Lord Blasphemate: Resenha de ‘Lucifer Prometheus – Sun In Aries 0º 0′ 0″ Equinox’

 

Descubra a jornada épica de Lord Blasphemate através do seu álbum “Lucifer Prometheus”. Uma obra que transcende o Black Metal tradicional, combinando melodias obscuras, agressividade refinada e uma rica tapeçaria mitológica, estabelecendo a banda como um farol de originalidade e profundidade intelectual no cenário metálico nacional.

Membros da banda Lord Blasphemate posando com instrumentos em cenário sombrio, representando a essência do Black Metal.
Lord Blasphemate: uma fusão de sombrio e místico, capturando a essência do Black Metal.

Introdução

Desde sua formação em 1992, a banda Lord Blasphemate tem se destacado no cenário do heavy metal brasileiro. Com uma abordagem intelectualmente diferenciada, a banda mergulha em territórios obscuros e complexos do Black Metal, enriquecendo suas composições com uma mistura de agressividade e melodias refinadas.

Oriunda do Nordeste, precisamente de Natal, no Rio Grande do Norte, o Lord Blasphemate lançou em 1999 seu primeiro álbum, “The Sun That Never Dies”, marcando o início de sua jornada no cenário musical.

Os integrantes, à época conhecidos pelos nomes Hellhammer (guitarra, baixo e teclado), Tormentor (bateria) e Mallak (vocais), trouxeram ao Black Metal uma nova dimensão, combinando o extremo do gênero com elementos sinfônicos como violinos, flautas e, ocasionalmente, vocais femininos. Por isso tudo, aquele primeiro disco serviu para estabelecer este trio rapidamente como uma promessa para o Black Metal nacional.

O álbum “Lucifer Prometheus” marca o quarto full-length da banda, uma obra que não apenas consolida sua maestria musical mas também explora temas mitológicos profundos, refletindo sobre figuras como Lúcifer e Prometeu.

Este trabalho posiciona a banda como uma voz única e poderosa no metal extremo, explorando a relação entre mitologia e música de uma maneira que desafia as convenções do gênero. Com “Lucifer Prometheus”, Lord Blasphemate não apenas continua sua trajetória de inovação e qualidade, mas também reafirma seu compromisso com uma expressão artística que vai além da música, promovendo uma reflexão profunda sobre os temas que aborda.

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Lord Blasphemate: “Lucifer Prometheus, Sun In Aries 0º0’0″ – Equinox” (2017, Heavy Metal Rock) NOTA:10,0

Lord Blasphemate – Resenha de “Lucifer Prometheus, Sun In Aries 0º0’0″ – Equinox”

A banda Lord Blasphemate sempre foi intelectualmente diferenciada dentro do cenário metálico nacional, praticando um Black Metal trabalhado, com melodias obscuras e agressividade requintada. Oriunda de Natal, capital do Rio Grande do Norte, estão na ativa desde 1992, tendo presenteado a cena extrema nacional com ao menos um clássico indiscutível em 1997, o irrepreensível “The Sun That Never Dies…”, primeiro full lenght da banda.

Ali, naquele primeiro álbum, já estava cravada, de modo menos lapidado, a habilidade artística elevada da banda, brilhantemente apresentada em “Lucifer Prometheus, Sun In Aries 0º0’0″ – Equinox”, seu novo e quarto full lenght, onde manuseiam com muita originalidade as formas mais soturnas e obscuras do metal extremo, saindo da zona de conforto do Black Metal ao ousar em arranjos esmerados, construídos por melodias próximas ao Heavy Metal mais tradicional, junto a orquestrações (à cargo de Paulo Santiago, que também cuidou dos samples e algumas linhas de guitarra), teclados, e instrumental diversificado que se entrelaçam de modo natural à agressividade e rispidez, ao longo das constantes variações de andamentos.

Ou seja, temos uma manufatura Black/Heavy Metal, que mescla todas as abordagens de sua inquieta discografia, chegando ao máximo equilíbrioe já impressionando pelo cuidadoso trabalho gráfico (à cargo de Alcides Burn) num belíssimo digipack, refletindo o requinte musical que a música extrema do Lord Blasphemate atingiu, aos meus ouvidos só comparável à excelência apresentada pelo Therion em álbuns como “Vovin” (1998) “Deggial” (2000).

Mas muito cuidado, não estamos dizendo que a banda grega é uma das influências deste trabalho do Lord Blasphemate, que tem sim ascendências da cena grega, mas voltada a bandas como Rotting Christ e Nightfall, em suas passagens climáticas, linhas soturnas, e morbidez melódica. Completando as perceptíveis referências temos os pilares Bathory, Venom, e Hellhammer que permeiam qualquer desdobramento do gênero.

Nesta direção, o trio potiguar, completado por Znameni (baixo), Hellhammer (guitarra) e Nyarlathotep (vocais), chega às raias do desenvolvimento erudito, principalmente pelo temor emanado de cada movimento de sua marcha agressiva e imperiosa, principalmente nos riffs multifacetados, que transmitem grandiosidade e agressividade na mesma medida, passeando pelas escolas mais extremas, mas também trazendo desenhos harmônicos comuns ao Occult Rock/Metal (ouça “The Magician Hierophant of Hadit in Equinox”), além dos vocais rasgados, e das linhas vigorosas de bateria registradas por Johnny Rodrigues (Infested Blood).

A música engendrada pela banda, que explora tons experimentais, principalmente nas composições mais longas, ganhando ainda mais intensidade e dramaticidade, pela produção orgânica, pesada, e crua, permitindo detalhar cada movimento e artifício harmônico do trabalho, que deixa a catarse do Black Metal de lado, promovendo uma investigação mais cerebral do gênero, emoldurando, ainda, um conceito ocultista da relação entre as figuras de mítico-filosóficas de Lúcifer e Prometeu.

Como bem vimos no texto “LÚCIFER: Uma Entidade do Mal ou o Portador da Luz?”, publicado aqui mesmo no site (confira-o aqui), se nos desatarmos dos grilhões dos dogmas religiosos, enxergaremos similaridades em personagens mitológicos como Lúcifer e Prometeu (além de Shemyaza e Kukulkan) que poderiam ser apenas nomes para a mesma entidade que realmente proporcionou à humanidade o abandono da ignorância intelectual.

Em suma, a mitologia nos conta que o titã Prometeu, pertencente a  uma raça de gigantes que habitou a Terra antes dos homens, e seu irmão Epimeteu foram responsáveis por dar aos homens e aos demais animais, todas as faculdades necessárias para sua preservação.  Prometeu, com a ajuda de Minerva, subiu ao céu e acendeu sua tocha no sol, roubando o fogo dos deuses e o trazendo para o homem, que garantiria sua superioridade perante os outros animais. O fato de que Prometeu roubara a luz dos deuses, e que Lúcifer seria o “Portador da Luz”, seria apenas uma das várias coincidências que não podem ser ignoradas nesta correlação.

Toda esta mística ocultista não é novidade na imagética da banda, tendo seu ápice no EP “Opus Gnosticum Satannae” (2014), que tem sua existência fortemente ligada à Cabala, e onde chegaram a usar frequências inspiradas nos tradicionais rituais dos monges tibetanos, com o poder de alterar o estado de consciência do ouvinte, além de uma introdução com a voz de Aleister Crowley, só pra citarmos alguns dos elementos.

Neste panorama, as sete composições de “Lucifer Prometheus, Sun In Aries 0º0’0″ – Equinox” (a oitava é uma versão orquestral para “Heptarchia Mystica – The Enochians Slaves Angelicae”) são a perfeita harmonização de todos os ingredientes que tornam a música do Lord Blasphemate grandiosa e diferenciada dentro do Metal Nacional, principalmente por faixas memoráveis como “Lucifer Prometheus Sun in Aries 0°0’0″ – Equinox” (que abre o álbum de modo instigante), as épicas “Heptarchia Mystica – The Enochians Slaves Angelicae” (que dá um dinamismo erudito ao Metal Extremo), “The Paroketh Veil – The Sun of Tipharet” (de linhas vocais instigantes, instrumental cadenciado e clima macabro)  “In Astral Journey Through of Kingdom of the Quliphots” (dona de uma melancolia diferenciada, contrastada por angelicais vocais femininos de Jaque Moraes), além da curta, mas impecável ” Draco Estelar Ophidian Ignea”.

Este álbum coloca o Lord Blasphemate na linha de frente da vanguarda do Black Metal nacional, pois mostram muita maturidade como compositores, tendo total domínio da forma que querem dar à sua obra, indo além da experiência musical, se encontrando num padrão de qualidade à nível internacional.

Obra-prima! Simples assim…

Elementos Adicionais

A apresentação do álbum em digipack e a arte da capa, criada pelo talentoso Alcides Burn, refletem com brilhantismo o conceito do álbum, estabelecendo uma conexão visual com os mitos de Lúcifer e Prometeu e a ideia de liberdade que permeia suas histórias. Esta atenção aos detalhes visuais não apenas enriquece a experiência auditiva mas também destaca a dedicação da banda à coesão entre música e imagem.

Dentro do espectro musical, comparando Lord Blasphemate com gigantes do metal extremo como Behemoth, Satyricon, e Rotting Christ, fica evidente que a banda não apenas se mantém à altura desses nomes renomados mas também traz uma identidade única ao gênero. Este álbum é uma recomendação enfática para qualquer apreciador de Black Metal refinado e bem executado, merecendo uma nota máxima por sua contribuição ao cenário musical.

Para aqueles interessados em adquirir “Lucifer Prometheus”, o álbum está disponível através da Amazon, permitindo aos fãs possuir uma peça essencial da história do metal extremo brasileiro.

Conclusão:

“Lucifer Prometheus” não é apenas um álbum; é uma declaração artística de Lord Blasphemate, que se estabelece na vanguarda do Black Metal nacional com este lançamento. A banda demonstra uma compreensão profunda tanto da música quanto dos temas que escolhe explorar, criando uma obra que é ao mesmo tempo desafiadora e acessível.

Este álbum é um convite para mergulhar nas profundezas do metal extremo, onde a agressividade e a beleza se encontram em um equilíbrio perfeito. Uma obra-prima que não apenas ressoa com os fãs de heavy metal, mas também com aqueles que apreciam uma experiência musical rica e intelectualmente estimulante.

Lista de Faixas do Disco

1 – Lucifer Prometheus Sun in Aries 0°0’0″ – Equinox
2 – Heptarchia Mystica – The Enochians Slaves Angelicae
3 – The Magician Hierophant of Hadit in Equinox
4 – The Paroketh Veil 0 The Sun of Tipharet
5 – Draco Estelar Ophidian Ignea
6 – In Astral Journey Through of Kingdom of the Quliphots
7 – Le Messe Noir – Le Psychodrame Original
8 – Heptarquia Mystica – The Enochians Slaves Angelicae (Orchestral Version)

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