A capa de beleza mórbida e referências monolíticas e arcaicas mostra que o veteranos do stoner/punk Corrosion of Conformity estão de volta com o espírito noventista encarnado em suas evoluções valvuladas e arrojadas.
Além disso, “No Cross No Crown”, décimo álbum da banda é também o primeiro após o retorno do vocalista/guitarrista Pepper Keenan (que saiu para se dedicar ao Down). Seu último trabalho com o Corrosion of Conformity data de 2005, o bom “In the Arms of God”.
Nesse ínterim, tivemos o auto-intitulado de 2012, onde retomaram a veia crossover do início da carreira, continuada no crú e obscuro “IX” (2014), com o trio Mike Dean (baixo e vocais), Reed Mullin (bateria e vocais) e Woody Weatherman (guitarra e vocais), o motor do Corrosion of Conformity desde sua gênese.
Mas sem Keenan tínhamos quase outra banda, com o mesmo nome. É estranho pensar que mesmo tendo três outros vocalistas na história do Corrosion of Conformity, sem contar Mike Dean que acumulou o posto recentemente, a sonoridade típica da banda passa muito pela voz e pela guitarra de Keenan.
E até por isso, a primeira audição de “No Cross No Crown” credita à Pepper Keenan a parcela sabática dos tempos áureos do Corrosion of Conformity. E, de fato, o retorno de Keenan às composições encarna em cada uma delas o tão alardeado espírito dos saudosos álbuns “Deliverance“ (1994) e “Wiseblood“ (1996), agora evoluído em sua maturidade visceral, esfumaçada pela chapação stoner.
O alto padrão daquela fase é mantido, agora com mais maturidade, melhor forma dos envolvidos como instrumentistas e a clara sensação de que estão fazendo exatamente o que querem. Talvez o fato de Keenan ter ficado dez anos longe dos vocais, se dedicando apenas à guitarra, explique a “fome” e intensidade de suas linhas vocais.
Aliás, os vocais, bem construídos por sinal, chegam com determinação furiosa, enquanto a seção rítmica coesa ergue um alicerce sonoro maciço de forte personalidade vintage, valvulada e orgânica, controlando a dinâmica da banda (confira o trabalho impecável de Mullin em “Wolf Named Crow”).
Os riffs sabáticos, arrastados, obscuros e sorumbáticos são impressos pelo peso carregado e sujo das guitarras de afinação grave, timbragem áspera e dedilhada na melhor escola Tony Iommi, se esticando em solos precisos e empolgantes, extremamente criativos sem soar pretensiosos.
Tudo bem processado por uma produção “pantanosa”, rusticamente eletrificada e sonicamente energizada, equalizando com maestria o peso e a melodia do stoner desajustado da banda. Produção brilhante à cargo do velho conhecido John Custer (que produz a banda desde o álbum “Blind” [1991]), sempre capaz de amplificar as potencialidades do quarteto.
As características enumeradas acima já aparecem na respiração carregada, nas batidas do coração e no riff arrastado da introdução “Novus Deus”, dando cores esfumaçadas iniciais ao disco, que aos poucos vai se revelando até desaguar no peso áspero de “The Luddite”, uma das melhores músicas do novo trabalho, nos dando a certeza de que o C.O.C. que queríamos ouvir está aqui, vivo novamente em “Forgive Me” (uma aula de stoner), “Nothing Left to Say” (dona de uma psicodelia melancólica), ” E.L.M.” (sabática), “Old Disaster”, “No Cross No Crown” (arrastada e psicodélica) e “Son and Daughter”.
Sendo assim, “No Cross No Crown” é o resumo de uma banda com sangue nos olhos, reforçando a atitude engajada da parcela “punk” de seu DNA musical, retomada nos dois álbuns anteriores, fato provado na visceral “Cast the First Stone” e na sincopada “Wolf Named Crow”.
Além disso, existe um espírito roqueiro mais aflorado, aquele advindo do libidinoso blues rock (como explicitado em “Little Man”) de tons setentistas, mas à maneira rústica e metálica do Corrosion of Conformity.
Junto a esta famigerada personalidade temos eficientes passagens climáticas tão usuais no gênero, aqui desenroladas em faixas curtas e instrumentais, que soam como alívios experimentais (mais elásticos na faixa-título), que oxigenam o trabalho.
Este é um artifício inteligente, com destaque ao sabor southern de “Matre’s Diem” e a dissonância soturna de ” Sacred Isolation”.
Em meio ao mar de pretensão e mais do mesmo do stoner atual, este disco é uma ilha de criatividade, inteligência e bons serviços prestados ao gênero, usando das modernidades para arejar sua sonoridade clássica e conjurar um dos melhores discos que veremos em 2018.
Confira o clipe de “Wolf Named Crow”… [youtube https://www.youtube.com/watch?v=fIfv7BKvtI8&w=560&h=315]
Confira o clipe de “The Luddite”… [youtube https://www.youtube.com/watch?v=TusKotRru_c&w=560&h=315]
Confira a faixa “Cast the First Stone”… [youtube https://www.youtube.com/watch?v=ljxyItzRZm4&w=560&h=315]
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