Frank Sinatra | A Voz que Encantou o Século XX

 

Frank Sinatra pertence ao panteão americano da música popular, ao lado de Elvis Presley e Michael Jackson, como figuras que transcenderam o mundo da música, permeando outros ambientes da cultura pop norte-americana.

Um conquistador de sucesso, esteve ao lado das mais belas mulheres de seu tempo, se esbaldou como poucos nos prazeres do showbizz, morreu musicalmente e ressuscitou em grande estilo, ganhando um Oscar.

Tinha ligações fortes com a máfia, era amigo de personalidades do esporte e de grande nomes da política.

Foi precursor na hoje banal histeria dos fãs e praticamente inaugurou a classe de pop star dentro do mundo da música.

Ofereceu resistência impiedosa contra o rock n’ roll, mas marcou a história da televisão americana em uma apresentação junto a Elvis Presley.

Antes de tudo isso, Frank Sinatra, o cantor, foi a voz que encantou o século XX em músicas atemporais, discos memoráveis e shows antológicos.

Este texto é basicamente um tributo a um dos maiores cantores de todos os tempos, dono de uma voz que supostamente o teria salvado da vingança da máfia italiana!

Com as primeiras rotações completas do vinil temos a certeza de que somente uma voz como a de Frank Sinatra transformaria uma simples canção como Strangers In The Night, de arranjos, até certo ponto, carregado de clichês, em uma pepita musical reluzente e inestimável dentro do cancioneiro popular.

Entretanto, este talento fora lapidado ao longo de sua trajetória.

Em 1939, mesmo ano em que se casou com Nancy, quase que empurrado por sua mãe, a voz que encantaria todo um século ainda estava destreinada, sendo referenciada apenas como “uma voz de bons fraseados fluentes e agradável“.

Apesar da personalidade impressa em cada interpretação, ainda era inseguro, hesitante e com a voz dois tons acima do normal.

Mesmo assim, em pouco tempo já poderia saborear o sucesso quando gravou “I’ll Never Smile Again”, já ao lado de Tommy Dorsey, seu real primeiro professor, responsável por lhe mostrar os meandros do exigente mundo musical americano daquele período.

Esta foi praticamente a canção que o lançou para o grande público e ocupou as paradas por muito tempo. Sua entrada na banda de Tommy Dorsey se deu em substituição ao cantor Jack Leonard, quando Sinatra estava iniciando seus passos junto a Harry James and The Music Makers.

Frank Sintra
Tommy Dorsey and His Orchestra, 1941. Frank Sintra está em pé, ao fundo da foto, atrás da bateria. 

Harry James fora pistonista da banda de Benny Goodman e recrutou Frank Sinatra para ser o vocalista masculino de seu novo conjunto, em junho de 1939, tendo ainda pedido ao novo cantor que trocasse seu sobrenome para Satin, pois Sinatra era italiano demais.

Sugestão recusada após uma contundente intervenção materna.

Quando recebeu o convite de Tommy Dorsey, nem considerou a possibilidade de recusa, deixando a banda de Harry James após seis meses e uma audição em que interpretou a canção “Marie”, maior sucesso de Tommy Dorsey e que tinha Leonard nos vocais.

A partir dali, Sinatra iria do auge ao fundo poço em pouco menos de uma década.

Antes mesmo de entrar na banda de Tommy Dorsey, Frank Sinatra, ainda na banda de Harry James, já se considerava o melhor cantor do mundo!

Tamanha segurança inflava um ego que lhe causaria problemas com outro grande ego genial dentro da banda de Dorsey, o baterista Buddy Rich.

O único problema entre os dois era a vaidade. Com o sucesso que Sinatra começava a cultivar, ganhou destaque dentro da banda, sendo considerado, em 1942, aos 25 anos, pela revista Billboard, como o melhor cantor de banda do ano. Isso causou ciúmes em Rich, alimentando uma rusga que chegaria às vias de fato entre os dois.

Harry James and Orchestra, 1939. Frank Sintra canta “My Buddy“…   [youtube https://www.youtube.com/watch?v=D5920KYagjA]

Não que Frank Sinatra fosse, no popular, “flor que se cheirasse”. Já havia experimento a hospitalidade das cadeias americanas em 1938, quando fora preso por acusação moral.

Talvez, este afã em ser o melhor fosse reflexo de uma infância conturbada, visto que ficou famoso em Hoboken, cidade onde cresceu, pelos ataques de fúria durante a adolescência.

Futuramente, suas relações pessoais não seriam marcadas com a mesma genialidade de sua arte.

Algumas biografias não autorizadas mostram o astro da música e do cinema como um marido infiel e sem muitos escrúpulos nos negócios.

Filho de dois imigrantes italianos, foi casado com Nancy Barbarto antes de ser esposo das atrizes Mia Farrow e Ava Gardner.

