Rotting Christ, "A Dead Poem" (1997) | Você Devia Ouvir Isto

 

Confira a proposta desta seção aqui

Dia Indicado para ouvir: Sexta-Feira
Hora do dia indicada para ouvir: Vinte e três horas e trinta e cinco minutos.
Definição em poucas palavras: Sombrio, classudo, atmosférico, metal.
Estilo do Artista:  (neste álbum) Gothic/Black Metal.

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Rotting Christ (1997-2018, Century Media Records, Cold Art Industry)

Comentário Geral: Sim! Este álbum é um clássico do Metal noventista! Num ponto discográfico equidistante da aspereza primitiva dos primeiros álbuns e da ousadia experimental dos trabalhos mais recentes, este “A Dead Poem”, quarto full lenght da banda grega Rotting Christ, é uma preciosidade que se destaca dentro do conjunto de sua obra por ter personalidade própria e sabor diferenciado que marcaram uma época.

Com brilhantismo ímpar manufaturaram uma atmosfera obscura, sombria e requintada, erigida por colunas de melancolia e tristeza remetendo ao lirismo gótico, tanto literário de nomes como Nerval, Baudelaire e Goethe, quanto musical de Paradise Lost, Moonspell ou Samael.

Claro que a identidade da banda, construída por trabalhos como “Passage to Arcturo” (1991), “Thy Mighty Contract” (1993) e “Non-Serviam” (1994), a mesma que os colocou dentre os melhores nomes do Black Metal noventista, está presente nos cantos mais escuros dos arranjos, mas é fato que “Triarchy of the Lost Lovers” (1996), uma obra-prima do gênero, já apontava para uma nova direção menos primitiva, ainda com resquícios de certa crueza gélida, bem longe do radicalismo escatológico, porém poucos podiam imaginar um redirecionamento tão ousado.

Com um Rotting Christ caminhando ainda mais dentro da maturação e experimentação de sua sonoridade, “A Dead Poem” chegou carregando nas esfumaçadas tintas góticas dos tons melancólicos, arrastados, pesados, e depressivos, algo revelado já na participação especial do vocalista Fernando Ribeiro, do Moonspell, na faixa “Among Two Storms”, sem dúvidas um dos pontos altos do trabalho, e na brilhante produção deixada à cargo de Xy, da banda Samael.

Também reforçaram os aspectos mais secos do Heavy Metal, quase roqueiros (como já vemos explicitado na abertura “Sorrowfull Farewell”), mas sem deixar a agressividade vocal de lado, conseguindo, com sucesso, passar de partes bem melancólicas para passagens mais melódicas usando elementos naturais à banda, como bem delineado na instrumental “Ten Miles High” que serve de preâmbulo para a impactante “Between Times”.

O próprio Sakis, principal compositor do Rotting Christ reafirma em entrevistas da época o largo tempo dedicado na concepção deste trabalho, num processo que consequentemente lhes deu mais maturidade como banda, chegando a afirmar que “de longe, este é nosso melhor álbum”! Isso só o futuro podeira corroborar, mas o fato é que “A Dead Poem” superou o teste do tempo e àquele momento esta afirmação não era um exagero.

Além disso, ele afirmava que também este “A Dead Poem” não era efetivamente um álbum de Black Metal, mesmo que muitos rotulassem a banda deste forma. De modo geral, até mesmo o conceito lírico havia se transformado do sombrio para algo mais arcaico, dramático, e climático (confira a belíssima “As If by Magic”), trançado por densas guitarras góticas e teclados bem alocados.

Em suma, “A Dead Poem” é forjado num estilo cativante de se fazer heavy metal, com composições acessíveis dentro do experimentalismo proposto pela banda nesta fase, mas nada simplórias, evoluindo por passagens extremamente melódicas em contraste com a agressividade vocal, inserindo-se numa cena em ascendência, motivada quase que por um onisciente coletivo formado por nomes advindos do Black Metal como Samael, Tiamat, e Moonspell, ou do Death Metal, como foi o caso do Sentenced, novos entusiastas da requintada melancolia gótica trabalhada pelos moldes do Paradise Lost, por sua vez já vislumbrando novas paisagens musicais.

Mas não se fie a estas comparações, afinal o Rotting Christ transpira personalidade neste álbum, em canções que podem soar estranhas no princípio, principalmente aos ouvidos mais acostumados aos polos diametralmente opostos da sua discografia, mas que evoluem a partir da observação de detalhes que demonstram muita inteligência e criatividade ao desviar de sua estética musical pré-estabelecida, se encontrando na encruzilhada do Black Metal Melódico com o Gothic Metal, donde flui emoção a cada nota.

Neste contexto se destacam faixas como “A Dead Poem”, “Out of Spirits” (com trabalhos de guitarras e coros impecáveis), “Semigod” (com vozes limpas e melodias envolventes) e principalmente o desfecho com a excepcional “Ira Incensus”.

Sem apresentar álbuns iguais, o Rotting Christ se renovaria constantemente dentro de uma rica discografia, se tornando um dos nomes mais relevantes e interessantes dentro do metal extremo, com alta técnica, ousadia e melodia. Mas, principalmente, com “A Deam Poem”, mesmo fugindo um pouco mais de suas raízes, começariam a reforçar de modo mais contundente a sua distinção das cenas escandinava e teutônica do Black Metal que se desenvolviam no mesmo período.

Futuramente, a banda iria reencontrar sua essência no Black Metal, mas até os dias de hoje as marcas deste período de transição e auto-descoberta se encontram indeléveis em sua originalíssima personalidade musical.

Ou seja, VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO!

Ano: 1997 (relançamento nacional via Cold Art Industry em 2018).

Formação: Sakis Tolis (guitarras e vocais), Themis (bateria), Andreas (baixo), Panayiotis (teclados), e Costas Vassilakopoulos (guitarras)

Top 3: “Among Two Storms”, “Out of Spirits”, “Ira Incensus”.

Disco Pai: Paradise Lost – “Shades of God” (1992)

Disco Irmão: Moonspell – “Irreligious” (1996)

Disco Filho: Lucifer’s Child – “The Wiccan” (2015)

Curiosidades: O guitarrista Costas Vassilakopoulos e o tecladista Panayiotis são mencionados no encarte como parte do line up, mas eles não tocaram no álbum. Além disso, o recente relançamento nacional em luxuoso slipcase, via Cold Art Industry, traz como bônus versões ao vivo para “Sorrowfull Farewell” e “Among Two Storms”, selecionadas pelo próprio Sakis Tolis.

Pra quem gosta de: Mitos clássicos, experimentações, inquietude, arquitetura gótica, melodias sorumbáticas, Goethe e Baudelaire.

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