No primeiro minuto de “Darker Thoughts”, faixa de abertura de “Obsidian”, novo álbum do Paradise Lost, teremos a certeza de que a banda trará algo diferente do que foi apresentado em seus últimos discos.
Porém, logo o peso tomara seu lugar em meio a melancolia requintada num contraste brilhante que se seguirá por todo o disco, apontando um direcionamento diferente, muito criativo, e sem perder a identidade.
Aliás, o Paradise Lost é um dos grandes exemplos de inquietude criativa dentro do heavy metal, uma característica que impulsiona a banda inglesa sempre à frente, mesmo quando ela olha para suas próprias referências do passado.
E esse é exatamente o caso neste mais recente trabalho de estúdio!
Não precisamos voltar muito no tempo pra validar esse argumento, pois mesmo que as drásticas transformações realizadas em sua primeira década de existência sejam evidências inquestionáveis dessa inquietude, podemos nos concentrar apenas em seus três últimos álbuns para perceber que esta condição permanece intacta e aliada a uma identidade muito forte.
No caso de “Obsidian”, o Paradise Lost gira novamente sua sonoridade em direção a algo mais refinado e emocional, retrabalhando as influências de Sisters of Mercy e The Mission de uma forma atual e nada datada, como podemos conferir em “Ghosts” (se “First and Last and Always” fosse lançado hoje soaria desta forma) e “The Devil Embraced” (aqui com os vocais guturais aparecendo num contraste brilhante).
Vale lembrar que o Paradise Lost vinha de dois trabalhos mais orientados às raízes do death/doom metal, que ainda estão espalhadas por essas nove composições (a edição nacional à cargo da Shinigami Records ainda traz mais duas faixas bônus), mas já sem soar tão superlativo em aspectos agressivos do sludge/doom de “The Plague Within” (2015) e, principalmente, “Medusa” (2017).
Nestes dois discos anteriores o Paradise Lost trazia uma mistura da melancólica melodia doom/gothic com peso arrastado e sujo do doom/death, variando entre esses dois pólos de uma forma que não faziam há um bom tempo.
Agora, em “Obsidian”, eles mantém essa fórmula, dando um passo à frente e reavivando de uma forma bem obscura as características clássicas do gótico oitentista que estavam tímidas em suas músicas recentes.
Se bem que “Serenity” (com uma belíssima passagem climática oxigenando o peso), “Hear the Night” (uma das faixas bônus) e “Ravenghast”, todas revovando o manual do death/doom, estão aqui para lembrar que a fúria de antes ainda não foi totalmente refinada.
Nesse sentido, o produtor Jaime Gomez Arellano continua sendo peça-chave para o resultado final excelente do trabalho de estúdio, investindo num clima mais orgânico e moderno, sem retirar o tradicional requinte climático da fumaça gótica que a proposta pede.
E esse é um dos fatores que permitem ao Paradise Lost compor uma faixa como “Ending Days”.
De longe a melhor do disco, essa é uma composição com a essência da banda, ao mesmo tempo que aponta para algo novo, meio progressivo, mas sem sê-lo de fato.
Com ela o Paradise Lost conseguiu algo louvável para uma banda com mais de três décadas de estrada: não dá para encaixá-la em nenhum dos álbuns de sua discografia.
Junto com o produtor o Paradise Lost parece que conseguiu reunir em um disco tudo o que faz deles uma banda cativante: a variação vocal entre os urros do death metal e o apelo gótico dos vocais limpos, o baixo encorpado e presente, as guitarras pesadas e donas de melodias requintadas e a bateria pulsando com destreza e modernidade.
Isso chega até nós por faixas como as jás citadas “Darker Thoughts” e “Ghosts”, além de “Hope Dies Young” (outra que me lembrou do primeiro disco do Sisters of Mercy), “Defiler” (mais uma faixa bonus, agora com solo de metal clássico) “Forsaken” (pense num Depeche Mode que pratica death/doom metal) e “Fall From Grace” (uma das melhores músicas da banda nos últimos vinte anos!), que têm a essência da banda desde seus títulos e ajudam a marcar “Obsidian” como um disco sombrio, mas com espírito misterioso, como um conto clássico da literatura gótica.
Por isso tudo, creio que “Obsidian” é o melhor retrato do Paradise Lost que eu queria ver nesse momento. A volta às raízes do death/doom metal me empolgou muito, mas quando eu penso na banda é algo como o que ouvimos aqui que vem à minha mente.
“Obsidian” é o Paradise Lost com pleno controle da sua bagagem musical, usando a autorreferência para criar sua musicalidade moderna. Olhando para frente, impulsionado pelo passado.
Após três décadas, o Paradise Lost reafirma com “Obsidian” estar numa das melhores fases da sua carreira!
FAIXAS:
1. Darker Thoughts
2. Fall from Grace
3. Ghosts
4. The Devil Embraced
5. Forsaken
6. Serenity
7. Ending Days
8. Hope Dies Young
9. Ravenghast
10. Hear the Night (bonus track)
11. Defiler (bonus track)
FORMAÇÃO
Nick Holmes (Vocal)
Greg Mackintosh (Guitarra)
Aaron Aedy (Guitarra)
Steve Edmondson (Baixo)
Waltteri Väyrynen (Bateria)
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