Seu Juvenal – Resenha de “Rock Errado” (2016)

 

“Rock Errado” é o terceiro álbum da banda Seu Juvenal, oriunda de Uberaba-MG

A mensagem impressa no título deste álbum já nos deixa esperançosos quanto a sagacidade, seja lírica ou musical,  apresentada nestas composições, afinal, se não existe uma forma certa para o Rock N’ Roll (pois, por definição paradoxal, este só é legítimo se desobedecer até mesmo as suas próprias regras), por consequência também não existe uma forma errada!

Ironicamente, poucas capas do Rock Nacional são tão espiritualmente roqueiras e impoliticamente corretas quanto esta estampa que embala o novo trabalho do Seu Juvenal.

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Seu Juvenal: “Rock Errado” (2016, Sapólio Radio)          NOTA:8,5

Esta quebra de “normas” é a essência da música do Seu Juvenal, auto-apresentada como muito punk para ser metal e muito vintage para ser indie, sendo, ao meus ouvidos, acima de tudo uma banda que te fará pensar.

Pensar sobre os versos, pensar sobre a música, pensar e repensar sobre a arte.

Quando foi formada em Uberaba, no Triângulo Mineiro, em 1997, eles atendiam pelo nome de Os Donátilas Rosários.

Como não recebiam muitos convites para shows por serem considerados “estranhos demais”, acabaram mudando para Seu Juvenal.

Cronologicamente,  seguiram a demo “Cyberjecas no Sertão da Farinha Podre”, os discos “Guitarra de Pau Seco” (2004) e “Caixa Preta” (2008), e uma mudança para a cidade de Ouro Preto/MG onde chegaram à formação atual que registrou “Rock Errado”, um conjunto engajado, corajoso, e honesto de faixas, fruto de um processo conjunto de composição.

O baterista Renato Zaca analisa bem a natureza contestadora da banda:

“Nós não somos bonitos e nem coloridos. Não tocamos na rádio e não nos enquadramos em nenhum segmento. Fazemos rock do jeito errado para os padrões do politicamente correto”.

Como ilustrações destas palavras temos as faixas “Asfalto” e “A Chuva Não Cai” que farão os puristas se rasgarem pela mistura do transgressor Punk Rock com os “modismos” do indie.

Mas a banda vai além do punk e indie, possuindo pinceladas da vanguarda paulista (de nomes como Jards Macalé, Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé), bem como doses de lo-fi, metal, indie, punk, grunge, classic rock, post-rock e rock brasileiro (principalmente nos refrãos imperativos que lembram as épocas de ouro do Camisa de Vênus e dos Titãs), muito bem diluídos e amalgamados num perene clima cru, rústico e honesto de jam band.

Essa amplitude musical vasta, cheia de influências, ao contrário que se teme, resulta em um todo coeso, moderno, eloquente, musicalmente livre, desenvolto e inteligente, muito bem produzido e com timbragens orgânicas.

Pontualmente, destacam-se faixas como “Homem Analógico” (instrumental bem ajambrado emoldurando versos sarcásticos), “Free Ordinária” (raivosa, sincopada, recheada de efeitos e envolvente), “Rock Errado” (perfeito resumo do álbum),  “Moleque Dissonante” (versos tão engajados e honestos que enchem de desconforto aos ouvidos acostumados ao politicamente correto), “Burca” (arranjos inquietantes) e “Louva-a-Deus” (um stoner de riffs sabáticos).

Segundo Zacca, o Seu Juvenal é uma banda obstinada a trair movimentos, todavia, aos meus ouvidos, nenhum movimento musical tem condições de exigir fidelidade a um espirito musical tão livre!

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