RESENHA | Mickey Junkies – “Since You’ve Been Gone” (2016)

 

“Since You’ve Been Gone” comemora os 25 anos de fundação do quarteto de Osasco, Mickey Junkies, que voltou aos palcos com a mesma formação que fez história no cenário musical de 1991 e 1997.

Mickey Junkies - Since You've Been Gone (2016, Shinigami Records)

Confesso que até ler o livro “Magnéticos 90”, de Gabriel Thomaz e Daniel Juca, eu era um ignorante quanto a existência da banda Mickey Junkies.

Não que ali tenhamos um tratado sobre a banda, mas um inteligente e despojado traçado do panorama alternativo noventista através do universo das fitas K7 demo.

Ali estava um esboço da “capa” da fita do Mickey Junkies, que me chamou a atenção pelo nome.

Será que tinham alguma influência do Cowboy Junkies, ou simplesmente queriam subverter um ícone infantil numa alegoria autorreferencial?

Os bem vindos tempos modernos me permitiram, em 2016, ter acesso à fita demo de 1992, através do Youtube e perceber que a segunda ilação era mais próxima da plausibilidade.

Na verdade, tínhamos ali uma interessante exploração alternativa do punk rock, com peso e ousadia, numa mistura de Nirvana e Sonic Youth, batido num liquidificador garage punk!

E qual não é a minha surpresa quando, no dia seguinte chega em minha mãos “Since You’ve Been Gone”, novo álbum deste ícone do Rock Alternativo nacional, enviado pela Shinigami Records!

Em 2007, após dez anos do final das atividades, o Mickey Junkies voltou aos palcos com a mesma formação que fez história no cenário musical de 1991 e 1997: Rodrigo Carneiro (voz), Érico Birds (guitarra), André Satoshi (baixo) e Ricardo Mix (bateria).

A banda já recebeu elogios de Jello Biafra e Dave Grohl, dividiu palco com Fishbone e esteve em festivais como Juntatribo, Goiânia Noise Festival e Virada Cultural.

“Since You’ve Been Gone” foi lançado em novembro de 2016, pelo fato da banda ter estreado oficialmente na capital paulista, na extinta casa noturna Dynamo, no dia 27 de novembro de 1991.

Distribuído pela Shinigami Records com exclusividade, o trabalho conta com dez faixas, que inclui composições novíssimas e outras nunca antes registradas em disco, e vem numa charmosa versão em CD Digipack.

Ok! Mas e as músicas?

Posso dizer que o amadurecimento musical nestes vinte e cinco anos é impressionante, saindo de cena a visceralidade do início, dando espaço a músicas trabalhadas sobre riffs com pegada blues, timbragem moderna, trazendo toda a sua pujança sonora para a formatação do Rock alternativo atual.

“Nothing To Say”, por exemplo, abre o álbum como uma transmutação do blues por vias alternativas, abrindo o álbum com maestria.

O crooner Rodrigo Carneiro soa como um empostado amálgama versátil de Mike Patton, Lou Reed e Ian Astbury, enquanto as guitarras de Érico Birds desconstruíram as linhas de Jack White, dando mais distorção e poeira stoner aos riffs e solos.

 Sustentando esta sonoridade rica temos linhas de baixo groovadas e engorduradas e uma pulsante bateria.

Para fixar ainda mais as influências bluesy do trabalho, a faixa-título traz, além de brilhantes e sinuosas linhas de baixo, cortantes arranjos de harmônica à cargo de Ed Junior.

Essa faixa, em especial, amplifica a impressão de que estamos diante de um Faith No More surgido das areias de Palm Desert, na Califórnia, com uma mistura de Blues, Rock Alternativo, Grunge, Heavy Metal, Punk, Hardcore e leve psicodelia desértica (como na lenta e poderosa “Sweet Flower”, com uma narração poética em um de seus andamentos, sendo a faixa mais antiga do trabalho, presente naquela supracitada demo tape de 1992).

Confira ainda as ótimas “Use Me (To Move On)”, “Tryin’ To Resist” (com seus belos riffs de blues disfarçados por distorção, batida envolvente e vocais que remetem aos anos 1980), “Big Bad Wolves” (empolgante e com um toque à lá Hendrix nas guitarras), “Alguma Coisa” (cover do DeFalla) e “A Tired Vampire” (um southern/blues diferente).

Um álbum que não peca pelos excessos e nem abusa do despojamento tão inerente às vertentes mais alternativas.

Tudo tem seu lugar, em composições esmeradas, que não perdem em espontaneidade em meio a uma produção orgânica, complementando um trabalho inteligente que será lembrado, em alguns anos, como um clássico do Rock Brasileiro.

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