O ALCATRAZZ, banda norte-americana de hard n’ heavy, é o nosso foco na seção “Pouca Fama Muito Som!”, onde queremos enaltecer o trabalho de bandas/artistas sensacionais, mas que nem sempre são lembrados atualmente.
Pensando friamente acho que existiu somente uma banda na história do rock que ganharia do Alcatrazz no quesito guitarristas lendários: o Yardbirds.
Afinal, se a banda inglesa teve Eric Clapton , Jeff Beck e Jimmy Page em momentos distintos nos anos sessenta, o Alcatrazz teve Yngwie Malmsteen e Steve Vai nas suas fileiras nos anos 1980.
E assim como aconteceu com o Yardbirds, o Alcatrazz é mais lembrado pelos guitarristas que teve do que pela música que produziu.
O ALCATRAZZ É UM SUPERGRUPO!
Não seria exagero dizer que a banda era uma espécie de “supergrupo”, afinal, quando foi formada, o vocalista Graham Bonnet já acumulava passagens pelo Rainbow (onde gravou o clássico “Down to Earth”) e MSG (onde registrou “Assault Attack” [1982]).
O Alcatrazz foi iniciado por Bonnet entre 1982 e 1983 ao lado do baixista Gary Shea e do tecladista Jimmy Waldo. Ao lado do vocalista também estava o guitarrista Yngwie Malmsteen, egresso do Steeler de Ron Keel.
A ideia inicial era trazer Cozy Powell para a bateria, mas quem veio foi o baterista Jan Uvena (entrando na vaga que seria de Clive Burr, recém saído do Iron Maiden) que vinha da banda de Alice Cooper.
“NO PAROLE FROM ROCK N’ ROLL” (1983)
Todo o processo se deu muito rápido e em 1983 as gravações de “No Parole From Rock N’ Roll”, primeiro álbum do Alcatrazz, já haviam sido realizadas, e o álbum era lançado pelo selo Grand Slam.
A fórmula seguia o padrão de Bonnet no Rainbow e as composições eram excelentes, o que gerou críticas positivas por parte da mídia especializada.
Porém, Malmsteen e seu estilo neoclássico já chamava a atenção e roubava a cena.
Obviamente isso começou a gerar problemas com os choques de ego.
O disco trazia destaques como “Islands in the Sun”, “Jet to Jet”, “Hiroshima Mon Amour” e “Too Young to Die”, onde o atrito de egos de Bonnet e Malmsteen gerava momentos musicais brilhantes, pois um impulsionava o outro a se superar.
Se Malmsteen entregava a técnica apurada, Bonnet oferecia a emoção em cada nota bem interpretada.
Com todos esses predicados esse disco rapidamente galgaria status de clássico do hard n’ heavy oitentista.
“LIVE SENTENCE” (1984)
A turnê de divulgação seguiu pelo Japão e Estados Unidos e rendeu o disco ao vivo “Live Sentence” (1984, e que foi relançado no Brasil numa edição de luxo alguns anos atrás).
Esse material é muito apreciado pelos fãs, especialmente pelo repertório, que além dos grandes destaques de “No Parole From Rock N’ Roll”, traz também “Evil Eye”, uma composição de Malmsteen que logo estaria registrada em seu primeiro álbum solo de estúdio.
Além dessas, tínhamos dois registros de composições do Rainbow, à moda Alcatrazz, para “Since You’ve Been Gone” e “All Night Long”.
Porém, mesmo com a banda crescendo, o atrito de egos de Malmsteen e Bonnet fizeram o guitarrista deixar a banda e seguir sua carreira solo.
SAI YNGWIE MALMSTEEN ENTRA STEVE VAI
No Steeler, ao lado de Ron Keel, Malmsteen teve suas primeiras experiências em estúdio, apesar de não estar muito satisfeito por não poder desenvolver mais suas técnicas.
Quando foi recrutado para o Alcatrazz, Malmsteen achou que isso ia mudar mas não foi bem assim.
“Quando fui tocar no Alcatrazz, escrevi todas as músicas, mas ainda não estava satisfeito porque não podia agir livremente”, ele disse anos mais tarde, e completou:
“O Alcatrazz era uma banda e então eu tinha que discutir as decisões e minha maneira de tocar. Por isso parti para uma carreira solo”.
