Metallica – ‘Kill ‘em All’: A História por Trás do 1º Disco do Thrash Metal

 

Explore conosco o épico álbum “Kill ‘em All” do Metallica, o ponto de partida do Thrash Metal. Descubra os bastidores da revolução musical liderada pelos Quatro Cavaleiros do Metal. Prepare-se para uma jornada única que moldou o cenário do heavy metal nos anos 80.

Testemunhe o Metallica em seu auge criativo em 1983, ano em que desencadearam o poderoso álbum 'Kill 'Em All'. Nesta imagem, a banda exala determinação e inovação, definindo o futuro do thrash metal e deixando uma marca indelével no cenário musical.

Em 1983, o Metallica lançou “Kill ‘em All”, um álbum que não apenas definiu o Thrash Metal, mas também estabeleceu os Quatro Cavaleiros do Metal como ícones. Neste mergulho profundo, exploraremos as origens da banda, as mudanças de formação, e como esse álbum inovador se tornou o “Big Bang” do Thrash Metal, impactando o cenário musical para sempre.

Metallica – Kill ‘em All: As História do disco que iniciou o Thrash Metal

“Não temos nenhuma regra além das regras do Metallica”. James Hetfield

Segundo o livro bíblico do Apocalipse, os quatro cavaleiros chegarão após a abertura dos quatro selos pelo cordeiro, e lhes será dada a autoridade sobre a quarta parte da terra.

Os quatro cavaleiros do heavy metal, após o lançamento de seu primeiro álbum tomariam mais, pois teriam a totalidade da Terra em suas mãos.

Dizer que “Kill ‘em All” causou uma verdadeira revolução no mundo do heavy metal não é nenhum exagero, afinal, aqui temos a inauguração de um novo estilo de se fazer música: o Thrash Metal!

Este novo estilo mergulhava direto em um amálgama quase blasfemo, perpetrado por poucos nomes.

Desde que Johnny Rotten, vocalista do Sex Pistols, declarara ter dormido em uma apresentação do Led Zeppelin, a separação entre o punk e o heavy metal foi implacável.

Alguns nomes propunham um flerte entre estes estilos, como o Motorhead e o Iron Maiden dos dois primeiros discos (este último mais na figura do vocalista Paul Di’anno, que necessariamente em suas composições), mas o muro só foi derrubado em 1983, com o lançamento do clássico “Kill ‘em All”.

As canções transpiravam coragem ao misturar sonoridades típicas da NWOBHM, o estilo punk de nomes como Discharge e Misfts, além da velocidade e atitude do Motorhead, gerando uma musicalidade diferente.

Esta originalidade já se destacava desde os primórdios, na coletânea Metal Massacre, onde pareciam estar anos-luz à frente dos outros grupos.

A fúria expressa nas faixas é resultado das experiências pessoais de cada integrante e de suas forças juvenis.

Os compradores das trinta mil cópias da primeira prensagem nem imaginavam que aquele item histórico fora gravado em apenas dezoito dias e muitos deles foram arrebatados pela banda mais influente da década de 80, espalhando sua sombra em escala maciça num estilo que só iria crescer mais e mais.

Hoje, queremos dissecar todas as nuances históricas e musicais de “Kill ‘em All”, não só do heavy metal, pois além da gênese do Thrash Metal, destas canções nascia o Metallica.

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Lars Ulrich e James Hetfield em 1981: Dois mundos opostos que se colidiram para mudar paradigmas musicais.

Antes de “Kill ‘em All”: Como O Metallica Nasceu?

Lovecraft já dizia que “uma das maiores bençãos do mundo é a incapacidade da mente humana em correlacionar todos os seus conhecimentos”.

Tal condição afetava Lars Ulrich de modo intenso, mas sua persistência era alimentada por resquícios da incapacidade de correlação que teimava em se apresentar e o movia adiante.

Durante toda a biografia de sucesso do Metallica, toda as decisões da banda se fizeram a partir da junção das personalidades quase complementares de James Hetfield e Lars Ulrich.

O resultado desta mistura é fruto das vicissitudes de ambos, oriundas de realidades diferentes quando infantes e adolescentes.

Se encontraram pela primeira vez entre fevereiro e março de 1981, quando Hetfield, ao lado de seu amigo Ron McGovney, respondeu o anúncio que Lars colocara no periódico Recycler procurando músicos para formar uma banda.

Alheio ao fato de marcar o ponto zero entre as relações dos dois, este anúncio não gerou frutos num primeiro momento, o que fez o inquieto baterista buscar novas experiências do outro lado do Atlântico.

O futuro baterista do Metallica nasceu na Dinamarca em uma família de artistas, esportistas e intelectuais. Seu pai, além de tenista histórico (Torben Ulrich foi o tenista mais velho a disputar a Copa Davis, aos 49 anos), era clarinetista, redator de jornal, cineasta e adepto do budismo.

Lars vivia rodeado de músicos em sua residência dinamarquesa e chegou a entrar no palco aos nove anos de idade, não como músico, mas acompanhando seu padrinho, Dexter Gordon, que engrandecia a forte cena de jazz da cidade de Copenhague, capital da Dinamarca.

Mesmo inserido desde criança nesta cena musical jazzística, a primeira paixão do pequeno Lars foi a banda Deep Purple, sendo o ao vivo Made in Japan o seu álbum favorito até os dias de hoje. Segundo o próprio, “aos nove anos tudo se resumia ao Deep Purple”.

Nesta época, já exibia o hábito de acompanhar as bandas que gostava de modo obsessivo e virou cliente assíduo da loja Holy Grail, onde tomou contato com bandas como Uriah Heep, Status Quo, Judas Priest, Thinn Lizzy e U.F.O..

A cena roqueira inglesa sempre esteve presente na vida de Lars e seu primeiro show, em 1969, foi a apresentação dos Rolling Stones no Hyde Park.

Vivenciando um círculo cultural tão intenso, não demoraria a se interessar pela música além dos discos e ganhou sua primeira bateria aos 13 anos de idade, uma Ludwig que brilhava aos olhos do adolescente que vivia auto-pressionado por uma tradição familiar: o tênis.

Além de seu pai, o avô de Lars também fora tenista profissional e, após a mudança da família Ulrich para os Estados Unidos, o esporte se mostrava cada vez menos interessante ao jovem.

O ambiente competitivo, a excessiva disciplina do esporte, sua pouca habilidade e seus atributos físicos foram fatores preponderantes para que ele se bandeasse para o lado da música.

Toda a atualização de seu conhecimento musical vinha da revista Sounds e o cenário das trocas de fitas K7 por correspondência.

Já como um admirador da NWOBHM, era difícil encontrar outros que compartilhavam da mesma predileção, ou conhecessem tão profundamente as novidades no mundo do rock pesado.

Desta forma, aos poucos foi conhecendo nomes como Brian Slagel (futura mente por trás da Metal Blade), Ron Quintana (criador do nome Metallica) e Patrick Scott (que apresentaria os primeiros registros do Mercyful Fate a Lars).

Lars Ulrich e James Hetfield em 1981: Dois mundos opostos que se colidiram para mudar paradigmas musicais.

O primeiro encontro entre James e Lars não resultou em boas impressões de ambos os lados. Mas era evidente que pertenciam a mundo distintos e diametralmente opostos.

James pertencia a um lar esfacelado e adepto de uma religião severa, a Ciência Cristã. Só encostou numa guitarra aos quatorze anos de idade, empolgado pela coleção de rock dos irmão mais velhos.

Nesta época curtia o que de melhor havia no rock americano como Ted Nugent, Kiss, Aerosmith e Alice Cooper.

Entretanto, não era um novato em instrumentos musicais, pois, aos nove anos, impulsionado por sua mãe, James começa a tocar piano, um fator importantíssimo que viria lhe dar a habilidade necessária para cantar e tocar simultaneamente.

Hetfield ainda trazia em sua vida uma amizade que seria importante para o Metallica por ser o suporte que a banda teria até começar a atingir o reconhecimento no cenário underground. Ron McGovney era amigo de escola de James e compartilhavam o mesmo gosto musical.

Nesta épca, James chamou a atenção de Ron por ser o único na aula de música que tocava guitarra. Daí, para fundarem sua primeira banda, o Phantom Lord, foi um passo.

O passo seguinte seria o abandono da escola e a “independência” através de subempregos. Tudo em prol de um bem maior: tocar seus instrumentos sem pensar no amanhã.

Influenciados pela moda glam rock eles fundariam o Leather Charm que duraria pouco, tendo a dupla se vendo sozinha defronte ao anúncio de Lars.

Ao voltar de suas férias de “verão”, onde fizera um curso intensivo de como funciona uma banda de heavy metal e os meandros deste mundo musical pesado, Lars Ulrich estava decidido a montar sua banda.

Contata James Hetfield e pega emprestado de Ron Quintana o nome Metallica.

A história nos conta que Ron tinha uma lista com possíveis nomes para uma publicação sobre heavy metal em solo americano e arguiu Lars sobre qual seria melhor.

O baterista interessado num dos nomes para sua banda com Hetfield, sugeriu Metal Mania.

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Metallica em 1982: Primeiro show da banda foi realizado em 14 de março.

“Hit The Lights”: A Lendária Participação na coletânea “Metal Massacre”

A cena começava a se agitar nas mais diversas frentes e além das bandas e o fanzine de Ron Quintana, Brian Slagel, inspirado na coletânea Metal for Muthas, planejava lançar seu apanhado de canções compostas por novas bandas americanas, intitulada Metal Massacre.

O intuito inicial seria divulgar a cena de Los Angeles, e abrir um selo ainda não estava nos seus planos, mas o destino se encarregou de mudar estes anseios.

A formação do Metallica (ainda alocada em Los Angeles) que participou desta coletânea se resumia a Lars e Hetfield, tendo Loyd Grant, professor de guitarra de Hetfield, gravando o solo da canção “Hit The Lights”.

Inicialmente esta música fora composta para o Leather Charm, em toda a sua antiga volúpia glam. Algumas alterações lhe deram um tom mais europeu e sua gravação integraria a coletânea de Slagel por um auto-convite de Lars.

O mais interessante é que este registro se deu sem a banda ter realizado um único show, simplesmente pelo baterista ter enxergado uma oportunidade de ter o nome da sua banda em uma disco.

Entretanto, a canção de Hetfield e Ulrich se destacava pela velocidade impressa em seu heavy metal visceral, deixando as outras bandas, cujos nomes incluíam Cirith Ungol, Malice e Ratt, para trás.

A canção apresentada ainda estava sem a produção presente na abertura do álbum “Kill ‘em All”, com a voz de James transpirando puberdade e insegurança, mas a energia ali contida já dava mostras do poderio da dupla principal.

No encarte, Dave Mustaine seria creditado como membro da banda, pois quando se deu lançamento da coletânea ele já era o guitarrista oficial do Metallica .

Entretanto, ele não participou da gravação da histórica faixa. A coletânea foi lançada em 14 de junho de 1982 e o nome da banda viera grafado errado como Mettallica, erro justificado pela entrega da faixa na última hora, sendo que Lars praticamente colocou sua banda nela como uma penetra.

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Três Homens em Conflito no Início do Metallica

Um clássico do faroeste, a película O Bom, o Mau e o Feio esta ligada ao Metallica muito além da cena que abre os shows do grupo com a canção de Ennio Morricone.

Uma das mais clássicas cenas deste filme é a que retrata o duelo triplo, que serve de perfeita alegoria para a convivência no Metallica pouco após a entrada de Dave Mustaine.

Claro, não havia armas, mas a disputa da liderança da banda entre Lars (“o mau”, pois sabia onde queria chegar com a banda e nunca se importou de usar pessoas para isso), James (“o feio”, até o lançamento do segundo álbum, James ainda não tinha segurança em sua voz e em sua presença de palco) e seu novo e genial guitarrista, Dave Mustaine (“o bom”, pelo menos em seu instrumento ele era um dos melhores), trariam feridas que nunca cicatrizariam.

Após registrarem sua primeira canção, Lars e James precisavam de uma banda para dominar o mundo.

O companheiro de James de longa data, Ron McGovney, fora convocado para o baixo e Loyd Grant fora substituído por Dave Mustaine.

O guitarrista respondera o anúncio deixado no periódico Recycler após o fim da banda Panic, cujo espólio rendeu ao Metallica novos amplificadores e guitarra, além de algumas composições que Dave trouxe debaixo do braço.

Taxado de bebum, arrogante e drogado, a verdade é que Dave Mustaine era um talento nato e, segundo algumas declarações de quem convivera com ele na época do Metallica , uma ótima pessoa quando não estava sob o efeito de drogas, lícitas ou não.

Em setembro de 1982 se apresentaram na cidade de São Francisco (nesta época inda não haviam se mudado para a capital do Thrash Metal) por alguns dias.

Nesta mini turnê Mustaine abusou de drogas e álcool de forma anormal, sendo que ele chegou a ser expulso da banda após uma discussão com James e McGovney, culminando em troca de socos entre guitarrista e vocalista em um ensaio.

Mesmo descrito com temperamento volúvel e arrogante, as emocionadas desculpas foram aceitas e Dave não seria o primeiro a sair da banda.

A verdade é que Mustaine era o único com experiência de palco quando realizaram seu primeiro show em 14 de março de 1982.

O set list da apresentação incluía os clássicos da NWOBHM (que não eram anunciados como covers), além de canções que estariam no clássico primeiro álbum, “Kill ‘em All”, como Hit the Lights, Jump In The Fire, esta última sendo uma das que o guitarrista trouxe em sua chegada.

Com o passar do tempo, Dave Mustaine, que antes de se mudar com a banda para São Francisco ainda acumulava as ações de traficante de drogas, começou a apresentar um comportamento cada vez pior, bebendo de modo exagerado e a banda só esperava aparecer um guitarrista de alto nível para mandá-lo de volta à Califórnia.

Não se pode negar que ele era parte essencial da banda, sendo um exímio compositor e figura com presença de palco destacável.

Mas as suas atitudes quando embriagado começaram a suplantar a visão de seu talento, fazendo com que a banda testasse outro guitarrista pelas suas costas.

Consequentemente, se apresentou em seu último show com o Metallica sem nem imaginar que seria demitido posteriormente.

As versões dos fatos iriam variar por anos, mas Mustaine saiu muito ferido destes acontecimentos, esbravejando impropérios contra a banda durante os anos por vir.

Entretanto,  “Kill ‘em All” não seria o mesmo sem as contribuições de Dave Mustaine e seu nome esta gravado na história do heavy metal como um dos que ajudaram a forjar o Thrash Metal, neste álbum e em todos os seus magníficos álbuns como capitão do Megadeth.

O maior detrator de Kill em All quando este fora lançado era Dave Mustaine, que não economizava nas críticas e perguntava para quem quisesse ouvir: “o que eles vão fazer quando o estoque de riffs criados por mim acabar? “

Testemunhe o Metallica em seu auge criativo em 1983, ano em que desencadearam o poderoso álbum 'Kill 'Em All'. Nesta imagem, a banda exala determinação e inovação, definindo o futuro do thrash metal e deixando uma marca indelével no cenário musical.
A formação clássica do Metallica

Como o Metallica chegou em sua formação clássica?

A sentença final de Mustaine nunca fora consequência de sua falta de técnica, muito pelo contrário.

Apesar de seu substituto, Kirk Hammett, ser um dos guitarristas mais técnicos da cena de São Francisco, Mustaine era claramente mais talentoso, principalmente no que tange o caráter de compositor.

Mas até a chegada de Kirk Hammett ao Metallica , oriundo do Exodus, banda que ajudou a fundar em 1981, tivemos a saída de Ron McGovney.

A história nos conta que até o lançamento do sucessor de “Kill ‘em All”, James Hetfield nunca estivera satisfeito com sua performance vocal e desejoso de se tornar apenas o guitarrista da banda.

Nos primeiros shows ele nem empunhava uma guitarra, sendo pra figurar apenas como frontman, no melhor estilo da cena de Los Angeles, com calça de oncinha e tudo mais.

No show de 23 de abril de 1982 a banda se apresentava como um quinteto, tendo Damian C. Phillips na guitarra base.

Não deu certo, James voltou para a guitarra e eles recrutaram Jeff Warner para os vocais, baseado na falta de confiança que Hetfield tinha em cantar e tocar simultaneamente.

Ambas as tentativas só duraram uma apresentação. Não encontrando uma solução para este impasse, James continuou empunhando sua guitarra e comandando o vocal, mas quem dialogava com o público durante os shows era Dave Mustaine.

Pelas costas de Ron McGovney os três outros membros do Metallica chegaram a conclusão de que precisavam trocar de baixista, pois seu talento era limitado para os propósitos da banda.

