Tarja – Resenha de “The Shadow Self” (2016)

 

É impossível não estabelecer uma relação com o Nightwish quando se fala de Tarja Turunen.

Afinal, ela foi a vocalista da banda em sua melhor fase, sendo que a carta pública assinada pelos outros membros em que a demitia do posto de vocalista caiu como um bomba no meio da música, pois eles já estavam atingindo o mainstream.

Em outubro de 2006, chegava ao fim a era de Tarja à frente da banda, com muita turbulência, palavras fortes, exposição de assuntos pessoais e o educadamente formal desfecho onde se desejava  tudo de bom para a carreira da vocalista.

tarja the shadow self
Tarja: “The Shadow Self” (2016, Shinigami Records, earMUSIC)

A verdade é que Tarja conseguiu guiar sua carreira solo com mais solidez e padrão do que o feito pelo Nightwish após o álbum “Once” (2004), que, por sua vez, viu mais duas trocas de vocalistas, resultando em dois álbuns medianos com Anette Olzon e um espetacular com Floor Jansen.

O grande trunfo de Tarja foi tentar ampliar ainda mais seus horizontes, variando entre projetos eruditos e álbuns que mesclam suas influências clássicas com elementos da música pesada, investindo em projetos como o Outlanders, parcerias com Paulo Coelho e bandas como o Scorpions, além de aumentar seu reconhecimento dentro da cena erudita com o sensacional projeto Harus.

Nesta jornada, maturou sua abordagem musical, imprimindo muita naturalidade e personalidade à sua carreira solo, que iniciou em 2006 e chega, uma década depois (e com cinco álbuns na bagagem de sua carreira solo), com um consistente trabalho de reinvenção de sua sonoridade, que pende mais para o Hard Rock do que para o Heavy Metal em músicas muito bem compostas.

O bom gosto musical deste novo álbum já pode ser experimentado em “Innocence”, faixa de abertura que traz linhas de piano com inspirações eruditas, engolidas por guitarras pesadas e iluminada pela voz brilhante de Tarja, confeccionando uma melodia envolvente, que será desfilada ao logo de todo o álbum, onde se destacam “Demons In You” (com groove vigoroso, um pouco mais de agressividade e participação de Alissa White-Gluz), “Too Many” (tão leve quanto bela), “Supremacy” (cover do Muse, que ficou espetacular na voz de Tarja e com instrumental envolvente), “Calling From You” (que mistura metal, música erudita, pop e nuances góticas) e The Living End” (belíssima balada de leve tempero folk escandinavo).

Dentre e além destes destaques, o amálgama de elementos sinfônicos e metálicos é muito bem executado, conseguindo transitar das linhas efusivas às melancólicas com maestria, principalmente nos detalhes de piano, que em alguns momentos remetem ao romantismo febril de Chopin, além dos andamentos destemidos que apresentam fusões ousadas e variações dentro das próprias canções, que são casados a refrãos grudentos e melódicos, tornando envolvente a música altamente cerebral aqui presente.

A voz de Tarja funciona muito bem nesta roupagem menos pomposa e virtuosa, com guitarras modernas e sem firulas, bateria menos bombástica e sem a massa tilintante de teclados do passado, dando mais espaço para que ela execute com elegância suas variações vocais e diferentes interpretações em arranjos menos megalomaníacos e não menos excelentes, que até mesmo flertam com o rock n’ roll mais direto e pesado em alguns momentos (como em “No Bitter End”).

Neste novo trabalho, os teclados possuem um papel importante, imprimindo um sabor mais gótico e menos sinfônico, como nas faixas “Eagle Eye”“Undertaker” que possuem sabores gothic/pop mais acentuados.

É sensacional ver que Tarja, após uma década de sua conturbada saída do Nightwish, conseguiu não só criar uma identidade musical, mas também apresentar uma versão moderna de si mesma que é capaz de abusar, de modo inteligente, de musicalidades multifacetadas baseadas em simplicidades de extremo bom gosto, um reflexo de quem sente a música que entoa e não somente a vê como uma simples progressão musical de rigor quase matemático.

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