Sacrificed – Resenha de “Enraged” (2018)

 

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Sacrificed – “Enraged” (2018, Shinigami Records)

O legado mineiro é um dos mais relevantes dentro do heavy metal nacional.

Bandas como Sepultura, Sarcófago, The Mist, e Overdose, ou mais recentemente Uganga e Drowned, ajudaram a construir uma tradição que agora ganha mais um nome a defender a herança metálica da Terra das Alterosas, o quinteto Sacrificed.

Oriunda da capital mineira, Belo Horizonte, a banda Sacrificed apresenta o sucessor de “The Path of Reflection” após sete anos, intitulado “Enraged”.

São onze novas composições construídas sobre uma forma coesa de heavy metal, transitando entre o tradicionalismo das guitarras dobradas e do peso melódico nervoso, tão cativantes nos moldes modernos.

Nesse contexto, a dinâmica precisa vem da variação de velocidades, pesos e até mesmo estilos. Por vezes os arranjos resvalam no thrash metal (como na ótima “Shame”) e existem até algumas remissões a certos tradicionalismos, principalmente na fórmula infalível do heavy metal de refrão forte com riffs poderosos, ou nas dobra melódicas das guitarras à lá Iron Maiden de “Oblivion”.

Tudo isso bem trabalhado em estúdio pela produção de Lucas Guerra, que tirou os movimentos enrijecidos de cena, dando espaço a uma musicalidade natural e fluida, com o peso bem distribuído, adrenalina contagiante e movimentos climáticos inteligentes, que tangenciam o progressivo (como em “Interlude”).

Existe até o pé fincado no lamaçal (no bom sentido sueco da coisa) do death metal melódico em “Into the Hive”, com bases mais sujas e um dueto de vocais guturais com femininos muito eficiente!

Também fica perceptível como estes sete anos serviram para um amadurecimento do Sacrificed como compositores, ampliando suas influências, mas sem descaracterizar sua personalidade.

Fato marcado já na abertura com “Meet Your Fate”, com percussão bem inserida e passagens criativas que contribuem para chamar a atenção já de saída, e o mezzo samba mezzo bossa nova que antecede o solo nervoso de “Oblivion” é genial.

Isso sem falar nas mais sutis, como o ritmo quebrado, quase jazzístico da cozinha inicial de “Dear Killer”. Essa é uma das faixas (dentre outras) onde o salto técnico é visível nos arranjos. Uma faixa climática na medida certa, de melodias livres e sinuosas nos arranjos arrojados.

A energia do Sacrificed continua intacta após estes anos, mas as formas estão mais criativas e melhor definidas. Confira faixas como “Spiral Down”, a já citada “Meet Your Fate”, “Thick Skin” e me responda se efetivamente não redirecionaram o metal tradicional, e seus ganchos saborosos, para a modernidade?

Outro ponto extremamente positivo de “Enraged” reside no encaixe das linhas vocais de Kell Hell, com força e versatilidade (em “Shame” ela mostra influências para além do heavy metal), chegando a me lembrar Kimberly Goss, do saudoso Synergy, e Cristina Scabbia, do Lacuna Coil, mas com a classe melódica da rainha Doro Pesch. E, sem dúvidas, “To Whom You Belong” é uma balada onde sua voz brilha pela emoção.

Além disso, as guitarras de Diego Oliveira e Sérgio Barbieri são preciosas e precisas, com peso, alta musicalidade, mas sem exibicionismos mesmo com um dose de ousadia técnica.

Suas habilidades permitem ir de linhas thrash metal a desdobramentos do hard rock moderno na mesma música, sem soar truncado, usando heavy metal tradicional como ponte. Uma destreza técnica que soa sempre pertinente e nunca exibicionista, e a prova disso está em “Refugees” (uma balada ao violão e voz excelente).

Isso tudo sem falar na forma como colaram os arranjos alheios ao heavy metal! Só ouvindo pra entender como elementos que poderiam mascarar uma mudança sonora só reforçam ainda mais a identidade do Sacrificed pela preocupação exposta com cada mínimo detalhes em cada faixa.

Uma fórmula lapidada, sem dúvidas, nos palcos. De personalidade energética, timbragens polidas, mas longe da artificialidade, aliás, tudo soa orgânico e espontâneo em “Enraged”. Até a nítida divisão não anunciada entre as faixas, separadas por dois curtos interlúdios para os respectivos momentos do trabalho, soa natural e contextualizada ao todo.

Claro que sempre existe algo que possa ser melhorado, ainda mais quando vivemos num universo em constante movimento e evolução. Todavia, confesso que passei uma audição das muitas que fiz de “Enraged” tentando apurar alguma coisa que me desagradasse neste disco e não consegui encontrar. Tudo aqui é bem pensado, tem seu lugar, transpira heavy metal, dialoga com a modernidade, sem deixar de ser eletrizante! Sendo assim, não dá pra conferir menos que a nota máxima!

Que D-I-S-C-A-Ç-O!

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