Orphaned Land – “Sahara” | Você Devia Ouvir Isto

 

Confira a proposta desta seção aqui

Dia Indicado Pra Ouvir: Sexta-Feira;

Hora do dia indicada para ouvir: Oito da Noite;

Definição em um poucas palavras:  Guitarra, Pesado, Sombrio, Oriental.

Estilo do Artista: Doom/Death Metal

Orphaned Land - Sahara Doom Death Folk Metal
Orphaned Land – “Sahara” (1994 – 2018, Shinigami Records)

Comentário Geral: Este é o primeiro disco do Orphaned Land, banda israelense formada em 1991, e que futuramente seria reconhecida por esforços pacifistas consistentes.

Construíram a partir deste dico uma discografia sólida explorando um personalíssimo folk/prog metal que gerou ao menos uma obra-prima – “Mabool – The Story of the Three Sons of Seven” (2004) – e alguns discos excelentes que a orbitam – como mais recente, “Unsung Prophets & Dead Messiahs” (2018), cuja resenha você pode ler aqui.

Obviamente, até por situar no princípio do processo evolutivo da personalidade do Orphaned Land, “Sahara” é um disco mais focado no death metal, distante dos apelos sinfônicos dos arranjos e da grandiloquência musical, mesmo que o tempero oriental já apareça em “The Sahara’s Storm”, faixa de abertura, em seus teclados iniciais.

Não que as pistas da fórmula desenvolvida futuramente inexistam, pois as tangências com o progressivofolk metal já podem ser percebidas na mesma faixa de abertura, mostrando uma banda diferenciada desde seu nascedouro, mesmo que as timbragens sejam mais cruas e a pegada mais agressiva.

Claro que os aspectos folk progressivo são  menos proeminentes em comparação ao que vemos hoje, mesmo porque este é um álbum com a inconfundível verve obscura dos anos 1990.

Já a marca hebraica se mostra forte neste início de carreira mais voltado ao metal extremo noventista.

“Sahara” foi gravado em Israel, e na sua segunda parte traz na uma regravação do EP “The Beloved’s Cry”, que precede o primeiro full length e aliada a esta identidade noventista mencionada anteriormente, pode a produção soar um tanto datada.

Todavia, a criatividade da banda suplanta essa impressão, nos deixando impressionados com o potencial que a banda já mostrava neste trabalho.

Na primeira parte, intitulada “Sahara”, chamam a atenção as guitarras versáteis, quase percussivas em certos momentos e, principalmente, os vocais que oscilam do gutural ao limpo, intercalado por um “canto de tons bíblicos”, que dão clima místico à perversão musical crua e incisiva da banda.

Além de  “The Sahara’s Storm”, faixas como “Blessed Be Thy Hate” (com vocais femininos de extremo bom gosto), e “Ornaments of Gold” (death metal de primeira grandeza) criam um universo musical próprio ao Orphaned Land usando suas formas de expressão étnicas e as referências que escolhe.

Já “The Beloved’s Cry”, a segunda parte evidencia a capacidade do Orphaned Land em criar climas, fato notado já em “Seasons Unite” (com linha de baixo precisa guiando um groove disfarçado) ou na belíssima “The Beloved’s Cry”.

A divisão se assemelha bastante com a do vinil. Com duas aberturas bem definidas, dois ápices musicais e dois desfechos bem criados.

Existe, mesmo que disfarçado pelos orientalismos pontuais, algo do que veríamos em alguns discos do Moonspell, no que tange às cores góticas, e uma influência indiscutível de Paradise Lost na vibe doom/death metal, este último ainda mais aflorado nas faixas do EP.

Sem dúvidas, mesmo que longe do que viria a se tornar, o jovem Orphaned Land já se mostrava criativo nos riffs que guiavam a sonoridade e nos arabescos das melodias, mesmo caindo em alguns clichês  mais “cansativos” do doom/death metal na segunda parte.

Aqui, leia “cansativos” como uma forma de dizer que ainda não haviam moldado o poder de cativar presente em discos como “Mabool – The Story of the Three Sons of Seven” (2004).

Afinal, em faixas como “Blessed Be Thy Hate” ou “Orphaned Land – The Storm Still Rages Inside…” encontra-se certa parcela da originalidade e, de fato, impressiona como uma banda jovem apresentava um trabalho tão sólido já em seu primeiro álbum, ao mesmo tempo que temos um Orphaned Land acertando os detalhes de sua personalidade musical.

Em “Sahara”, o peso ligeiramente melódico, entremeado na melodia ligeiramente melancólica, oscila entre chafurdar na urgência do metal extremo ou mergulhar na profundidade técnica do progressivo.

Aproveite que a Shinigami Records acabou de relançar este material especial no Brasil e dê uma chance a este excelente trabalho, afinal tenho certeza de que VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO!

Ano: 1994

Top 3: “Blessed Be Thy Hate”, “Seasons United” “The Beloved’s Cry”.

Formação: Kobi Farhi (vocais), Yossi Sasi (guitarra e oud), Matti Svatitzki (guitarra), Uri Zelcha (baixo), Sami Bachar (bateria) e Itzik Levi (teclados, sampler, e piano).

Disco Pai: Paradise Lost- “Gothic” (1991).

Disco Irmão: November’s Doom – “Amid Its Hallowed Mirth” (1995).

Disco Filho: Melechesh – “The Epigenesis” (2010)

Curiosidades: Neste trabalho, auto-produzido pela banda, inicia-se também a tradição de inúmeros convidados entre músicos e vocalistas, sendo que um deles é um guitarrista desconhecido, creditado apenas como “Vovin”.

Pra quem gosta de: Melodias arrastadas, Cabala e vinho tinto.

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