“Blue Monday” | A transformação final do Joy Division em New Order.

 

Entenda como “Blue Monday”, 1º sucesso do New Order, fez a banda criar uma identidade própria além das heranças musicais do Joy Division.

Entenda como "Blue Monday", 1º sucesso do New Order, fez a banda criar uma identidade própria além das heranças musicais do Joy Division.

O New Order é uma das bandas mais influentes de sua geração, não só por “Blue Monday”, mas também por moldar através de experimentações uma personalidade eletropop diferenciada, que seria pioneira para a música eletrônica em discos como “Low-Life” (1985), “Substance” (1987) e “Technique” (1989).

“Technique” (1989), por exemplo, é uma das pedras fundamentais do fenômeno acid house que bombardeou a Inglaterra na virada dos anos 1980 para os anos 1990. Esse disco colocou o New Order na linha de frente da maior revolução musical que a Inglaterra viu desde o punk rock.

E isso só foi possível por causa de “Blue Monday”, seu conteúdo, sua forma, e principalmente a estabilidade dada ao quarteto de Manchester pelo estrondoso sucesso. Toda vez que falo sobre “Blue Monday”, clássico do New Order, me lembro de outro clássico, mas agora da literatura, “Café da Manhã dos Campeões”, do genial Kurt Vonnegut. Simplesmente por que o subtítulo deste livro é “Or Goodbye Blue Monday”.

O Que Significa Blue Monday?

Foi por causa de “Café da Manhã dos Campeões” que aprendi o real significado do termo blue monday. Ele se refere à terceira segunda-feira do ano, onde o misto de despesas contraídas nas festas de final de ano, a volta ao trabalho e a perspectiva de mudanças para o ano que chega, cujo primeiro mês está prestes a terminar, causa uma tristeza que o transforma no dia mais melancólico do ano. Ao menos é o que afirmou o psicólogo Cliff Arnall, professor da Universidade de Cardiff, em 2005.

E não seria exagero dizer que o New Order encapsulou todas essa melancolia numa música que ironicamente (uma ironia à moda Vonnegut, diga-se) traz um irresistível ritmo dançante e agita as pistas de dança até hoje.

A transformação final do Joy Division em New Order.

O New Order se transmutou efetivamente, encontrando sua personalidade musical, em “Blue Monday”, através de uma experimentação fria e ousada na música eletrônica, tanto em forma, quanto em conteúdo, que começava a se desenvolver nos anos 1980.

Porém, o início não foi dos mais fáceis! À começar pela tragédia que dá início à banda: o suicídio do vocalista e guitarrista Ian Curtis, em 18 de maio de 1980, pôs um “fim” ao Joy Division, inclusive tendo o seu segundo trabalho, “Closer” (1980), o disco que basicamente definiu o pos-punk, lançado de forma póstuma.

Os três remanescentes do Joy Division fundaram o New Order dando uma nova dimensão à sua sonoridade sombria, melancólica, depressiva e melódica. Certamente as comparações entre as duas bandas foram impiedosas naquele início do New Order.

Algo que só mudaria em 1983, com o sucesso de “Blue Monday”, single que fica entre as dez primeiras posições da parada de sucessos da Grã-Bretanha e o compacto de 12” que traz essa música ficaria entre os mais vendidos de todos os tempos.

Mas voltemos um pouco no tempo. “Movement”, primeiro álbum do New Order, saiu já em 1981, um ano após “Closer”, mas é recebido sem a mesma empolgação dos trabalhos do Joy Division, tanto por público quanto crítica.

Naquele início, o baixo e a bateria que eram marcas registradas do Joy Division, migraram para a sonoridade ainda em busca de definição do New Order e Bernard Sumner se mostrava um tanto desconfortável como frontman.

Além de algumas estranhezas eletrônicas que mostravam um horizonte promissor, aquele primeiro passo discográfico foi num primeiro momento ignorado. O caminho da fuga dessa emulação do Joy Division foi a experimentação com as novas tendências dos instrumentos eletrônicos em “Power Corruption & Lies”, seu genial segundo disco do New Order, lançado em 1983.

Essa experimentação eletrônica os levaria ao divisor de águas da carreira: a faixa “Blue Monday”. A ideia para a música surgiu da insatisfação do New Order em fazer os encores dos shows. Segundo Bernard Sumner: “A ideia era que eu voltasse ao palco, apertasse o play, deixasse os sequenciadores e computadores tocando ‘Blue Monday’ como bis e foda-se”.

Originalmente, “Blue Monday” não fazia parte do repertório do disco, mas foi incluída na edição de 1986, em CD e K7, assim como “Thieves Like Us” que viria na edição especial de 2008 junto a um caminhão de faixas bônus.

Esse sempre foi um traço interessante da discografia do New Order. Muitos de seus grandes sucessos não figuram nos repertórios originais de seus discos de estúdio, ficando registrados em singles e EPs que saíam em paralelo, produzidos por nomes de destaque na época, sendo incluídos nos discos de estúdio apenas em reedições posteriores.

Como “Blue Monday se tornou o modelo da música eletrônica oitentista

“Blue Monday” foi uma espécie de farol para o futuro da dance music, que em 1983 já buscava alternativas para a saturada e ultrapassada disco music, além de representar a luz que guiava um novo caminho longe da melancolia de sua encarnação anterior, o Joy Division.

A combinação de uma batida dançante contagiosa, uma linha vocal calma, beirando o blasé, e melodias de baixo provocativas, contrastando o orgânico com o artificial, era o futuro, a modernidade da música pop. É impressionante como em apenas uma música conseguiram encapsular todas as influências diversas do quarteto, então completado por Gillian Gilbert.

Em “Blue Manday” eles mostram toda a liberdade de ousar e retrabalhar ideias de Kraftwerk, David Bowie  (da fase “Low”) e Giorgio Moroder por uma via mais melancólica, sombria e dançante. Cabe mencionar que o New Order se manteve leal à Factory Records, o selo independente de Manchester, fundada 1978 por Tony Wilson e Alan Erasmus e permaneceria ali por boa parte de sua carreira, mesmo após a explosão com “Blue Monday”.

Porém, o New Order perdeu dinheiro com o single de “Blue Monday” por causa do formato. “A capa infelizmente custou 10p [aproximadamente 20 centavos] a mais do que o disco poderia render, então toda vez que vendíamos uma cópia de ‘Blue Monday’, estávamos perdendo 10p”, declarou Peter Hook, que completa com ironia: “E então passou a ser o single em 12 polegadas mais vendido de todos os tempos!” Com isso, eles perderam cerca de cem mil libras com seu primeiro grande sucesso!

Nos anos que se seguiram trabalharam com os melhores produtores do mercado fonográfico em singles de sucesso, como “Thieves Like Us” (1984), “Confusion” (1983), e “True Faith” (1987). Porém, a virada do New Order se deu com “Blue Monday”, seu óbvio e cristalino divisor de águas na carreira!

Ofertas de Discos do New Order e do Joy Division:

  1. New Order – “Low-Life” [Disco de Vinil]
  2. New Order – “Power, Corruption And Lies” [Disco de Vinil]
  3. New Order – “Music Complete” [Disco de Vinil]
  4. New Order – “Technique” [Disco de Vinil]
  5. New Order – “Brotherhood” [Disco de Vinil]
  6. Joy Division – “Unknown Pleasures” [Disco de Vinil]

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