Al di Meola – Resenha de “Across the Universe” (2020)

 

Al DI Meola - Across the Universe
Al Di Meola – “Across the Universe” (2020, earMUSIC, Shinigami Records)

Al Di Meola é um dos mais expressivos e multifacetados guitarristas modernos.

Com uma precisão impressionante e um estilo único ele foi nome importante no jazz/fusion ao integrar o emblemático Return to Forever, ao lado de Chick Corea, onde ganhou um Grammy pelo disco “No Mystery” (1975).

Posteriormente, em carreira solo, ele explorou gêneros diversos como rock, pop, flamenco, música latina world music, quando esteve ao lado de músicos como Jean-Luc Ponty e Stanley Clark, além dos brasileiros Airto Moreira, Milton Nascimento e Egberto Gismonti.

Seu nome foi mundialmente aclamado quando integrou um trio de áses das seis cordas ao lado de Paco de Lucia e John McLaughlin.

Isso posto, vamos a “Across the Universe”, disco lançado em 2020 onde Al di Meola homenageia pela segunda vez a banda Beatles em quatorze releituras virtuosas e técnicas, dando continuidade ao trabalho iniciado em “All Your Life: A Tribute to the Beatles” (2013).

Para mim, esse “Across the Universe” supera a primeira parte já no repertório escolhido: faixas como “Golden Slumbers” (com arranjos de arrepiar), “Norwegian Wood” (cujos aspectos folk foram levados a uma outra dimensão) e “Strawberry Fields Forever” (essa músca emociona até se for tocada com uma caixa de fósforos) estão entre as minhas favoritas do quarteto de Liverpool e aqui ganharam não só em requinte, mas também em interpretação, pois Al di Meola imprime sua identidade em cada uma delas, principalmente no ritmo latino inerente à ela.

O trunfo deste álbum reside não só na técnica apurada do músico, mas princpalmente no ato de escancarar a complexidade melódica, as harmonias líricas, que os Beatles encejavam e camuflavam muito bem numa roupagem cativante.

“Here, There, and Everywhere”, por exemplo, ganhou um requinte jazzístico que me lembrou dos melhores momentos de John Pizzarelli interpretando as músicas dos Beatles no ótimo disco “Meets the Beatles”.

Nesse sentido, temos timbragens acústicas e eletrificadas que se sobrepoem nas melodias do quarteto de Liverpool numa estética jazzística e virtuosa advinda do fusion e sustentatada por ritmos da world music, dois senhores aos quais Al Di Meola serve tão bem em seus discos.

Isso é algo que já fica claro na abertura iluminada de “Here Comes the Sun”, grande composição de George Harrison, e na sombria “Dear Prudence”, por exemplo.

O poder de Al di Meola pode ser medido ainda mais precisamente em “Till There Was You”, uma música dos Beatles que foi transformada em hit da Jovem Guarda pelos Incríveis. Aqui, o músico consegue tirar todo o ranço que a versão nacional possa ter trazido a uma das melhores músicas do disco “With the Beatles”, de 1964.

Essa música é daquelas cujos arranjos originais emprestados dos ritmos latinos se amarram profundamente com a abordagem que Al di Meola emprega.

Até por isso, cabe ressaltar que o músico foi muito feliz nas escolhas que fez para os arranjos, especialmente nas músicas do Beatles que tinham uma orientação mais folk, onde foram adicionadas novas cores ao espectro original, dando ainda mais profundidade à obra da banda.

Além da já citada “Norwegian Wood”, “Mother Nature’s Son” é um desses casos balizados pelo folk que ficaram ainda mais grandiloquentes, assim como “Your Mother Should Know” ganhou em dramaticidade, e “Julia” em profundidade.

As única interpretação que não agradou muito foi a de “Yesterday” (e aqui o problema nem é com a execução em si, mas, pra mim, depois da versão estupenda de Ray Charles, deveria ser proibido gravar essa música novamente).

Já “Hey Jude” foi salva pelo acordeon de Fausto Beccalossi do limbo do enfastio causado pela execução maciça da gravação original. Aqui ela ganhou uma luz diferente, com lampejos de flamenco, tango e rock.

Por falar em luz diferente, Randy Brecker deu um tom épico ao espírito latino dos arranjos de “I’ll Follow the Sun”, a transformando numa das melhores do disco.

Cabe ressaltar que Meola também toca os instrumentos de percussão e o baixo de diversas composições, além de ser responsável pela produção (chamo a atenção para a organicidade com que registraram os intrumentos de ritmo e percussão) e todos os aspectos dos arranjos.

A capa também chama a atençao por ser uma releitura interessante da estampa do ótimo “Rock n’ Roll”, disco de 1975 lançado por John Lennon que tem uma história interessante de bastidores, além de um repertório taambém de releituras.

Como está registrado na contra-capa do álbum: “o propósito deste disco é celebrar a estética, beleza e alegria que essas melodias bem conhecidas significaram para mim”. E Al Di Meola conseguiu imprimir sua identidade, sua alma, em clássicos da música ocidental.

Aproveite que este disco saiu no mercado nacional, via Shinigami Records, e vá atrás imediatamente!

FAIXAS:

1. Here Comes The Sun
2. Golden Slumbers Medley
3. Dear Prudence
4. Norwegian Wood
5. Mother Nature’s Son
6. Strawberry Fields Forever
7. Yesterday
8. Your Mother Should Know
9. Hey Jude
10. I’ll Follow The Sun
11. Julia
12. Till There Was You
13. Here, There And Everywhere
14. Octopus’s Garden

Outros Artigos que Podem Ser do Seu Interesse:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *