Appice – Resenha de “Sinister” (2017)

 
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Appice: “Sinister” (SPV/Steamhammer, Shinigami Records) NOTA:8,0

A família Appice é um caso talvez isolado dentro da música moderna. Sim, irmãos músicos que ganham notoriedade no Rock/Metal não são nenhuma novidade e basta um rápido exercício de memória para lembrarmos dos Young, dos Cavalera, dos Kolesne e dos Busic.

Mas estes estiveram juntos em suas respectivas bandas sendo relevantes em seus nichos ao mesmo tempo. De fato, foram todos importantes aos gêneros aos quais se dedicam, mas poucos são aqueles como Carmine e Vinny Appice que estiveram construindo carreiras distintas, no mesmo instrumento, e em eras roqueiras de pouca interseção. Quiçá os irmãos Schenker estejam mais próximos dos Appice, até mesmo os Van Zandt, ,mas ainda assim a família Appice se destaca.

Pense bem, Carmine Appice ajudou o rock a caminhar rumo ao heavy metal com o Vanilla Fudge (como vimos neste texto) ainda no final do anos 1960, estabeleceu junto a John Bonham e Ian Paice, ainda no início dos anos 1970 em bandas históricas como Cactus e Beck, Bogert & Appice, as bases modernas da bateria que seriam aplicadas nos anos seguintes, na construção do Hard Rock e do Heavy Metal.

Muito além disso, Carmine tocou em estádios lotados acompanhando Rod Stewart e Ozzy Osbourne, e quando renovou sua música com o King Kobra e, posteriormente, no esquecido Blue Murder, já via seu irmão dez anos mais novo, Vinny, seguindo seus passos como baterista do Black Sabbath (posteriormente Heaven & Hell) e Dio.

Confira o clipe de “Monsters And Heroes”… [youtube https://www.youtube.com/watch?v=Zj5sBY7WINw&w=560&h=315]

Agora, em 2017, os dois irmãos apresentam seu primeiro álbum de estúdio em conjunto. A dupla já havia se aventurado na jornada fraterna em “Drum Wars Live!”, álbum ao vivo de 2014, que trazia uma versão renovada, energizada e metálica do que os geniais Genne Kruppa e Buddy Rich fizeram em seu histórico “The Original Drum Battle” (1962).

E assim como a histórica dupla de jazzistas, os irmãos Appice possuem estilos diferenciados por cadência, groove, velocidade e força. Enquanto Carmine é mais cerebral, melódico e “tático”, Vinny é mais agressivo, instintivo e emocional. Ambos frutos de suas épocas e de suas jornadas como instrumentistas.

Claro que os dois se cercaram de convidados gabaritados para trabalhar num repertório que evidentemente privilegia as linhas de bateria, mas que também transpira rock por todos os seus poros. Dentre eles temos os guitarristas Craig Goldy (Ex-Dio, Ex-Giuffria), Bumblefoot (ex-Guns N’ Roses), Joel Hoekstra (Whitesnake), e David Michael Phillips (King Kobra); os baixistas Tony Franklin (Ex-Blue Murder, Ex-The Firm), e Jorgen Carlson (Gov’t Mule); e o tecladista Erik Norlander (Lana Lane).

Confira a faixa “Killing Floor”…. [youtube https://www.youtube.com/watch?v=351FVdTGMkw&w=560&h=315]

E por mais que seja um álbum liderado por bateristas e sem uma banda definida, “Sinister” possui uma coesão do instrumental é forte, dando liga e formatando um álbum que vangloria a carreira de ambos, com destaque à vibrante e instrumental “Drum Wars”, que consegue ser muito envolvente em sua explosão rítmica. Claro que existe uma esperada irregularidade quanto a qualidade geral das composições, mesmo que bem executadas.

Já no início do álbum percebemos que o duelo entre os músicos será amigável, cada um isolado em um dos canais, e aqui está o primeiro “porém” da produção, pois a ideia foi boa, mas mal executada, afinal nem sempre conseguem manter o equilíbrio desta separação. No mais, podiam ter dado um polimento melhor nas timbragens dos instrumentos, que poderiam dar mais brilho aos riffs e às melodias, mesmo que estes se valham dos desgastados, mas sempre eficientes, clichês oitentistas do hard n’ heavy.

Dentre os vocalistas, a única surpresa vai para o fato de Carmine assumir os vocais na música “You Got Me Running”. Afinal não é surpreendente o fato das composições entoadas por Paul Shortino serem os destaques máximos do álbum. A começar por “Monsters and Heroes”, uma composição especial de Paul (atual companheiro de Carmine no King Kobra) sobre o mestre Ronnie James Dio, a quem Carmine conhecia desde os tempos de Elf, passado por “Suddenly” (invocando algo de Whitesnake), a climática “Future Past”“War Cry”.

Confira a faixa “Sabbath Mash”… [youtube https://www.youtube.com/watch?v=DXR6i3VNbFs&w=560&h=315]

Além dele, Robin McAuley (MSG) se destaca em “Riot”, uma regravação do Blue Murder que se apresenta mais pesada e groovada, enquanto Jim Crean começa bem, abrindo o álbum com o irresistível Hard Rock da faixa-título, uma música com peso e ousadia nas mudanças de andamentos, mas reaparece com menos brilho nas medianas “Danger”“In the Night”, até fechar o trabalho com a saudosista, mas eficiente, “Sabbath Mash”.

Ainda temos nos vocais a participação de Scotty Bruce e de  Chas West (ex-Lynch Mob), este último em “Killing Floor”, mais uma faixa com um “q” de Whitesnake, e que completa a tríade de melhores composições do trabalho, muito pelas peripécias de Craig Goldy nas seis cordas. Aliás, as guitarras de “Sinister” estão bem construídas, e com sabor familiar.

Por fim, “Sinsiter” é um disco emblemático para o Hard Rock/Heavy Metal, que se não é tão impactante e grandioso como se esperava, cumpre seu papel. Além disso, o forte registro de  “Monsters and Heroes” já vale a aquisição do álbum.

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