Indícios ainda apontam que Frank Sinatra teria, certa vez, atuado como mensageiro da Máfia e escapado por pouco de ser preso carregando uma maleta com 3,5 milhões de dólares em dinheiro vivo.

O próprio Sinatra sempre negou ter qualquer ligação com a Máfia, embora arquivos do FBI levados a público em dezembro de 1998, sete meses após sua morte, tenham retratado o cantor e ator como sendo amigo íntimo do famoso chefão da máfia de Chicago, Sam Giancana.

Frank Sinatra
Frank Sinatra já havia experimento a hospitalidade das cadeias americanas em 1938, quando era preso por acusação moral, sendo famoso nas fofocas por prisões em Hoboken, cidade onde cresceu, pelos ataques de fúria durante a adolescência. 

Documentos do FBI também sugerem que Sinatra teria tido contato com o mafioso Lucky Luciano durante uma viagem que fez a Cuba, em 1947, e que, no início de sua carreira como cantor, tenha recebido o apoio de um mafioso chamado Willie Moretti, de Nova Jersey.

A história, que se confunde com as lendas da cultura pop e teria inspirado uma cena do clássico do cinema “O Poderoso Chefão”, tendo começado em 1942, quando Frank Sinatra começava a pensar em abandoar a banda de Tommy Dorsey, após experimentar um destaque maior com já mencionada eleição da Billboard, no ano anterior.

Ele já participava de alguns filmes naqueles tempos e sua saída da orquestra de Dorsey foi conturbada, inspirando algumas teorias conspiratórias que incluem a Máfia.

Alguns personagens da época desacreditam a história, e o próprio Dorsey declararia posteriormente que, na época, foi visitado por três homens com aparência de executivos.

Este trio teria ordenado-lhe entre os dentes a assinar o rompimento de contrato ou sofreria consequências. Lenda ou não, o fato é que Sinatra conseguiu sair da banda de Tommy Dorsey em setembro de 1942 e começar sua carreira solo.

Tommy Dorsey and His Orchestra. Frank Sintra canta “I’ll Bee Seeing You”…[youtube https://www.youtube.com/watch?v=xKWNay0y2Bc]

Em pouco tempo começaria a fazer história dentro do cenário do entretenimento americano, como pioneiro da figura de pop star musical.

Tudo começou em dezembro de 1942, quando Frank Sinatra agendou uma série de shows no Paramount Theater, em Nova York.

O cantor de 27 anos tinha acabado de se separar de Tommy Dorsey e tinha ao seu lado George Evans, que realizou verdadeiras operações de marketing pessoal para o cantor.

Quando viu uma fã correr e enfrentar a segurança de Sinatra para entregar-lhe um flor, Evans viu um potencial de apelo popular na atitude.

Para a surpresa do cantor, um pequeno exército de garotas adolescentes tomou o Paramount Theater na primeira noite e indo à loucura quando ele surgiu no palco, um estratagema articulado por Evans.

Segundo o próprio cantor lembraria, “o som era completamente ensurdecedor, eu estava assustado. Não conseguia mover um músculo.”

Esse fanatismo em volta de Sinatra ocorreu mais de 20 anos antes da Beatlemania, e foi a primeira demonstração nos Estados Unidos de como a cultura teen iria evoluir na segunda metade do século XX.

Ainda foi George Evans quem batizaria Frank Sinatra com o apelido de “The Voice”.

O sucesso veio e, de carona, os excessos também. Sua vida fora dos palcos confrontava os padrões conservadores da hipócrita sociedade americana, fazendo com que suas aventuras românticas começassem a influenciar nas vendas de seus discos.

Em uma década já era considerado morto para o showbizz.

Frank e Ava. Em 1952, Sinatra era considerado morto para o showbizz americano, principalmente por causa de ter trocado sua esposa Nancy pela atriz Ava Gardner.

No início da década de 1950 Frank Sinatra experimentou seu primeiro grande revés na carreira. Ao trocar sua esposa Nancy pela bela atriz Ava Gardner foi abandonado pelo showbiz hipócrita americano.

Seu renascimento se deu após dois anos, quando ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, pelo personagem no filme “A Um Passo Da Eternidade”. Além de Sinatra, esta obra da sétima arte ajudou a Columbia a se recuperar na década de 1950.

Naquele momento começava o melhor período a sua carreira em termos musicais, quando assinou contrato com a Capitol Records, em 1953, perdurando até 1961.

Muito do brilhantismo dos álbuns pertencentes a esta fase é consequência da parceria com o Nelson Riddle, em álbuns que exaltavam a música popular americana.

Álbuns como Songs For Swinging Lovers (1956, uma clara resposta ao rock n’ roll recheada de muita sofisticação e standards), In The Wee Small Hours (1955, produto de seu rompimento com Ava Gardner, deixa a postura de conquistador de lado para cantar as dores do amor) e os excelentes álbuns que o apresentaram a um novo público, Swing Easy (1954) e Songs For Young Lovers (1954) são discoteca básica da música pop do século XX.

