Imago Mortis – Resenha de “LSD” (2018)

 
imago mortis - LSD
Imago Mortis: “LSD” (2018, Die Hard Records) NOTA:10

Desde sua gênese, em meados da década de 1990, o Imago Mortis impressiona pela profundidade de sua música. Tanto no que tange ao heavy doom praticado, quanto pelo alto teor teor filosófico de suas letras. 

“LSD”, novo álbum que chega após mais de uma década (o último capítulo da discografia era “Transcendental” [2006]), vem reafirmar todas estas tradições com o alto nível que sempre marcou a trajetória da banda, assim como anunciado pelo selo de Plutão centralizado na capa criada pelo designer Alcides Burn.

Fruto de uma campanha de crowdfunding que visava  financiar a conclusão das gravações, masterização e o lançamento, “LSD” é um disco conceitual que oferece “uma visão epistemológica sobre o mito do amor romântico”.

O conceito foi inspirado pelos estudos de Helen Fisher acerca de filosofia, arte, poesia, e existencialismo, sendo LSD um acrônimo para Love, Sex And Death, “fazendo alusão às substâncias químicas que provocam a ‘paixão’”.

Musicalmente, temos uma prefeita justaposição de peso e requinte, com variação envolvente de andamentos, contextualizados à densidade e dramaticidade do gênero que constrói o alicerce destas doze novas faixas.

Os arranjos são inspirados, pormenorizados, com temperos experimental e oriental bem administrados, remetendo a trilhas sonoras em diversos momentos (como no terço final com “Exile” e a filosófica “Epitáfio de um Amor”), ao mesmo tempo que percorrem o espectro do metal extremo em passagens que até intimidam pela selvageria.

Isso tudo já fica pincelado na épica faixa de abertura, “The LSD Theorem”, com apelo oriental na introdução, melodias lentas e pesadas de guitarra, teclados climáticos, ambientação ora épica ora viajante, e muita emoção nos vocais versáteis de Alex Voorhees, desenhando um resumo do que veremos ao longo do disco.

Destaque às participações de Julia Crystal nos vocais em segundo plano e Tiago Connall no Derbak e no Bodhrán, instrumentos de percussão que também aparecem em “Hieros Gamos”, um heavy metal contundente e com potencial de virar um dos clássicos da história do Imago Mortis, assim como “Two Headed Chimaera” (com a participação da cantora Mariana Figueiredo), “Black Widow” (um heavy metal de primeira categoria) e “Love Sex And Death (Theme)”.

Os movimentos progressivos e as nuances de música clássica formarão uma suíte de opostos com os tons modernos do heavy metal, que se completam, se anulam e se aproximam, mostrando amadurecimento no uso do atrito entre contrastes que já eram eficientes, por formas mais soturnas, no longínquo e excepcional “Image From The Shady Galley” (1998), e agora atingem seu ápice em “A Farewell Kiss”, minha faixa favorita de “LSD” por fazer do heavy metal obra musical inteligente e sem amarras estílicas.

“Binary Viscerae”, outro exemplo desta observação, traz uma rápida abertura jazzística  até resvalar no fascínio profano do metal extremo moderno entremeando momentos vigorosos à sua prosa refinada e de construção engenhosa, num contraponto ao requinte da abertura, enquanto o desfecho de  “Hieros Gamos”, brutal  e violento, quase death metal, abre espaço para a balada de texturas mais leves, intitulada  “Incantation”. 

Esta, junto a “The Promise” (com a participação da cantora Julia Crystal) e “Alone” (com linhas vocais remetendo ao metal oitentista e outro ponto alto do repertório), mostram que as melodias tristes e sombrias permanecem reafirmando a escuridão que vive no âmago da mente humana, evidenciado que a sensibilidade para moldá-las pelo peso e alta musicalidade de Alex Vorheess continua a mesma.

Ao lado do vocalista temos Daemon Ross e Rafael Rassan nas guitarras que esbanjam feeling  e bom gosto sem esquecer do peso; Charlie Soulz nos teclados onipresentes; Paulo Ricardo Silva no baixo; e André Delacroix  (também do Metalmorphose) na bateria.

Uma formação técnica e experiente criando um novo capítulo de uma das bandas mais interessantes dentro do metal nacional, que chegou a anunciar seu fim em 2010, como se a mensagem a que o Imago Mortis foi incumbido tivesse sido passada na trilogia de álbuns gravados até aquele momento.

Até por isso, “L.S.D.” pode ser visto como o recomeço de uma banda que se desloca na fronteira fascinante entre o erudito e o popular, praticando uma forma complexa, pesada, provocativa e renovada de heavy metal, mas que empolga, invade o cérebro e cativa pelo suspense quase cinematográfico carregado na ambientação com imprevisibilidade.

Por fim, temos uma performance bem trabalhada em estúdio pela produção do próprio Alex Vorheess, que não só deu um show de versatilidade vocal como equilibrou perfeitamente o peso e a alta musicalidade pela organicidade bem lapidada que permite desenhar uma paisagem sonora, extrapolando o sentido da audição.

“L.S.D.” é um disco que carece de repetidas audições para ser assimilado, sendo que ela lhe dirá coisas diferentes em cada uma delas, e fatalmente será difícil tirar dele o posto de melhor disco do heavy metal brasileiro em 2018!

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