Não Alimente os Animais – “Não Alimente os Animais” (2016) | Resenha

 

“Não Alimente os Animais” é auto-intitulado primeiro álbum da banda formada em 2014 e que desenvolve uma proposta intensa, engajada e diferenciada, exalando boas influências de Led Zeppelin, Pink Floyd, Beatles, James Brown, The Meters, Tim Maia, Mutantes, e, principalmente, The Band.

Não Alimente os Animais (2016) Resenha Review Rock Nacional

Dê mais uma olhada na foto da capa do álbum e confesse: assim como eu, você também se lembrou da icônica imagem que estampa o clássico primeiro álbum do Secos & Molhados, não foi?

Sim, a sombria e forte imagem (registrada pela fotógrafa Rayza Roveda, também responsável pela comunicação visual da banda) parece uma evolução daquela foto que traz a cabeça dos integrantes servidos para o jantar.

Aqui, são os integrantes da banda Não Alimente os Animais que esperam sua refeição com olhos famintos direcionados para você, caro ouvinte. E não tem escapatória!

Quando o groove vertiginoso de “It’s Gonna Be This Way” (que baixo engordurado é esse?) irromper o silêncio você será uma presa fácil para uma musicalidade calcada nos anos 1970, mas multifacetada e de sabor original.

“Have No Feelings Inside”, vem na sequência como um bem vindo atentado às nossas emoções (que solo de guitarra é esse?), com linhas hipnóticas de teclados, instrumental denso e detalhes vocais viajantes, numa balada psicodélica de arrepiar!

E estamos só na segunda faixa.

Oriunda de Caxias do Sul (RS), a banda Não Alimente os Animais vem entregando uma mensagem interessante, que pode ser resumida como sendo melhor não “alimentar” o lado irracional, ou mais “animal” e buscar um outro caminho.

Uma sensibilidade que extrapola o conceito, chegando implacável até as composições que impressionam pela maturidade e forma como conseguem manufaturar detalhes tão delicados e acachapantes ao mesmo tempo, como bem mostram os backing vocals e as camas de teclados ao longo de todo o trabalho.

Confira a balada bluesy “Unforgettable” (aconselho estar acompanhado de uma bebida, pois essa faixa é um assalto às nossas glândulas lacrimais) e entenda do que estou falando na mais pura essência, afinal, temos o perfeito matrimônio das abordagens do Pink Floyd e da The Band, pelas vias do Blues.

Mesmo que construam suas harmonias, arranjos e detalhes com componentes clássicas, o frescor, a identidade e a originalidade das composições são assustadores.

São perceptíveis, e perfeitamente isoláveis, cada um dos detalhes da cartilha das influências supracitadas, e esse exercício de desconstrução mostra que vão muito além de um Frankenstein musical de boas referências: possuem uma alma própria, que pulsa.

Essa alma quase pode ser sentida nas faixas já mencionadas, bem como, nas demais que completam o álbum, à saber, “And I Try”, “King Kong” (uma viagem experimental guiada por risos lunáticos – saídos de “Dark Side of The Moon” ? – e momentos orgásticos), “Un Espejo en Cada Mirada” (de experimentalismo cadenciado e num espanhol deliciosamente hipnótico), “Náufragos Perto do Cais” (borbulhante psicodelia sessentista) e “Big Guy”, desfecho com um sincopado jazzístico que oscila em torno de linhas groovadas de baixo e intenso arranjo vocais.

A mistura de rock setentista, groove e psicodelia faz deste primeiro disco da banda, um álbum único dentro da cena,  construído sobre riffs de um excepcional guitarrista, que desfila solos de extremo bom gosto, mas ainda cheios de lascívia roqueira.

Além disso, a variação de timbres e instrumentação entre as faixas, a inclusão de elementos progressivos e experimentais, além do tratamento dos vocais, ora realizando coros extremamente sonoros, ora criando diálogos entre a linha principal e as secundárias, explorando as possibilidades que os quatro vocalistas fornecem, constroem uma sonoridade ousada e única que não tenho visto na música mundial atualmente.

Um álbum que tem capa ideal para um LP!

Um álbum que tem oito faixas que estão bem dividas como se fossem dois lados de um LP, fato evidente aos ouvidos acostumados com o formato “dois picos de intensidade, duas aberturas e dois encerramentos”, aqui balizados pela mesma vibração do clássico auto-intitulado que a The Band lançou em setembro de 1969.

Um álbum, onde cada faixa é um prazer em se ouvir!

Uma obra-prima do rock nacional!

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