Deep Purple – Resenha de “Copenhagen 1972” (2018/Shinigami Records)

 

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Deep Purple: “Copenhagen 1972” (2018, Shinigami Records)

Particularmente, estou curtindo demais essa série de discos ao vivo do Deep Purple, pois como já disse em resenhas para os lançamentos anteriores, nesse período o heavy metal e o hard rock ainda tinham muitas coisas em comum, como disciplinas científicas em desenvolvimento, e o seu laboratório era o palco.

Sendo assim, para quem gosta de entender como uma banda que se confunde com os primórdios do gênero evoluiu, esta Official Deep Purple (Overseas) Live Series é quase um tratado histórico. E neste mais recente capítulo, temos um show realizado em 1º de março de 1972, no estádio de København Boldklub, em Copenhagen, na Dinamarca.

Mesmo com o advento do heavy metal em 1970, o gênero ainda se confundia com o que existia de mais pesado dentro do rock naqueles tempos, seja hard rock, jazz rock ou progressivo. Todos estes subgêneros do rock ajudaram a pavimentar o caminho que levaria ao heavy metal, como vimos neste texto.

Era uma época em que Alice Cooper, Led Zeppelin, Deep Purple, King Crimson, Queen, Rush, Blue Cheer, Black Sabbath e Stooges, ligavam seus amplificadores no máximo e rompiam os limites de peso, velocidade e estética do rock, cada um à sua maneira, mas todos mais ou menos catalogados sob o mesmo rótulo.

Alguns eram mais progressivos, outros mais lisérgicos ou abusavam de longas jams, poucos apostavam na virulência gratuita e a maioria na dramaticidade de riffs e os ganchos melódicos dos refrãos.

Mas o Deep Purple, em 1972, em cima do palco, era tudo isso e um pouco mais. E em  “Copenhagen 1972” as provas estão cravadas nas performances de “The Mule” (progressiva), “Child In Time” (lisérgica) e “Lucille” (clássico de Little Richard, que ganhou em agressividade, sem perder o poder melódico de contagiar, e com Gillan arrepiando nos agudos), pra ficar em apenas três faixas do repertório.

Cabe ressaltar que em 1972 o Deep Purple lançava o clássico “Machine Head”, uma das parcelas mais importantes deste caldo primordial do heavy metal, mostrando uma banda com maturidade e consciência de sua música, sem limar sua liberdade e sua força.

As músicas de “Machine Head” dialogavam com a juventude e faziam ferver o sangue dos aficionados pelos carros velozes, principalmente em “Highway Star” “Space Truckin'”, que funcionam muito bem ao vivo até os dias de hoje, o que dirá no frescor de 1972, quando havia acabado de sair da forja e representavam o que existia de mais atual  no quesito peso.

E o que dizer do riff de “Smoke on the Water”? Permita-me dizer que se essa música funciona até no show do Emmerson Nogueira não vá pensando que vai pular a execução deste clássico porque acha que já enjoou da música. Aqui ela foi retirada de um show em Nova York, em 1973, e esta dentre as faixas bônus do segundo CD (Sim! É edição dupla), ao lado de uma entrevista de 1971, e versões de “Strange Kind of Woman” “Space Truckin” retiradas do mesmo show.

Como o show registrado em Copenhagen foi realizado apenas dois meses após o lançamento de “Machine Head”, só tínhamos no repertório três músicas retiradas daquele álbum (“Lazy”“Highway Star” “Space Truckin'”) que seria seu maior clássico da carreira.

E pra quem ouviu os registros ao vivo antes deste “Copenhagen 1972”, como ” “Stockholm 1970″ ou “Live In Long Beach 1971”, a mencionada maturidade pode ser sentida até em cima do palco. Em comparação aos momentos anteriores, o Deep Purple parecia ter conseguido controlar a força primitiva que o movia, mas sem descaracterizar sua identidade.

Jon Lord ainda orbitas as guitarras inflamadas de Blackmore como um astro megalítico, que de tempos em tempos despeja sua chuva de meteoros sobre as estruturas da seção rítmica, por sua vez, longe de só marcar o tempo das composições.

Nos vocais, Gillan já havia equalizado sua intensidade dramática, já não mais abusando do direito de exagerar em seu amplo alcance vocal. O vocalista soa mais carismático  e confortável em comparação ao que ouvimos nos registros de 1970 e 1971. Isso pode ser conferido no desfecho do show, com a clássica “Black Night”.

Porém, não se engane. “Copenhagen 1972” traz um bombástico show de rock, com seus excessos, e experimentalismos agressivos que desbravavam no palco o terreno virgem do heavy metal, definindo padrões do gênero que seriam lapidados pela próxima geração de uma forma espontânea e caótica.

O Deep Purple era a banda mais “barulhenta” do mundo naquela época, e  “Copenhagen 1972” traz a MK-II (formação das mais relevantes da história do heavy rock) em seu ápice, menos auto-indulgente no palco, com jams mais fluidas e melhor desenvolvidas.

Cabe, por fim, lembrar que “Copenhagen 1972” é um registro do mesmo ano de “Made In Japan”, e uma das pequenas amostras de como o caos frutifica em ordem no universo.

Não só é muito bom, como obrigatório aos admiradores do Deep Purple.

TRACKLIST

CD1
1. Highway Star
2. Strange Kind Of Woman
3. Child In Time
4. The Mule
5. Lazy
6. Space Truckin’

CD2
1. Fireball
2. Lucille
3. Black Night
BONUS
4. Strange Kind Of Woman (Live in New York 1973)
5. Smoke On The Water (Live in New York 1973)
6. Space Truckin’ (Live in New York 1973)
7. 1971 Australian Interview

FORMAÇÃO

Ian Gillan (vocais)
Ritchie Blackmore (guitarra)
Jon Lord (teclado)
Roger Glover (baixo)
Ian Paice (bateria)

https://youtu.be/UxjZaU6ViJM

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