Venom Inc. – Resenha de “Avé” (2017, Shinigami Records)

 
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Venom – “Avé” (2017, Nuclear Blast, Shinigami Records, Sound City Records) NOTA: 9,0

A história é relativamente longa e complicada, mas o que importa é a ramificação da formação original do Venom, uma das mais influentes bandas do Heavy Metal, em duas “novas” bandas.

Enquanto o vocalista e baixista Cronos mantém o Venom “original” em atividade, acabando de lançar uma regravação do álbum “Calm Before The Storm” (1987), rebatizado de “Black Mass”, os outros dois terços da banda, Mantas (guitarra) e Abbadon (bateria), se reuniram ao vocalista e baixista Tony “The Demolition Man” Dolan para formar o Venom Inc e lançar este ótimo “Avé”.

Na verdade, o Venom Inc. pode ser encarado como uma “reunião” (entre aspas, pois à época eram um quarteto, incluindo Al Barnes e, posteriormente, Steve “War Maniac” White, na guitarra base) da formação do Venom entre os anos de 1989 a 1992, rendendo ao menos um álbum clássico: “Prime Evil” de 1989, sem desmerecer os ótimos “Temples of Ice” (1991) e “The Waste Lands” (1991), que vieram na sequência.

E aqui cabe uma confissão.

Sempre respeitei o caráter histórico dos dois primeiros álbuns do Venom e toda a sua relevância para o metal extremo, mas os meus ouvidos só conseguem apreciar a sonoridade da banda à partir de “At War With Satan” (1984), onde começaram a explorar a musicalidade além do metal primitivo e cavernoso.

Talvez por isso, o caos mais bem produzido e tangenciando o Thrash Metal da fase com Tony Dolan me chamava bem mais a atenção.

“Heresias” pessoais à parte, quando soube que o trio se reuniria novamente, após esforços de Oliver Weinsheimer, que mantém o festival Keep It True, e gravariam um álbum instigados por Jon Zazula, minha curiosidade se aguçou.

Agora, com “Avé” em mãos, percebo que a expectativa foi justificada, pois o trio conseguiu extrair a essência da obra do Venom, principalmente nos riffs de guitarra, usando-a como ponto de partida para novas composições, sem soar como um pastiche de sim mesmo.

O álbum já abre corrompendo “Ave Maria”, de Schubert, na infernal “Ave Satanas”, uma composição que descamba para um Thrash/Black Metal pesado, cadenciado e cavernoso, resultando numa sonoridade reverente e macabra como o Venom deve ter, numa aura épico-sinistra renovada que reaparecerá em “Dein Fleisch” (faixa que mostra a versatilidade de Dolan, indo além da versão infernal de Lemmy Kilmister), na maciça “Blood Stained” (com melancolia controlada, flertes com o industrial e peso atemorizante), e em “Preacher Man” (com passagens climáticas e performance impecável de Abbadon), facilmente as melhores composições do trabalho.

Por estas composições já podemos ver que o aspecto mais primitivo foi deixado um pouco de lado, abrindo espaço para que Mantas desenvolva dilacerantes linhas de guitarra, amplificando a urgência Heavy n’ Roll de faixas como “Forged In Hell”, “The Evil Dead” “Black N’ Roll” que reforçam o apelo “motorheadiano” que a banda sempre possuiu em sua história.

Até mesmo em momentos mais voltado à linearidade da estética Speed Metal, como em “Metal We Bleed”, “Time to Die” “War”, existem passagens esmeradas que oxigenam a agressividade, numa identidade musical fluida e natural, sem soar calculada.

A produção grandiloquente e dinâmica, pincelada por esfeitos pontuais inteligentes, revigora a crueza, a sujeira, e o primitivismo de seus primeiros álbuns, remodelando-os pela organicidade que também nos permite detalhar cada movimento do baterista Abbadon, em suas viradas sagazes e violentas. Seu feeling está intacto, principalmente nos movimentos mais cadenciados e macabros.

Claro que não existe nada de novo, e até mesmo os simbolismos da belíssima capa de “Avé” soam clichês, mas modernizaram sua fórmula, não deixando-a datada, além de envolvê-la em certa dramaticidade metálica, fruto da maturidade em suas habilidades técnicas.

Além disso, somos todos inteligentes o bastante para não esperarmos um novo “Black Metal” (1982)“At War With Satan” (1984), e até mesmo um “Prime Evil” (1989), afinal aqueles álbuns são frutos de seu tempo e o Venom Inc parece olhar para o passado com os pés no futuro, colecionando muitos acertos, e se saindo melhor que seu irmão siamês.

Ao fim da audição não sobram dúvidas de que aqui estão todas características que reafirmam as sombras que vivem no âmago da obra do Venom, claramente menos viscerais e rústicos, soando mais sombrios e maduros neste álbum, redirecionando sua identidade para a modernidade, resultando em algo familiar e, ao mesmo tempo, renovado.

Não sobram dúvidas! Independente do nome ou formação, esse é o Venom!

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