A Ditadura Militar no Brasil e a Censura Cultural

 

As novas gerações não tem dimensão de como a ditadura militar no Brasil cerceou a cultura através de mecanismos de censura.

Alguns destes que proclamam atualmente a volta dos anos de chumbo pensam que continuarão a expor seus absurdos nas redes sociais, com liberdade, ou acreditam que continuarão a ouvir a música que querem e assistir o filme que desejarem.

Todavia, na época da Ditadura Militar no Brasil centenas de obras culturais, entre filmes, livros, músicas, peças de teatro, foram censuradas, seja em sua totalidade, ou parcialmente. Incluindo obras internacionais.

Zuenir Ventura, escritor e jornalista, em uma pesquisa profunda chegou a números impressionantes da censura no Brasil na época da Ditadura Militar.

Segundo dados apurados por ele, só nos dez anos do AI-5, entre 1968 a 1978, cerca de  450 peças, 200 livros e mais de 500 letras de música foram censuradas.

AI-5

O Ato Institucional número 5 foi decretado em 13 de dezembro de 1968, sendo um artifício politico-jurídico publicado pelo Regime Militar do Brasil, comandado pelo general Costa e Silva,  que suprimia os direitos políticos.

Ele criava uma radicalização autoritária e dava poder quase absoluto à ditadura militar.  Dentre as principais concessões ao Presidente da República estavam a suspensão de direitos políticos de qualquer cidadão; cassação de mandatos de deputados, estaduais ou federais, e vereadores.

Pouco tempo após sua promulgação, o congresso estava fechado, estudantes, intelectuais e líderes sindicais, presos às centenas.

Além disso, o AI-5 proibia manifestações populares de cunho político, suspendia o habeas corpus para crimes políticos, e impunha censura prévia para jornais, revistas livros, peças de teatro e músicas.

O AI-5 terminou em 13 de outubro de 1978, mas a ditadura militar se estendeu até 15 de março de 1985.

A Ditadura Militar no Brasil e a Censura Cultural

A CULTURA CENSURADA NA DITADURA MILITAR DO BRASIL

Os critérios  usados como justificativa para a censura eram vagos, para não dizer obscuros: cenas de sexo, palavrões, propaganda política, “atentado à moral e aos bons costumes”, e (o campeão) conteúdo subversivo.

A responsabilidade da análise das obras artísticas para a censura era da Divisão de Censura de Diversões Públicas, que durou até 1988, ano em que a Assembléia Nacional Constituinte pôs fim à censura.

Na autobiografia de Marco Mazzola, um dos maiores produtores musicais ele registrou o seguinte:

“A Philips tinha um departamento especializado na liberação junto à censura, ao qual todas as letras tinham de ser entregues imediatamente para que eles acelerassem o processo de aprovação e inciassem o trabalho de produção. Sendo a maior gravadora, com cast milionário, a companhia necessitava dessa sgilidade para poder colocar os discos à venda. Caso a censura não aprovasse a letra, tínhamos que pedir uma nova revisão, com a modificação já feita pelo artirsta. Era uma agonia o prazo de espera para a aprovação. Passavam-se às vezes 15 dias e não recebámos o resultado. Havia ocasiões em que o disco estava pronto e, no último momento, tínhamos que mudar a letra e submetê-la outra vez à censura. Foi um momento difícil para a criação artítica”. 

À partir do AI-5  a censura calava artistas , compositores, jornalistas, teatrólogos, escritores e ainda exilava, bania, prendia e torturava.

A CENSURA NA MÚSICA

A censura direcionada à MPB foi gigantesca.

Para entender como era a paranoia da época da Ditadura Militar basta ouvir e interpretar a letra de “Metrô Linha 743”, lançada por Raul Seixas no disco homônimo de 1984.

Dentre os grandes nomes da música nacional da época do AI-5, os compositores Cetano Veloso e Gilberto Gil tiveram suas cabeças raspadas nos porões do exército, onde ficaram por dois meses sem que houvesse qualquer acusação formal contra eles.

Chico Buarque, à época louvado com o novo Noel Rosa, se auto-exilou na Itália após passar por uma experiência semelhante e ser obrigado a comunicar ao exército sempre que fosse se ausentar da cidade em que morava.

Durante sua carreira nos anos 1970 a proporção de suas músicas censuradas era de duas para cada composição liberada.

Rita Lee, Belchior, e Odair José também foram cerceados pela Ditadura Militar,  e até Adoniran Barbosa, que teve sua “Tiro ao Álvaro” censurada por “falta de gosto no uso das palavras ‘tauba’, ‘revorve’ e ‘artormove'”, demonstrando completo desconhecimento da obra do artista.

“PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES”

Mesmo assim, o maior símbolo da censura na MPB se deu com a música “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores (Caminhando)”. Esta composição de Geraldo Vandré  é uma daquelas que foram censuradas como conteúdo subversivo.

Todavia, ela só foi censurada pela Ditadura Militar brasileira depois de se tornar um hino de resistência do movimento civil e estudantil que fazia oposição ao Regime Militar.

