Origens – “Origens, parte 1” (2017 | 2022) | Resenha

 

“Origens”, primeira parte da trilogia musical que celebra a trajetória de vinte anos pelas estradas roqueiras do baixista Alessandro Aru, reunindo vários amigos em torno de um projeto desenvolvido a partir de várias de suas composições. O disco foi lançado em 2017 digitalmente pela Abraxas e que, em 2022, ganhou uma edição luxuosíssima, e limitada em 300 cópias, em vinil duplo, colorido, pelo selo Zenyatta Records. Abaixo você lê nossa resenha deste excelente disco.

Origens, parte 1 - Alessandro Aru em vinil

Ainda estou me recuperando da impressionante viagem musical que o baixista Alessandro Aru proporciona em “Origens, Pt. 1”, seu primeiro trabalho solo, e a necessidade de escrever sobre ele é compulsória. Natural de Maceió, o baixista foi um dos integrantes originais da banda Mopho, com técnica influenciada por nomes clássicos do Rock, como John Paul Jones (Led Zeppelin), John Entwistle (The Who) e Jack Bruce (Cream), desfilada ainda nas bandas Cores Astrais, Santo Samba, Cachorro Urubu e Messias Elétrico – essa última da qual é membro fundador e possui dois discos lançados pela gravadora Baratos Afins.

“Origens, Pt. 1” celebra esta trajetória de vinte anos pelas estradas roqueirasreunindo vários amigos, integrantes de diversas bandas do cenário alagoano, em torno de um projeto desenvolvido a partir de composições do baixista (algumas delas compostas originalmente no baixo elétrico), resultando numa uma obra conceitual concisa, uma verdadeira suíte em seis partes misturando psicodelia, bucolismo, folk, progressivo, e Hard Rock, com elementos roqueiros típicos dos ares brasileiros pré-1982.

Neste sentido, vemos entremeados às influências estrangeiras, nomes como A Bolha, Casa das Máquinas, e Necro, dentro da ciclotímica variação de proto-metal e psicodelia progressiva, sendo que mesmo nas faixas mais acessíveis existe um diferencial. “Parte I” abre o álbum com um Heavy Rock de vocais melodiosos, remetendo aos Mutantes, e com aquela timbragem de aconchego febril e solo psicodélico. Por aqui já temos a dimensão da aura mística advinda da timbragem retrô, de teclados borbulhantes e cacoetes de Classic Rock, com um fuzz mais explícito aqui, e uma viagem mais progressiva acolá, tudo com muita energia e organicidade.

Este primeiro momento se mostra relativamente mais acessível, assim como acontecerá no desfecho folk da sexta parte, nas vocalizações finais da quarta parte, e na stoneana “Parte V”, apesar de sua tempera Avant Garde à lá Frank Zappa. Outros momentos são mais intrincados, de geometria assimétrica nos arranjos e nos andamentos variados, numa explosão de texturas e pesos, linhas vocais calorosas entoado versos etéreos e contemplativos em português, bem exemplificados nas partes “II” (uma longa faixa com cacoetes progressivos e metálicos, quase um proto-metal, de desfecho emocional brilhante), e “III” (bem mais rock n’ roll, com pegada aos moldes do Deep Purple, pelos teclados incisivos, e passagens viajantes).

O trabalho de guitarras, com fraseados cheios de personalidade invocando espíritos conjurados inicialmente pela santa trindade Zappa-Beck-Paige, é um dos destaques instrumentais, guiando as composições que possuem uma liberdade que beira o flerte jazzístico em certos momentos de mergulho em jam sessions (exatamente quando as composições inflamam com mais intensidade). Não obstante, a gaita em comunhão à guitarra limpa da “Parte IV”, melhor do trabalho, mostra que o Blues está mais presente por aqui do que o denso caldo musical deixa transparecer, numa composição acachapante, com guitarras vertiginosas, vocais hipnotizantes, e flertes southern.

Nesta dinâmica, o conjunto da obra consegue ser emocional e bem trabalhado por uma viagem sem rumo ao longo da alta classe instrumental de sonoridades envolventes e viajantes, visualmente resumidas na capa altamente lisérgica. Pode até parecer que não seguem formalidades ou padrões estílicos, mas esta alucinada viagem roqueira tem regras rígidas de timbragens, evoluções, e até mesmo de assimetrias estruturais (por mais paradoxal que isso possa parecer), refletindo um projeto maduro, pesado, progressivo, mas também psicodélico.

“Origens, Pt. 1” é a primeira parte de uma trilogia, nos deixando instigados se os outros três lançamentos também ganharão este tratamento luxuoso em vinil, pois as demais partes são tão interessantes ou até mais do que esta primeira.

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