Facção Caipira – “Homem Bom” (2015) | Resenha

 

“Homem Bom” é o álbum de estréia da banda Facção Caipira.

Aqueles que acham que o Rock possui regras rígidas, que devem ser seguidas à risca podem se privar  de um conjunto tão engajado, corajoso, e honesto de faixas como o apresentado em “Homem Bom”, simplesmente pelo preconceito que o nome da banda pode gerar em suas almas manchadas pelo fanatismo.

A estes peço que deem uma chance a este ótimo álbum de Rock Nacional.

Facção Caipira - Homem Bom (2015, Toca Discos) Resenha Review

O que a banda Facção Caipira nos apresenta é um interessantíssimo e moderno amálgama de Country/Blues/Rock, abusando de variações em passagens e andamentos.

Mas não se engane, aqui é o Rock N’ Roll empoeirado e maciço como uma locomotiva que avança pelas linhas menos complexas de Blues e pela acessível ambientação Country.

Nascida em 2009, a banda Facção Caipira, formada por Jan Santoro (Voz/Resonator), Daniel Leon (Gaita), Vinicius Câmara (Baixo) e Renan Carriço (Bateria), tem autonomia criativa acachapante em torno do Pop/Rock moderno, transpirando originalidade, crueza, diversão, empolgação e malícia, canalizados em faixas indefectíveis como “Trapaceiro”, “Ex-Fumante” (essa com pegada Western/Latino), “Dois Pra Lá Dois Pra Cá” (com passagens burlescas e linhas apaixonantes de harmônica), “Comédia Romântica” e “Ressaca” (quanto bom gosto!).

“Pedrada” abre o trabalho com muita energia, naipes cortantes de harmônica e linhas versáteis de resonator que ainda se apresentarão plenamente pelo álbum.

De cara já vemos que estamos diante de músicos talentosos e entrosados que vão além da simples referência de influencias, estilos e nomes, eles dialogam com o passado.

Entenda que nestas faixas a banda não usa apenas tradicionalismos norte-americanos, mas também pinceladas de regionalismos brasileiros (como em “Blues Brasileiro Foragido Americano”, com versos bem sacados e de múltiplas referências, além de “guitarras” impecáveis) e ambientação bucólico/interiorana em alguns momentos (como bem mostra o Blues/Pop “Homem Bom”).

A cada faixa que evolui, o trabalho da cozinha, muito bem timbrada e encorpada, salta aos ouvidos, indo além do simples preenchimento dos espaços e alicerce das harmonias.

“Tiro e Queda” é uma canção que impressiona pelo peso e pela rusticidade instrumental que daria orgulho a Neil Young, além de esmerado trabalho vocal e arranjos que remetem ao Cracker Blues, talvez a banda nacional que mais se aproxima da abordagem da Facção Caipira, principalmente nesta faixa que tem uma maior pegada Country/Blues.

Antes de fechar a resenha, dois elementos devem ser enaltecidos como partes importantes do sucesso deste trabalho: 1) a cadência carioca nas linhas e cacoetes vocais que remetem ao jeito bluesy do Barão Vermelho do primeiro álbum, principalmente nas linhas de Blues mais escrachadas; e 2) o trabalho impressionante e versátil de “resonator” (violão com corpo de metal, muito  popular entre músicos de Blues, Bluegrass, Country, e Hawaiian), sendo o instrumento guia desta ousada banda nacional, em sua timbragem áspera, crua e rústica, como bem explicita a ótima faixa “Levada”.

Palmas finais para a arte gráfica belíssima, muito bem contextualizada à abordagem sonora da banda e para as letras muito bem sacadas.

Não deixe de conferir este trabalho (que pode ser baixado no site da banda, ou ouvido no plugin do Soundcloud abaixo), pois, quiçá, é a mais inteligente fusão de regionalismos, Blues, Country e Rock que o Brasil experimentou recentemente!

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