Pain of Salvation – “In the Passing Light of Day” (2017) | Resenha

 

“In the Passing Light of Day”,  é o décimo álbum de estúdio da banda sueca Pain of Salvation, lançado no Brasil por uma parceria dentre os selos Hellion Records e Inside Out Music.

Pain of Salvation In the Passing Light of Day (2017, Hellion Records, Inside Out Music)

A transmutação musical advinda das experiências humanas sempre foi a maior virtude desta banda. Seu maior trunfo!

Claro, sempre apresentando um grau elevado de técnica musical e sentimento, o Pain Of Salvation é um dos mais diferenciados nomes dentro da cena progressiva e seu mentor, Daniel Gildenlow, é um gênio ainda não aclamado, sendo que este esperado “In the Passing Light of Day” é fruto direto dos recentes anos de sua vida, que teria devastado muitas bandas ao longo do caminho, mas que, para estes artesãos do Metal Progressivo, foi transformado em arte.

A forma com que o Pain Of Salvation executa a música progressiva, quiçá, seja a mais original nos tempos modernos, acumulando mais acertos do que erros.

“On a Tuesday” já nos leva a inferir de imediato que os tempos mais pesados serão lembrados, além de evidenciar que a inventividade artística da Daniel está mais aflorada do que nunca, levando peso, melodia, e lirismo a uma salvagem dança exótica por entre arranjos melancólicos e brutais.

A experiência de escutar um novo álbum do Pain of Salvation sempre extrapola o senso musical, refletindo sobre experiências humanas, e neste “In the Passing Light of Day”, a sensibilidade está no seu limite, extravasada por linhas sincopadas, melodias gloriosas e versos intensos e pessoais.

Todo este contexto deu ao trabalho como um todo uma tonalidade mais sombria, que constantemente brinca com a dualidade dos arranjos intrincados, e com as melodias melancólicas. Esta observação já é corroborada na densa “Tongue of God”.

É fato que conseguiram reinventar sua sonoridade tão original, por ritmos e acordes desafiadores, sonoridades “maniqueístas”, e até mesmo atonais, como registrado em passagens de “Meaningless”, primeiro single, com participação brilhante de Ragnar, explicitando como Daniel amadureceu seu artesanato musical que brota através dos mesmos elementos de outrora, mas sem soar uma autocópia.

A cada avanço de harmonias e arranjos o álbum transmite emoção dentro do refinamento da geometria musical assimétrica que amplifica o poderio, até mesmo, do silêncio entre as faixas.

Quanto às performances, tudo é perfeitamente executado: os pianos estão brilhantes, as guitarras dão a tonalidade sentimental ao instrumental, enquanto a dupla baixo/bateria vai além do simples alicerçar das estruturas, tendo sua parcela de protagonismo aos ouvidos mais atentos aos detalhes.

Isoladamente, Daniel desfila, desconfio, sua melhor performance em estúdio, mas sem desmerecer o amparo técnico que Ragnar diversas vezes fornece. Muito se fala em Daniel quando mencionamos o Pain of Salvation, mas a importância que Ragnar tem para a banda, principalmente no quesito técnico, talvez seja tão equânime quanto a do mentor intelectual.

Se Daniel é o cérebro, Ragnar é a mola propulsora do trabalho.

Também abusam de texturas e ambientações, mesmo dentro de cada canção, como na balada “Silent God”, que é de cortar o coração, e em “Full Throttle Tribe”, que são envolvidas e aclimatadas no lirismo sombrio, viajante e apaixonante.

“Reasons” é uma faixa indescritível, trazendo peso e groove impressionantes, numa fusão entre os tradicionalismos da própria banda com o Meshuggah.

Definitivamente, isso é Metal Progresivo!

Quem disse que o estilo não pode ter peso e alma caminhando juntos, soando orgânico e longe do ufanismo técnico, não conhece o Pain of Salvation.

“Angle Broken Wings” brinca com linhas desencontradas de guitarra dentro do tempo da música, com solo arrepiante, enquanto “Taming of the Beast” tem uma pegada mais roqueira, se tornando uma das faixas mais envolventes do trabalho, mas sem se abdicar da densidade instrumental e da desenvoltura vocal.

“In the Passing Light of Day” narra uma história desordenada com um instrumental variando entre a emoção de “Remedy Lane” (2002) e a elegância de “Perfect Element, part I” (2000), como nos mostra “If This Is The End”, faixa de beleza inestimável.

Neste álbum o uso dos contrastes atingiu uma maestria poucas vezes vista de modo tão original.

A faixa-título dá cores finais ao álbum, reafirmando o negrume que vive no âmago de todas as cores da paleta de sentimentos humanos, numa jornada lenta e aconchegante, de melodia emocionante, com interpretação vocal acachapante de Daniel, como se ele, através da música, expulsasse os demônios de sua alma, os mesmo que se alimentaram de seus sentimentos enquanto lutava contra a séria doença que contraíra.

Sua voz soa como a de alguém que canta a vitória sobre a adversidade.

Um álbum sem defeitos, tipicamente progressivo, com seus épicos de longa duração, variação de andamentos e emoções, mas sem soar cansativo.

Muito disso se deve à produção de Daniel Bergstrand, que trabalhou com In Flames, Meshuggah e Devin Townsend, que conseguiu extrair uma sonoridade orgânica, mais rústica, mas modulada o suficiente para que a sensibilidade não fosse limada, ao contrário, a emoção está tão latente que quase pode ser tocada!

Um álbum comovente, pujante e dramático! Vai ser complicado superar este trabalho ao longo de 2017!

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