Miasthenia – Resenha de “Antípodas” (2017)

 
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Miasthenia: “Antípodas” (2017, Mutilation Records) NOTA:10.

Nascida no anos de 1994, a banda Miasthenia construiu uma trajetória sólida e consistente. Muito além de uma banda diferenciada conceitualmente, cunharam uma discografia de respeito, cravando seu nome à ferro e fogo no cenário metálico nacional, se tornando uma bandeira do nosso underground.

Demonstrando uma evolução vertiginosa por sua viagem discográfica, e partindo das referências à mitologia grega e das influências da cena grega do Black Metal, de nomes como  Rotting Christ e Varathron, o Miasthenia rumou por quatro álbuns estabilizando sua fórmula e apurando sua personalidade musical, dando foco ao conceito lírico da América pré-colombiana, conjurando uma forma original do Pagan Metal, concernente às nossas raízes sul-americanas.

Neste panorama, “Antípodas”, quinto álbum do trio formado por Hécate (vocais e teclados), Thormianak (guitarra e baixo) e  V. Digger (bateria), é a expressão máxima desta abordagem conceitual, e o auge do amadurecimento de sua equação musical, ao mesmo tempo em que soa mais brutal e afinado aos extremismos do black metal e do death metal, além de aflorar uma dramaticidade bélica, com sabor épico de trilha sonora, à começar pela poderosa “Ymaguare”, faixa de abertura que se assemelha a um cântico de guerra.

Confira o clipe de “Coniupuyaras”… [youtube https://www.youtube.com/watch?v=KjfZsvMwucY&w=560&h=315]

Um clima belicoso e grandiloquente que se mantém entrelaçado a um trabalho melódico primoroso, desenvolvido em meio a toda a agressividade e intensidade inerente à geometria black metal da banda. Uma observação já confirmada na segunda faixa, “Novus Orbis Profanum”.

“Antípodas” é um álbum de arranjos precisos, reverentes, e dotados de sentimento de poder. Musicalmente complexo, rompe as barreiras do Black Metal, com criatividade, coragem e altíssimo nível técnico, confirmando uma excelência dentro do metal extremo por faixas versáteis e dinâmicas, sem desmerecer a violência, velocidade e contundência, que não surpreende os que acompanham sua discografia.

No meio disso tudo é impossível não destacar o  trabalho de Thormianak nas guitarras, dono de linhas inteligentíssimas, retrabalhando as nuances do black metal de modo versátil e multifacetado, construindo uma dinâmica cativante que é a alma da equação instrumental do Miasthenia, inserindo camuflados elementos melódicos do heavy metal tradicional (principalmente nos solos), extremamente cativantes dentro da tormenta black/death metal. Seu trabalho na faixa “Ossário” é de cair o queixo.

Chamam também a atenção as linhas vocais inteligíveis de Hécate. Mesmo com vocais agressivos e ásperos é possível discernir exatamente cada palavra das letras entoadas em português de sua performance.  E Hécate se destaca, não só por sua performance vocal emocional, revolta e agressiva, ou pelo rico trabalho de teclados, mas principalmente pela forma como desenvolve o conceito nas letras, uma evidente preocupação em todo o trabalho.

Confira o lyric video de “Antípodas”… [youtube https://www.youtube.com/watch?v=LsRIy_n9AWc&w=560&h=315]

O próprio termo “antípoda” se refere à forma como eram díspares os mundos cristão-europeu e ameríndio no Século XVI, nas expedições por Eldorado, dando enfoque ao protagonismo feminino antes da conquista, resumindo um conceito belamente desenvolvido, com poética aflorada da precisão acadêmica advinda da formação de Hécate, Doutora em História.

Não nos esqueçamos que isso tudo só pode se desenvolver com tamanha eficiência pela sustentação que o baterista V. Digger dá às harmonias, controlando bem a dinâmica, e tomando com eficiência seus momentos de protagonismo nos arranjos.

Destaques? Pra não cair no clichê de dizer que num álbum tão coeso é injusto destacar alguma faixa, pode anotar “Antípodas” (com vocais limpos cativantes e mais melodia em meio ao peso intrincado), “Araka’e” (que letra!) e “Bestiários Humanos” (diferenciada desde o arranjo inicial climático, passando pela variação de peso e velocidade) como composições que se sobressaem num disco de altíssimo nível!

Um álbum maduro e forte, que vem coroar os vinte e três anos da banda, sempre demonstrando respeito às culturas ancestrais ao formatar uma identidade musical honesta e cativante dentro dos modos extremos do heavy metal.

Ou seja, “Antípodas” é o melhor álbum de uma banda única dentro pagan metal extremo mundial!

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