Culprit – “Guilty As Charged!” (1983) | Você Devia Ouvir Isto

 

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Confira a proposta desta seção aqui

Dia Indicado Pra Ouvir: Quinta-feira

Hora do dia indicada para ouvir: Oito da Noite

Definição em um poucas palavras: Pesado, proto-progressivo, Seattle, guitarra.

Estilo do Artista: Heavy Metal

Culprit - Guilty As Charged
Culprit – “Guilty As Charged” (1983, Sharpnel Records | 2019, Hellion Records)

Comentário Geral:  Tudo bem que você se lembre dos nomes importantes do grunge quando pense no rock/metal advindo de Seattle, afinal o furacão causado por Nirvana, Soundgarden, Alice in Chains e Pearl Jam foi avassalador no início dos anos 1990.

Mas é sempre bom lembrar que a cidade tem um legado dentro do rock/metal que vai muito além. De Jimi Hendrix à Queensryche, passando pelo Sanctuary, Nevermore, Fifth Angel,  e até por nomes menos conhecidos como Q5, TKO, Heir Apparent e o Culprit, banda da qual falaremos hoje.

Aliás, não seria exagero dizer que Seattle é um dos berços do prog metal (que o digam bandas como Fifth Angel, Queensryche, Sanctuary, Heir Apparent), muito menos que o Culprit praticava um protótipo deste afluente do heavy metal.

Claro que sua forma de metal era mais rústica e afinada ao que era praticado na NWOBHM, mas ouvindo com atenção percebemos que existe algo mais na  sua musicalidade, à julgar pelo que foi registrado em seu primeiro disco.

Mas antes de mergulharmos nas músicas, vamos contextualizar um pouco da biografia da banda.

O Culprit foi formado em 1981 por cinco músicos de duas bandas distintas, que se conheciam dos shows que dividiam e logo resolveram juntar forças em um projeto conjunto.

Os primeiros frutos vieram rápido, quando em 1982 a lendária gravadora Shrapnel Records resolveu incluí-los no segundo volume de sua coletânea “U.S. Metal”, apresentando a faixa “Players”.

A resposta foi boa e a gravadora ofereceu um contrato para gravarem seu primeiro disco, “Guilty As Charged”, que sairia em 1983.

A Shrapnel Records era um selo conhecido por ter em seu cast bandas com guitarristas virtuosos.

O que no caso do Culprit era uma exceção, afinal, o próprio guitarrista e fundador, John DeVol, admite não saber a razão do interesse de Mike Varney, fundador da Shrapnel Records, na banda:

“Não tenho ideia porque nunca nos vimos como uma banda de guitarras. Para nós, as músicas, e nunca os solos de guitarra, sempre estiveram em primeiro plano.”

O baixista e também fundador do Culprit, Scott Earl, vai além em sua análise:

“No final, eu gostaria de nunca ter assinado o contrato, porque não nos encaixamos nessa categoria de música e o disco parecia péssimo. Mas ficamos felizes que alguém tivesse notado nossa presença.”

Acredito que Mike Varney viu no Culprit  uma espécie de resposta à NWOBHM, com peso, técnica e determinação para bater de frente com o padrão que o Judas Priest e o Iron Maiden estabeleciam nos primeiros anos da década de 1980.

Afinal, “Guilty As Charged” é uma demonstração de quão rústico e primitivo o metal norte-americano podia ser naquele período, ao mesmo tempo que trazia um preciosismo técnico que os coloca como uma espécie de proto-prog metal.

Infelizmente, a banda foi sabotada pela própria falta de experiência, tanto no gerenciamento da carreira quanto no trabalho em estúdio.

A produção é crua, pra dizer o mínimo, afinal o trabalho em estúdio beira o diletante não só para os ouvidos atuais, como admitiu anos depois o baixista:

Eu simplesmente não posso acreditar que tantas pessoas gostem tanto de “Guilty As Charged” porque ele não reflete como a banda realmente soou. Mas eu acho que o sentimento deve ter aparecido apesar da produção desastrosa, caso contrário não estaríamos aqui! “

Mesmo no relançamento em CD, que foi lançado no Brasil via Hellion Records, pouco foi mudado nesse quesito.

Claro que com isso o registro sai prejudicado principalmente para a bateria, pois parece ter sido recuperado diretamente uma fita K7 ou um vinil.

Mesmo assim, apesar da sonoridade abafada, é possível detalhar os instrumentos, e a qualidade, a energia e a mística de uma era que essas faixas carregam compensam todo o resto.