Na mini turnê que fizeram em São Francisco eles já estavam conversando com Cliff Burton, enquanto Ron carregava o equipamento do show para a caminhonete.

A sugestão de Cliff Burton para o Metallica fora dada por Brian Slagel, quando questionado por Lars sobre um baixista que possuísse habilidade notável.

Cliff Burton era baixista do Trauma, banda que à época começava a enveredar por uma caminho mais comercial que desagradava o baixista, cuja técnica e habilidade tentava emular grandes guitarristas em seu baixo.

Sua influências eram vastas, indo de jazz a Motorhead e um pouco de Bach. Durante sua adolescência tocou com Jim Martin, do Faith No More, em um projeto ambicioso denominado Agents of Misfortune.

Foram quatro meses de longas conversas até que ele aceitasse entrar no Metallica. Mas existia uma condição: a banda teria que se mudar de Los Angeles para São Francisco.

Já completando a banda, Cliff fazia Lars se esforçar para acompanhá-lo, pois de todos era o único com formação musical, tendo frequentado a faculdade de música.

Este panorama foi alterado com a entrada de Kirk Hammett, poucos meses antes da gravação de “Kill ‘em All”.

Na época, o guitarrista que ajudara a fundar o Exodus, frequentava a faculdade estudando música clássica.

Fora da universidade tinha aulas com o futuramente renomado Joe Satriani, que o ajudou a compreender as músicas do Metallica, pois estas utilizavam progressões harmônicas diferentes das convencionais.

Antes de entrarem em estúdio para registrar “Kill ‘em All”, chegaram a convidar John Bush para se juntar à banda, mas o vocalista do Armored Saint refutou sem pestanejar.

Desta forma, não existia outra alternativa a não ser registrar aquelas dez canções como um quarteto.

Os quatro cavaleiros que viriam deflagrar uma nova era para o heavy metal estavam enfim reunidos.

No encarte de “Kill ‘em All” a banda agradeceria de modo especial os membros fundadores Dave Mustaine e Ron McGovney e às bandas Trauma e Exodus por lhe proverem novos integrantes.

Metallica Kill em all capa
Metallica: “Kill em’ All” (Megaforce Records, Vertigo, Polygram)

“Kill ‘em All”: O Primeiro do Disco do Metallica e o Big Bang do Thrash Metal

Tirar o plástico que protege o vinil de estréia do Metallica é sempre uma emoção. Infelizmente, a internet só se tornou fonte inesgotável de todo e qualquer álbum musical há pouco tempo.

Sendo assim, durante muitos anos só pude imaginar como eram as canções pela descrição das publicações onde eu via aquela capa impactante e desejava ter aquele disco em minhas mãos.

Quando por fim o tive fiquei dias ouvindo-o de modo ininterrupto e decorando cada linha de guitarra e cada frase cantada por James Hetfield.

Aos primeiros acordes de “Hit the Lights” já era evidente que a velocidade era algo inerente à proposta da banda e não apenas um meio de mascarar as deficiências técnicas dos instrumentistas.

Cada canção traz uma quantidade considerável de riffs e Lars Ulrich descreve muito bem a sonoridade apresentada em “Kill ‘em All”: “Nós pegávamos os riffs do AC/DC e do Judas Priest e tocávamos na velocidade do Motorhead. Depois imprimíamos nosso diferencial. Tínhamos som e atitude europeus, mas éramos americanos e não havia mais ninguém nos E.U.A. fazendo aquilo.”

A faixa de abertura já fora apresentada com boa gravação na coletânea Metal Massacre, mas aqui a voz de James já se mostra mais firme e alternando momentos menos estridentes em comparação com a primeira versão.

Esta canção, juntamente com “No Remorse”, eram as mais velhas da banda, oriundas do espólio do Leather Charm. sendo a segunda uma remodelagem de uma composição denominada “Let’s Go Rock N’ Roll”.

Analisando a canção No Remorse, talvez, junto com Jump In The Fire, sejam as duas canções menos inspiradas de “Kill ‘em All”.

Apesar da guitarra pegajosa de Jump In The Fire e de seu refrão indefectível, Lars assumiria anos depois que “esta foi uma tentativa estúpida de copiar o sucesso de ‘Run To The Hills’, do Iron Maiden”.