Consciente da necessidade de um grande guitarrista para sua banda, Bonnet recruta um jovem apadrinhado por Frank Zappa chamado Steve Vai.
Steve Vai ainda não era o lendário guitarrista de hoje, mas chegou impressionando, pois aprendeu todo o repertório do show em apenas vinte e quatro horas.
Apesar da altíssima técnica de Steve Vai, suas referências estavam longe do neoclassicismo de Malmsteen.
“Ao contrário do que pensam, não gosto de ouvir música clássica, jazz rock, entre outras coisas que acham que gosto”, declarou Vai mais tarde, mencionando Steve Ray Vaughan, Frank Zappa, Brian May e Jimmy Page como suas referências.
“DISTURBING THE PEACE” (1985)
Claro que houve rejeição dos fãs no início, principalmente pela diferença de estilos, mas Bonnet afirma que seu álbum favorito do Alcatrazz é aquele gravado com Steve Vai: “Disturbing The Peace”.
Realmente esse segundo disco, lançado em 1985, é excelente, porém, muito diferente do anterior. As melhores músicas sem dúvidas eram “Will You Be Home Tonight” e “God Bless the Video”.
Os resultados com público e crítica eram interessantes, mas logo Steve Vai deixa o Alcatrazz rumo à banda de David Lee Roth, recém saído do Van Halen e que montava uma verdadeiro supergrupo para seu primeiro disco.
Mais tarde, Steve Vai recordaria de seus dias no Alcatrazz: “Foi legal, apesar não ter durado muito.”
Após um ano, Bonnet estava com uma bomba duplamente mais ameaçadora nas mãos: substituir dois guitarristas talentosos.
“DANGEROUS GAME” (1987)
O escolhido para a vaga de guitarrista foi Danny Johnson (Blackfoot, Axxis), que não era tão virtuoso como os antecessores, mas com a técnica lapidada para a sonoridade que queriam praticar.
Coube então a Bonnet chamar a responsabilidade para si e entregar uma de suas melhores performances de estúdio em “Dangerous Game”, o terceiro álbum da banda que saiu em 1986.
Porém, o guitarrista não conseguia ter um rendimento próximo de seus antecessores no palco, o que dividiu ainda mais os fãs e minou a repercussão do trabalho
Tanto que Danny Johnson deixou a banda rumo ao Private Life, ainda em 1987.
O FIM DO ALCATRAZZ?
O Alcatrazz encerraria as atividades no mesmo ano da saída de Danny Johnson e no ano seguinte Graham Bonnet gravaria o ótimo “Stand in Line”, com o Impellitteri.
Salvo por coletâneas e uma versão remasterizada de “Disturbing the Peace”, que saiu num box limitadíssimo de Steve Vai, a verdade é que até a virada do milênio pouco se falava na banda de Graham Bonnet.
O nome do Alcatrazz voltaria à baila em 2002 por ter uma música inclusa num jogo eletrônico, mas a banda só retornaria em 2007, com o guitarrista Howie Simon, o baterista Glen Sobel e o baixista Tim Luce, além do próprio vocalista.
Seguiram shows no Japão, Estados Unidos e festivais europeus ao longo de 2007 e 2008 sob o nome de Alcatrazz featuring Graham Bonnet, pois os outros membros da formação original, Jimmy Waldo, Gary Shea e Jan Uvena, estavam reunidos sob o nome de The Real Alcatrazz.
Isso obviamente causou problemas entre as partes, que começaram debater sobre o uso do nome Alcatrazz.
Porém, nada que impedisse a reunião de Graham Bonnet, Jimmy Waldo e Gary Shea em 2020 para lançar um novo trabalho de estúdio da banda após 34 anos, intitulado “Born Innocent”.
E desta vez com um guitarrista à altura de seus antecessores: Joe Stump. Para o lugar de Jan Uvena, que se aposentou da música, veio Mark Benquechea, da Graham Bonnet Band.
POR FIM…
O Alcatrazz é uma das bandas mais interessantes de sua geração e merece ser mais valorizada, não só pelos músicos que a integraram, mas principalmente pelas músicas que gravaram em ao menos dois clássicos do hard n’ heavy.
Sem sombra de dúvidas, o Alcatrazz tem “pouco hype, mas muita música”!
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SUGESTÃO DE LIVROS
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