A faixa-título abre o disco acelerando a seção rítmica enquanto as guitarras instilam linhas venenosas, dando ainda mais intensidade às claras influências de Judas Priest.

Mais do que isso, essa composição mostra criatividade proto-progressiva em certo momento, equilibrando muito bem técnica com feeling.

As influências da NWOBHM aparecem com mais força em “Ice in the Back”, “Fight Back” “I Am” (uma das faixas mais prejudicadas pela produção). Porém elas também são intensificadas pelos aspectos técnicos e velozes das guitarras.

Aliás a dupla de guitarristas rouba a cena com ótimas harmonias, rápidas e complexas, além de solos eletrizantes. Vale menção também ao baixo que vai muito além de tapar os buracos e sustentar as harmonias.

Por falar em velocidade, “Tears of Repentance” é um speed metal de dar gosto, principalmente no solo vertiginoso, pela bateria agressiva e os vocais que tem permissão para exagerar.

É um disco muito difícil de rotular, pois está na interseção do progressivo, do speed/thrash metal e do hard n’ heavy, mas algo indubitável é que temos o puro heavy metal oitentista, em toda a sua mística nestas composições.

Isso fica ainda mais evidente na power ballad “Players” (atenção às linhas de baixo), “Same to you” (com a melhor abertura do trabalho) e “Steel to Blood”.

Esse última, aliás, talvez a melhor música do disco ao lado de “Ambush”, uma composição com um pé no hard/classic rock, refrão grudento e cadencia envolvente, até a explosão orgástica em seu final.

Em “Ambush”, por sinal, temos a fórmula usada à exaustão pelas bandas que atualmente tentam recriar esse heavy metal oitentista.

Por isso tudo, “Guilty As Charged!” era uma espécie de metal inglês praticado à moda norte-americana

Na contracapa do relançamento de “Guilty As Charged” estava escrito a seguinte frase, atribuída Bret Hartman: “Como o IRON MAIDEN foi para a Inglaterra e o Metallica foi para San Francisco … CULPRIT foi para Seattle.”

Exagero?

O baixista não acha:

“Não é que eu ache que isso seja verdade. Eu sei que é a verdade. Fomos os primeiros e éramos frequentemente abordados por bandas mais jovens que se inspiraram em nós para fazer música. Conseguimos lotar o Paramount Theatre em Seattle duas noites seguidas com 3.000 espectadores antes do álbum ser lançado Do ponto de vista de hoje isso pode não ser muito, mas naquela época era um sucesso.”

Nesse período banda fez shows ao lado de Metallica e Exodus, mas o fracasso comercial cobrou seu preço.

Em 1984, o baixista Scott Earl deixa o Culprit, que pouco tempo depois finalizaria suas atividades, ao menos temporariamente.

Com o fim das atividades, o músicos rumaram para projetos distintos dentro da cena de Seattle, com destaque ao trabalho de Kjartan Kristoffersen e Scott Earl junto ao TKO (onde registrariam o disco “Below the Belt”).

Por volta de 1985, o Culprit iniciou uma retomada quando Scott voltou para Seattle, após uma temporada em Los Angeles. Junto com o vocalista Jeff L’Heureux ele realizou ensaios e alguns shows, mas não evoluíram.

Só no ano 2000, com o primeiro e único disco do Culprit foi relançado, houve motivação para uma reunião da banda para alguns shows. 

Porém, um novo lançamento só mesmo em 2019, quando saiu “Guilty As Charged Live!!!”, álbum ao vivo onde tocam “Guilty As Charged” na íntegra e em sequência, registrando a primeira reunião em oito anos liderada pelo baixista Scott Earl.

Resumo da ópera: VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO! Seja pela música, seja pela história!

Ano: 1983

Top 3: “Steel to Blood”, “Ambush” “Players”

Formação: Scott Earl (baixo), Bud Burrill (bateria), John DeVol (guitarra), Kjartan Kristoffersen (guitarra), e Jeff L’Heureux (vocais)

Disco Pai:  Judas Priest- “Sin After Sin” (1977)

Disco Irmão:  TKO – “Below the Belt” (1986)

Disco Filho:  Culprit – “Guilty As Charged Live!!!” (2019)

Curiosidades: Quando a faixa “Players” saiu na coletânea “U.S. Metal” ela foi grafada erradamente com um apóstrofo. Esse não foi único erro do tipo que a Sharpnel cometeu com a banda. Em algumas cópias do disco a faixa “‘Tears Of Repentance” foi escrita como “Tears Of Repuntane”.

Pra quem gosta de: maldizer o grunge, metal oitentista e arqueologia musical.

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