Mesmo estando acabado artisticamente na virada das décadas de 1940 e 1950, Sinatra mostrou que F. Scott Fitzgerald estava errado quando disse não haver segunda chance para os americanos, e renasceu para o showbizz, assumindo um posto que nunca seria retirado de si.

“I’ve Got You Under My Skin”, um clássico na voz de Sinatra… 

Após experimentar a montanha russa do pop americano, Frank Sinatra não se deixaria cair novamente.

Todavia, em meados dos anos 50, o rock n’ roll, capitaneado por Elvis Presley, começava a tocar fogo na cultura pop americana.

A cena da velha guarda, comandada por Frank Sinatra, se preocupava com os novos nomes que surgiam tirando as suas magníficas vendagens de discos e arregimentando fãs na nova geração, que seriam seus por uma herança oriunda das influências musicais de seus pais.

Em 1957, no auge da primeira explosão do rock, Sinatra teria declarado que “o rock n’ roll cheira a falsidade, imitação. É cantado, tocado e composto por valentões cretinos.”

A verdade é que a figura de Elvis Presley representava para a juventude daquele período o que Sinatra havia sido para a geração anterior.

O próprio Sinatra explicaria que esta eferverscência juvenil em torno do rock era “graças às suas letras sujas e lascivas”. Entretanto a contradição entre o discurso e a atitude de Frank Sinatra era mais que evidente.

Cercado de mulheres (mesmo casado), sempre acompanhado de bebidas e se mostrando em situações nada louváveis, Sinatra desprezava Elvis Presley que nunca chegaria nem perto de ser tão “desajustado” quanto o primeiro.

A diferença era que o cantor dos olhos azuis, já apelidado de “A Voz”, mantinha uma imagem de típico homem americano, de terno e gravata, que respeita as leis e ama sua esposa e filhos. Entretanto, já vimos que as coisas não eram pintadas com estas cores.

Como a vida tem das suas surpresas, Elvis Presley estava frente a frente com Sinatra em Miami Beach, no dia 26 e março de 1960, após Elvis dar baixa no exército.

Elvis Presley e Frank Sinatra em Miami Beach, no dia 26 e março de 1960. Sinatra sempre lutou contra o rock n’ roll, música que considerava cheirar à falsidade, imitação, cantada, tocada e composta por valentões cretinos.

Vestido com smoking e sua rebeldia capilar enfrentando uma grande dose de gel, Presley agitou a galera ao girar os quadris após um estalar de dedos, cantou Fame And Fortune, Stuck on You e, em dueto com Sinatra, apresentou as mais comportadas Love Me Tender e Witchcraft.

Ao fim da apresentação, se abraçaram num simbolismo de aceitação da velha guarda ao novo ídolo que não se mostrava mais tão perigoso como antes.

Confira outros importantes encontros musicais além de Sinatra e Presley, em nosso post especial, aqui

A partir de 1960, a carreira de Sinatra experimentou a calmaria de um astro consolidado, tendo, inclusive fundado sua própria gravadora, a Reprise Records e se tornado a eterna voz da canção My Way (clássica versão em inglês de uma canção francesa).

Em 2015, comemorou-se o centenário de Frank Sintra, que viveu uma infância um tanto conturbada em Hoboken, New Jersey, sendo lembrado como uma criança solitária, que estava disposta a dividir seu dinheiro com qualquer um que quisesse ser seu amigo, além de ter experimento o sabor amargo do preconceito em início de carreira, pelo fato de sua mãe ganhar a vida fazendo abortos.

No âmbito musical, seu gosto foi apurado pelo rádio, tendo com ídolos Rudy Valee, Russ Colombo e, principalmente, Bing Crosby, se enganando aqueles que pensam ter Frank surgido para a música como predestinado.

Em verdade, Sinatra não tinha ambições acadêmicas, tendo sido expulso da escola e ido trabalhar com o padrinho Frank Garrick como empacotador de jornais, recebendo 12 dólares semanais.

Quando sentiu o aroma das primeiras horas da manhã cotidianamente, trabalhando muito e ganhando pouco, lembrou-se do sonho de sua mãe em vê-lo engenheiro ou médico.

Tentou até ingressar em alguma universidade, mas o esforço foi em vão. Sua carreira na música começou pelos bailes de escola que organizava nas noites de quarta.

O jovem Frank Sintra, em Hoboken, New Jersey, em algum momento dos anos 1930

Sua primeiras apresentações em público datam deste período, quando ainda tinha apenas 17 anos. Viu ali sua oportunidade de crescer e conseguir tudo aquilo que não conseguiria pela academia.

No afã do início, pensou até em mudar de nome alegando preconceito com seu nome italiano, adotado Frank Trent até que sua mãe descobrisse e obrigasse a retomar o sobrenome de família.

Logo foi descoberto por Harry James e dali para as páginas da história da cultura pop, como um dos maiores cantores populares, cafajestes ou não, do século XX.

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