RESENHA | Threesome – “Keep on Naked” (EP, 2017)

 

Quando lançado em 2014, “Get Naked”, primeiro álbum da banda paulista Threesome chamou a atenção pela mistura interessante que fazia.

Era um rock simples, que dialogava de modo inflamável com referências setentistas e sessentistas, sem firulas, com solos de guitarra incendiários, além de alta dose de sensualidade advinda dos espectros bluesy (como em “Becky Blues) jazzísticos (em “Crawling”, por exemplo, que é sensacional) que permeavam o material.

Ali já impressionava a destreza e criatividade para remodelar a matéria prima do rock com a crueza exata e a organicidade precisa para imprimir o passado por tintas musicais modernas, e letras provocativas, que estimulam a reflexão.

Threesome - Keep on Naked

 

Agora temos “Keep On Naked”, um EP lançado em 2017, cujo título significa claramente uma continuidade, ao mesmo tempo em que propõe sutilmente uma maior “intimidade” com sua personalidade musical.

São três faixas:  duas regravações do disco de estreia, “Every Real Woman” e “Why Are You So Angry?”, e uma faixa inédita, “My Eyes”, onde reafirmam sua criatividade e sua maturidade ao desconstruir-se.

“Why Are You So Angry?” se transmutou em “Sweet Anger”, e “virou praticamente outra composição”. Com mais peso, “Sweet Anger” se tornou uma irmã gêmea de “Why Are You So Angry?”, com mesma letra, mas personalidade diferente, mais hard rock, lascívia e organicidade, com algo de sleazze nas guitarras de Fred Leidl e Bruno Manfrinato, e muita envolvência na voz de Juh Leidl.

Ou seja, temos um processo de auto-lapidação impresso pelas vicissitudes que confrontam uma banda, como bem explica o baterista Henrique Matos: ““Get Naked foi concebido em nosso home studio, então tanto em relação à qualidade de gravação ou quanto à própria composição e arranjos, achamos que poderíamos fazer melhor.”

E realmente no quesito produção o salto de qualidade é grande, e sem perder a honestidade e crueza anterior.

Ainda segundo Matos, “com a saída do Bruno Baptista da banda, a Juh Leidl assumiu as vozes principais de algumas músicas e isso causou uma necessidade natural de mudar as linhas vocais, caso da “Every Real Woman”, que agora adquiriu um tom mais provocativo ainda”. 

Em na nova encarnação desta composição, intitulada como “ERW”, Juh soa mais confiante em seus vocais, num rock básico e infalível, arejando classicismos e pichando-os com tinta moderna.

Por estas duas regravações fica claro que deram uma injetada de hard rock em suas linhas, e  pincelam mais técnica instrumental, principalmente nos solos de guitarra, mas nada que deixe a sonoridade pretensiosa, dando apenas mais corpo e poderio de cativar à dinâmica do Threesome, agora apresentada numa produção mais eficiente.

Vale ressaltar que a banda registrou as músicas ao vivo direto no gravador de rolo, o que deu ainda mais vida a essa composições, principalmente no alicerce da seção rítmica de Bob Rocha  (baixo) e Henrique Matos.

Olhando para a faixa inédita, “My Eyes”, vemos um futuro promissor para a banda, afinal esta faixa só comprova como possuem a sonoridade que desejam nas mãos e se divertem, com inteligência e sensualidade, ao moldá-la pela forma primitiva e lasciva que o bom rock n’ roll deve ter, com destaque ao vocal insano do guitarrista Fred Leidl.

Tente resistir ao refrão desta música e falhe miseravelmente!

“Keep on Naked” é claramente um ponto de transição e apuro musical na carreira da banda, mas com altíssimo potencial e ampla perspectiva de crescimento, o que nos faz aguardar ansiosamente pelo próximo full lenght, pois até mesmo com esse rápido trabalho a satisfação é garantida!

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