Antes disso, ela foi vice-campeã do III Festival Internacional da Canção da TV Globo de 1968.

Mas a ligação com a oposição à Ditadura Militar fez com que o compositor, Geraldo Vandré se exilasse.

Na época, a canção foi censurada e só foi liberada onze anos depois.

Ao contrário do que contam os mitos, o próprio Geraldo Vandré negou que fora torturado pelos militares como se acreditou por muitos anos. Antes que isso ocorresse ele conseguiu fugir para o Chile.

TAIGUARA

Taiguara era outro compositor massacrado pela censura.

Uruguaio de nascimento (seu pai, maestro, excursionava pelo Uruguai quando ele nasceu), Taiguara é tão genial em suas composições quanto desafortunado em sua carreira, se tornando um dos mais geniais malditos da Música Popular Brasileira.

Instrumentista de primeira linha, suas letras eram simbólicas e cheias de figuras de linguagem, que a censura da Ditadura Militar não perdoou, estendendo suas sombras pela carreira de Taiguara (ao todo, foram quase setenta músicas censuradas), que se exilou em Londres até voltar ao Brasil em 1975.

Incansável, Taiguara lançava discos consistentes e emplacava sucessos atemporais cujas letras provocativas tornaram-o alvo de forte perseguição política.

Seu disco “Imyra, Tayra, Ipy” (1976) foi recolhido pela censura apenas trinta e seis horas após de seu lançamento, sem reedição até 2013.

O disco tinha arranjos de Hermeto Paschoal e regência de Wagner Tiso e também contou com um elenco de grandes músicos, dentre eles, Jacques Morelenbaum, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas e Novelli.

EXISTIA UMA LISTA NEGRA DE COMPOSITORES

Cada compositor que tivesse uma música censurada entrava automaticamente numa espécie de lista maldita.

Consciente desta lista, Chico Buarque começou a usar pseudônimos, “autores” contra os quais não havia suspeita, e assim as composições eram aprovadas sem restrições.

Julinho da Adelaide e Leonel Paiva eram alguns destes nomes usados, e a imprensa, bem informada e censurada ironizava os novos compositores descobertos por Chico Buarque.

Só depois de descoberta a artimanha, em 1975, que os censores da Ditadura Militar começaram a exigir RG e CPF para registrar as composições.

OS ÓRGÃOS DE CENSURA NÃO ERAM ASSIM TÃO ESPERTOS

A falibilidade dos órgãos de censura era nítida.

“Revendo Amigos”, de Jards Macalé, por exemplo, teria incomodado os censores, que deixavam passar batido “Gotham City” do mesmo compositor, ou “Eu Quero é Botar Meu Bloco Na Rua” e “Filme de Terror”, de Sérgio Sampaio, mostrando que não entendiam direito algumas alegorias.

Às vezes, algumas incongruências eram flagrantes, como em “Assim Assado” (quem você acha que é o “guarda belo”?) do Secos & Molhados, presente no primeiro disco da banda que em menos de um ano chegou à marca de 1 milhão de cópias vendidas.

Ney Matogrosso, à época vocalista da banda, era paradoxalmente a imagem do que a Ditadura Militar reprimira. Subversivo era um adjetivo leve para o que ele apresentava em horário nobre na Tv.

O ROCK TAMBÉM FOI CENSURADO!

O que não significa que o Rock Nacional passou incólume à censura da Ditadura Militar brasileira.

Raul Seixas conseguiu gravar discos altamente subversivos para a época.

Sim, a faixa “Como Vovó Já Dizia”, é conhecida por ter dois versos censurados por “subversão”: “quem não tem papel dá recado pelo muro” e “quem não tem presente se conforma com o futuro”. Os dois foram substituídos por “quem não tem filé come pão com osso duro” e “quem não tem visão bate a cara contra o muro”, respectivamente.

Mas os militares implicaram mesmo foi com sua sociedade alternativa que ele e Paulo Coelho anunciavam em suas músicas inspiradas nos ensinamentos de Aleister Crowley.

O maior exemplo dentro do Rock Nacional foi o álbum “Massacre”, da banda paulista Made In Brazil, totalmente censurado em 1977, só sendo editado em 2005.

Até nos anos 1980 com a abertura política em curso, a coisa não amainou. “Teoria da relatividade”, faixa que estaria presente em “Ronaldo Foi Pra Guerra”, disco do Lobão de 1984, teve sua execução pública  vetada, pois ia contra a moral e os bons costumes.

A Blitz, banda que explodiu o início do que chamamos de BRock à partir de seu disco de 1982, teve duas faixas vetadas neste disco de estréia: “Cruel, cruel esquizifrenético blues” e “Ela quer morar comigo na lua”. A matriz que já havia sido prensada foi riscada nestas duas faixas pela própria banda.

No ano seguinte, Leo Jaime também experimentou a censura com “Sônia” e “Cobra Venenosa”, por duplos sentidos sexuais. No mesmo ano, das 13 composições do primeiro álbum do Inocentes, só quatro foram liberadas pela censura. O que era um LP virou um compacto.

