David Bowie – “No Plan” (2017) | Resenha

 

“No Plan” é um EP que marca o 70º aniversário de David Bowie, lançado em 2017, pela Columbia Records.

David Bowie - No Plan Resenha Review

Quando perguntado, por volta de seus cinquenta anos de idade, quem era seu modelo aos vinte e poucos anos, David Bowie respondera: “William S. Burroughs e Pablo Picasso”.

Nesta época ele já era o Camaleão do Rock, o Mestre da Reinvenção e um dos ícones máximos do estilo, que, curiosamente, declarava não ter se espelhado em rockstars.

Claro, todos sabem da sua admiração pelo The Velvet Underground, mas esta resposta se torna ainda mais sincera quando tomamos conta da justificativa das escolhas.

Segundo Bowie, William Borroughs o impressionava pois nunca parou de pensar e Picasso “estava sempre brincando com a mente e as próprias reações à vida, era sempre novo e infantil”.

Aos olhos daqueles familiarizados à história e obra de Bowie, pode até soar como se ele estivesse falado de si próprio, afinal, Bowie era um artista, na mais pura essência da palavra.

Estava acima do termo rockstar!

Ainda na mesma resposta ele reflete sobre o elemento principal desta criatividade: a capacidade de se maravilhar com as possibilidades que a vida e o mundo dão a você!

E Bowie se maravilhou até mesmo com a proximidade da morte, tornando “Blackstar” (2016), seu último álbum, no mais criativo e artístico testamento que a música popular contemporânea conheceu!

Ele transformou a percepção do fim da vida em uma obra-prima, fazendo da morte uma parceira na concepção do trabalho!

O que temos em “No Plan”, EP que marca o 70º aniversário de David Bowie, são quatro faixas, sendo três “inéditas” e a belíssima “Lazarus” (reflexiva, que encanta, emociona e ensina em seus versos).

Estas faixas inéditas, apesar de não entrarem em “Blackstar”, figuraram no tracklist do álbum com a trilha sonora do musical “Lazarus” (inspirado pela composição de Bowie e o que também explica sua presença neste EP).

Dentre as faixas inéditas, “No Plan” (menos experimental e mais envolvente), “Killing a Little Time” (quiçá, a melhor das três, com linhas de bateria impressionantes) e “When I Meet You” (lembrando muito as composições do magnífico álbum “Reality” [2003]), carregam os traços característicos do último trabalho de Bowie, com instrumental vanguardista, vozes melancólicas, sinuosas e hipnotizantes, trabalho épico ao jeito jazzístico orquestrado, beirando o noir, e com uma gama de sonoridades vintages.

Nos últimos anos de sua vida, Bowie se tornara recluso, fato acentuado após o tratamento para um câncer de fígado, tendo falecido dois dias após o lançamento de “Blackstar”.

O mais curioso é que ele já conversava com músicos e o produtor sobre o próximo álbum!

Voltando à resposta sobre seus modelos na juventude, Bowie refletiu que “quando você perde essa capacidade de se maravilhar por estar vivo, já está praticamente de saída”.

Ironicamente, no dia 10 de janeiro de 2016, exatamente há um ano, Bowie saiu repentinamente de cena, mostrando-se ainda capaz de se maravilhar com todos os aspectos de sua vida, transformando até mesmo a morte na mais pura arte!

Resenha previamente publicada na página METAL NA LATA.

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