Perc3ption – Resenha de “Once and For All” (2016)

 

Confesso que não conhecia o trabalho do Perc3ption até que “Once and For All” chegou em minhas mãos e se revelou a mais grata surpresa do ano, no âmbito do Heavy Metal.

Eis um álbum para os que apreciam uma exploração impiedosa do bom gosto musical e do peso racional! Não se engane pela capa melancolicamente gélida, tal conceito está longe do que se escuta nestas nove faixas flamejantes, que promovem uma bem vinda oxigenação na fusão do Power Metal com o Progressivo.

Tudo bem que a banda pende muito mais para o segundo estilo, talvez um simples corolário da excelência que demostram como músicos ao longo de todo o trabalho.

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Perc3ption: “Once And For All” (2016, Shinigami Records)

Neste conjunto de canções que formam o segundo álbum do quinteto brasileiro, lançado via Shinigami Records, a musicalidade é acachapante, desfilada por arranjos brilhantes e andamentos versáteis, que permitem o entrelace de peso, técnica e melodia com muita naturalidade, desprezando a agressividade gratuita.

Claro, não podemos negar que os cacoetes tradicionais do Power Metal se fazem presentes, principalmente na excelente faixa de abertura, “Persistence Makes The Difference”, e no primeiro single, “Magnitude 666” (que inclusive conta com a participação de Rodrigo Ninrod, sendo a faixa mais pesada e sombria do álbum), mas eles vão além do lugar comum, com doses homeopáticas de elementos sinfônicos e esbanjando sagacidade melódica nos refrãos.

Nesse contexto, o Power/Progressive Metal aqui praticado vem emoldurado por linhas de guitarra inspiradíssimas e brilhantes, à cargo de Glauco Barros e Rick Leite, que esbanjam talento nas seis cordas, situando a banda no ponto médio entre a abordagem musical de bandas como Threshold, Kamelot e Evergrey, e o apelo emocional do Pain of Salvation, adornando as canções de modo preciso e pontual, com detalhes ricos, mas sem saturar os arranjos.

A versatilidade vocal de Dan Figueiredo (é impressionante como o transito dos vocais rasgados para os limpos ou ríspidos é fluido) e a diversidade musical dão uma dinâmica imprevisível às canções, que as tornam envolventes e muito bem alicerçadas por uma bateria (à cargo de Peferson Mendes) que mostra eficiência, mas não agride as composições e por um trabalho de baixo impressionante (à cargo de Wellington Consoli), com timbragem encorpada e vibrante.

Estas observações são muito bem delineadas na trilogia final do álbum, que formam uma composição épica e indissociável.

Todavia, está na quadra “Oblivion’s Gate”“Rise” (que aos meus ouvidos funcionaria melhor como primeiro single e tem teclados de Edu Falaschi), “Immortality”“Braving The Beast” o que faz deste álbum de excelência ímpar, revelando um isolado sincopado jazzístico, em meio a momentos mais acessíveis que se valem da oscilação melódica mais limpa para a mais agressiva, e isoladas linhas de teclados que flertam com os arranjos classudos da música pop.

Por fim, o Perc3ption conseguiu, com extremo refinamento, ousadia e sensibilidade musical, manipular peso e melodia, direcionando o contraste para o lado emocional, com muita personalidade, manufaturando um álbum desconcertantemente bom!

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