A certeza de que estamos diante uma banda corajosa está estampada na faixa “(Anesthesia) Pulling Teeth”. Um solo de baixo (sim, de baixo!) com quase três minutos e meio, com distorção e pedal wah-wah que faria Jimi Hendrix querer trocar de instrumento.

Aliás, é notória a influência de Hendrix no modo como Cliff Burton tira notas de seu instrumento, fazendo dele não apenas um coadjuvante, mas brilhando como uma das estrelas da companhia.

Os dois destaques máximos de “Kill ‘em All” são justamente os recém-contratados Cliff Burton e Kirk Hammett. Apesar das canções já serem conhecidas pelas demos que lançaram antes deste álbum, é latente que elas ganharam em musicalidade.

Apesar de pisarem no acelerador dos riffs, ainda existe harmonia melódica escondida em cada uma delas, isto quando está harmonia não está escancarada em partes mais cadenciadas de clássicos como “Seek & Destroy” (um dos maiores hinos da história do heavy metal, com riffs cortantes, solo inspirado e fortemente baseada na sonoridade do Diamond Head, maior influência da banda), “Whiplash” (uma clara fusão de Motorhead com The Damned), “Metal Militia” (uma ode ao heavy metal arrasa quarteirão) e “Phantom Lord”.

Esta canções trouxeram uma sonoridade inédita no heavy metal, onde além de aumentarem a velocidade habitual do estilo, adicionaram mais peso e colidiram dois mundos distintos, o punk e o heavy metal, resultando num novo universo a ser explorado.

O vocalista James Hetfield ainda não havia encontrado sua voz ideal, mas a energia imposta em cada linha vocal supre certas deficiências oriundas da inexperiência.

Outras duas gemas de “Kill ‘em All” são The Four Horseman e Motorbreath, mas estas merecem um texto especial.

Os Lendários singles gerados de “Kill ‘em All”

Como toda banda cultuada, o Metallica dispõe de inúmeros acepipes para deleite de seus fãs e colecionadores. Além das demo-tapes raríssimas, existem os singles que, em geral, incluem remixes das canções do álbum, além de versões ao vivo com registros mais profissionais que os apresentados nas fitas de demonstração. O álbum “Kill ‘em All” rendeu dois singles que podem ser facilmente encontrados na internet.

Metallica - Wiplash Kill em All
Metallica – “Wiplash” (EP)

“Whiplash”

O primeiro single foi para a canção Whiplash. Sua versão em vinil trazia duas canções em estúdio e mais duas “ao vivo”.

A versão da faixa-título traz uma mixagem diferente e as outras três canções são as mesmas apresentadas no single subsequente, Jump In The Fire.

Foi lançado em julho de 1983 pela Megaforce Records.

Metallica Jump In The Fire Kill em All
Metallica – “Jump In the Fire” (EP)

“Jump In The Fire”

Com uma das capas mais legais da história da banda, o single de Jump In The Fire é tão famoso quanto o álbum “Kill ‘em All”.

As canções são as mesmas do single anterior, excetuando Whiplash.

As faixas “ao vivo” são versões de estúdio adicionadas de overdubs que simulam o público.

Este single só perde em popularidade para o posterior, Creeping Death, cujo lado B traria o famoso Garage Days Revisited.

Conclusões acerca de “Kill ‘em All”

Em conclusão, “Kill ‘em All” não é apenas um álbum, mas uma obra que redefine o metal. O Metallica, liderado por James Hetfield e Lars Ulrich, transcendeu fronteiras musicais, deixando um legado que ecoa na cena até hoje. Este álbum marca o nascimento de um gênero e continua a inspirar gerações de músicos e fãs. Prepare-se para uma viagem inesquecível pelas origens do Thrash Metal.

Referências:

1. Daniel Bukszpan: The Enciclopedia of Heavy Metal.

2. Mick Wall: Metallica – A Biografia.

3. Robert Dimery: 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer.

4. Revista Roadie Crew, nº 100, 112, 136, 150 e 179.

5. Revista Roadie Crew Classic Series, nº 1, 2 e 3.

6. Ian Christie: Heavy Metal.

7. Tom Leão: Heavy Metal: Guitarras em Fúria.

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