guia destas onze faixas, conduzindo suas linhas com versatilidade. Ele consegue inserir peso, melodia, e malícia num contexto mais sisudo, que desfila entre o heavy rock setentista, e o blues rock de personalidade sulista, com uma identidade condutora em suas texturas.

As timbragens efetivamente estão mais rústicas nas camadas sobrepostas e contrapostas das duas guitarras (David Lowy, o “dono” da banda, empunha a segunda guitarra), mas sem abandonar os ganchos melódicos de impacto, com groove bem administrado em pontos estratégicos das composições.

Se olharmos para a faixa-título, por exemplo, ou para a ótima “Judgement Day” (melhor do disco), elas são perfeitas amostras da tal versatilidade guiada por um fio condutor.

E seguindo pelo tracklist essa versatilidade fica ainda mais flagrante. Ao mesmo tempo que “Can’t Take It With You” dá as caras com peso sincopado e visceralidade nas guitarras, “Set Me Free” (um dos grandes destaques do repertório) é uma balada na melhor tradição do rock sulista!

Já “What Goes Around” e“Dead and Gone” (com o grande refrão do álbum) revivem a organicidade do rock valvulado com uma malícia irresistível.

“Burn It Down” é um álbum onde blues rock e classic/hard rock possuem uma sinergia cerebral, carregada de sagacidade, peso melódico e poeira sulista nos momentos despidos de distorção. São doses vertiginosas de riffs setentistas bem elaborados, bateria presente, e baixo estonteante, somados a solos harmônicos, e o swing do blues.

Tudo sem parecer uma cópia de tantas bandas que buscam nas formas vintages um modo de se destacar, ou sem perder sua identidade criada nos álbuns anteriores.

Se por um lado “Burn It Down” não é Dead Daisies “grudento” e “lascivo” de antes, ele traz uma banda que amadureceu sua proposta, executando um estudo de sua personalidade musical alicerçado nas certeiras possibilidades dos classicismos do rock. O que não faz dele um álbum menos envolvente, muito pelo contrário!

E as dúvidas sobre este fato que sobreviverem até o fim do álbum serão dissipadas na imperdível versão para “Revolution”, dos Beatles. A faixa que já era poderosa em sua versão original presente no “Album Branco” do quarteto de Liverpool, ganhou ainda mais peso nas melodias, e intensidade nas guitarras ou na voz de Corabi que entoa versos sintomáticos quanto ao contexto geral em que “Burn It Down” se insere.

Para completar, “Burn It Down” ainda traz uma adição de peso à formação. Que Bryan Tichy é um baterista competente e o alicerce da sonoridade nos álbuns dos quais participou não se discute, mas sua substituição por Deen Castronovo (Journey, Revolution Saints, e Bad English) eleva a banda a outro patamar. Além de grande instrumentista (confira “Can’t Take It With You”), ele é um excelente vocalista, dando mais possibilidades às harmonias vocais de segundo plano.

Consequentemente, após toda essa longa apologia, “Burn It Down”, indiscutivelmente, se torna o ponto mais alto da discografia do Dead Daisies.

Senhoras e senhores, que DISCO! Um dos melhores de 2018…

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