Bombay Groovy – Resenha de “Odyssey” (2019)

 

Bombay Groovy Odyssey
Bombay Groovy: “Odyssey” (2019, Cosmic Eye Records) NOTA:10.

Já escrevi na resenha de “Dandy do Dendê”, lançado em 2016, que  a banda banda Bombay Groovy era o nome mais interessante da música brasileira na atualidade.

E conferindo “Odyssey” (que você ouvir na íntegra aqui), uma coletânea de seus melhores momentos da discografia até agora, essa opinião permanece e forte!

Pinçando músicas registradas nos álbuns “Bombay Groovy” (2014) e “Dandy do Dendê” (2016), além do single “Saturnalia/Devi” (2019), “Odyssey”, não só é um exemplo da alta criatividade e técnica apurada dos músicos que formam a Bombay Groovy, como evidenciam a evolução e maturação ao longo dos anos da sonoridade carregada de exotismo, mergulhada no fusion, e temperada pela tenacidade do rock. Um homogêneo blend de tradicionalismos que vão de Pink Floyd, Led Zeppelin e Violeta de Outono a Ravi Shankar e Frank Zappa.

Hoje, os pilares de sustentação da banda são os músicos Leonardo Nascimento (com sua destreza em polirritmos vertiginosos em sua bateria), Jimmy Pappon (dono dos teclados que se situam no baricentro de George Duke, Rick Wakeman e Jon Lord),   e o polivalente Rod Bourganos (discípulo de Jimmy Page que cultua os deuses indianos, gregos e da guitarra ao mesmo tempo).

Quem acompanha a banda sabe que de “Bombay Groovy” a “Dandy do Dendê”, o outrora quarteto passou por mutações. Seja pela expansão musical de sua abordagem jazzística/progressiva de clima oriental através de instrumentação diferenciada e ousadia de ritmos possibilitada pela troca de baterista, ou pela trágica e chocante perda prematura do baixista e fundador Danniel Costa, em 2015, o dono do apelido “Dandy do Dendê”.

Mesmo que no segundo trabalho o guitarrista Rod Bourganos assuma o baixo nas gravações, as digitais musicais de Danniel ainda apareceram ali, nas composições “Dandy do Dendê” “Chakal”, essa última presente nesta coletânea. E não há muito o que comentar sobre “Chakal”, a não ser que ela é uma das melhores músicas já realizadas pela banda, trazendo um acachapante trabalho de teclados.

“Dandy do Dendê”, de modo justo pela sua altíssima qualidade, entrega a maior parte do repertório de “Odyssey”, nos dando metade das composições.

Além de “Chakal”, temos “Pavão Andaluz” (com sua entropia musical atritando orientalismos e ritmos brasileiros, cheia de curvas bruscas nos arranjos imprevisíveis), “Bolero de Lilith” (se Ravel compusesse hoje inspirado por Zappa e Shankar, creio que soaria nesses moldes), “Paul’s Funky Cab” (unindo a técnica precisa com o groove de engrenagens musicais bem azeitadas), e “Pre-Raphaelite Brotherhood” (mais amena, melódica e introspectiva se considerarmos o borbulhante caldo musical do repertório, com progressões envolventes e belas harmônias).

+ Confira nossa resenha completa para o excelente “Dandy do Dendê”, nesse link!

A outra metade do repertório busca duas faixas do primeiro álbum de 2014 (“Le Bateau d’Orpheu” e “Lunar Toth”), que nos mostram uma versão inicial do fusion praticado pela Bombay Groovy (ainda com o baterista Lucas Roxo na formação) mais direcionada ao ritmo do soul/funky e das texturas do rock psicodélico de meados das décadas de 1960 e 1970, duas chaves para o brilhantismo e caráter envolvente daquele primeiro trabalho que se destacou e chamou a atenção para o som da banda.

Dando um panorama geral do que a Bombay Groovy produziu até o momento, “Odyssey” ainda traz a duas composições mais recentes, lançadas também em 2019, após três anos de silêncio.

“Saturnalia”  dá continuidade à proposta ouvida em “Dandy do Dandê”, como já escrevemos antes, empilhando referências sagazes a Frank Zappa,  buscando um clima setentista, que beira a imprevisibilidade fruto do instinto licoroso presente no groove técnico e malicioso. Já  “Devi” busca por um maior “tradicionalismo” aos preceitos musicais  orientais, guiado pela sitar, e invocando a estética musical do primeiro trabalho.

Ambas mostram que o trio deu ainda mais foco  à sua versão inteligente do rock progressivo instrumental, de referências orientais e improvisação jazzística, buscando inspiração em temas místicos e mitológicos.

+Confira nosso texto especial sobre o lançamento do single “Saturnalia/Devi”, aqui.

Completando a coletânea, eles ainda nos oferecem uma faixa ao vivo: “Fonte de Castália”, composição originalmente do primeiro álbum, mas aqui num registro realizado em São Paulo, no ano de 2016.

O mais louvável de “Odyssey” entretanto, reside no fato de enfim podermos ter a música da Bombay Groovy impressa no vinil, lançado pelo selo grego Cosmic Eye Records, com encarte recheado de informações e belíssimas fotos. Aliás, “Odyssey” é um LP obrigatório na coleção de qualquer pessoa que se diz admirador da boa música!

Vá atrás já!

TRACKLIST

A1 Le Bateau d’Orpheu
A2 Paul’s Funky Cab
A3 Bolero de Lilith
A4 Pre-Raphaelite Brotherhood
A5 Devi
B1 Chakal
B2 Lunar Toth
B3 Pavão Andaluz
B4 Saturnalia
B5 Fonte de Castália (live in São Paulo)

FORMAÇÃO

  • Rod Bourganos (sitar indiano, baixo, guitarra elétrica, craviola, bouzouki grego, theremin, cavaco)
  • Jimmy Pappon (órgão hammond, clavinete, piano, mellotron, sintetizador)
  • Leonardo Nascimento (bateria e percussão, exceto em A1 e B2)
  • Danniel Costa (baixo em A1 e B2)
  • Lucas Roxo (bateria em A1 e B2)
  • Otavio Cintra (baixo A5 e B4)

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