NEM TOM JOBIM SE SAFOU

Nem Tom Jobim conseguiu desviar da Ditadura Militar.

Após assinar junto a outros compositores um manifesto contra a censura no VI FIC, em 1971, o maestro da MPB foi levado ao Dops na Praça Marechal Âncora, para prestar esclarecimentos, onde, segundo ele mesmo teria dito que havia um engano: “eu não sou comunista, sou pianista”.

Censura Na TV, no Cinema e no Teatro

Não só a música sofreu com a repressão da Ditadura Militar. Qualquer trabalho diferenciado e mais ousado era visto como suspeito, sendo vetado parcial ou totalmente.

Em 1976, a incongruência da censura da Ditadura Militar chegou ao nível de proibir a encenação de “Romeu & Julieta” pelo Ballet Bolshoi que seria transmitida pela televisão.

A explicação do ministro da Justiça Armando Falcão era que o Bolshoi era uma companhia russa, e a Rússia fazia parte da União Soviética, que era comunista, logo,  “Romeu & Julieta” era uma peça comunista.

RODA VIVA

O teatro brasileiro também teve inúmeras peças censuradas sendo a mais icônica “Roda Viva”, em 1968, escrita por Chico Buarque, quando um grupo paramilitar invadiu o teatro em São Paulo e depredou o cenário.

 “Roda Viva”, a peça que estreou em janeiro de 1968, era uma continuidade da música lançada por Chico Buarque em parceria com o MPB 4, em 1967, uma espécie de profecia velada e sutil aos tempos que viriam após a instauração do AI-5.

Mesmo assim, a peça não apresentava explicitamente um conteúdo político, sendo inspirada no ambiente do show business.

Meses depois a agressão terrorista se repetiria em Porto Alegre, pondo fim à carreira da peça em outubro de 1968. A atriz Norma Bengell chegou a ser sequestrada e agredida.

Existem suspeitas de que o ataque foi executado ao espetáculo errado, pois ao ser interrogado em dezembro de 1968 Chico foi perguntado por uma cena que pertencia ao espetáculo “Feira Paulista de Opinião”, dirigido por Augusto Boal.

O CINEMA NOVO

Um dos alvos preferidos da Ditadura Militar no Brasil foi o movimento artístico batizado de Cinema Novo.

A maioria dos cineastas da época, como Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Almeida, tiveram ao menos um de seus filmes censurados. “O Bandido da Luz Vermelha”, por exemplo, filme de Rogério Sganzerla, foi todo cortado devido às cenas de nudez e de sexo.

NEM OS FILMES ESTRANGEIROS FORAM PERDOADOS!

Nem os filmes estrangeiros passavam pelo crivo dos censores da Ditadura Militar. “Laranja Mecânica”, clássico dirigido por Stanley Kubrick e baseado no livro de Anthony Burgess, foi lançado em 1971, e barrado pelo governo Médici.

“Laranja Mecânica” só foi exibido no Brasil em 1978, e mesmo assim, com bolinhas pretas que cobriam os seios e a genitália dos atores nas cenas de nudez do filme.

O FIM DA TV EXCELSIOR

Na TV, a Excelsior sucumbiu ao AI-5, tendo a concessão cassada em 1970, assim como a Tupi, primeira emissora de televisão brasileira, que saiu do ar em julho de 1980.

Os motivos apresentados eram problemas financeiros e administrativos.

A TV GLOBO TAMBÉM FOI CENSURADA

Nem a toda-poderosa Rede Globo conseguiu se desviar da Ditadura Militar.

“Selva de Pedra”, novela exibida em 1972, teve cortes impiedosos, com capítulos inteiros tesourados. Os capítulos entre 150 a 157 foram exibido as 23 horas por causa da censura.

Usando grampos telefônicos, os militares tomaram conhecimento que a Rede Globo produzia a novela Roque Santeiro, com estréia marcada para 1975, baseada numa peça de teatro censurada.

Claro que  a censura limou a novela antes mesmo dela ir ao ar.

Só em 1985 uma nova versão de Roque Santeiro iria ao ar, apenas com Lima Duarte do elenco original de dez anos antes.

ATÉ A TV CULTURA…

Em 1968, a Fundação Padre Anchieta gerenciava a TV Cultura, um canal educativo que não tinha foco na audiência.

Exibia, em seu início, teleaulas, documentários, e peças de teatro.

O canal entrou em rota de colisão com a Ditadura Militar com o programa Jovem Urgente apresentado pelo psiquiatra Paulo Gaudêncio, que trazia uma espécie de terapia em grupo entre jovens, além de discutir o desenvolvimento sexual.

Logo o Jovem Urgente foi proibido pelos militares.

Censura na Literatura e na Imprensa

A literatura também foi alvo da censura da Ditadura Militar.

Mas seriam os jornais que trariam um dos maiores símbolos da violência da repressão na Ditadura Militar.

Por expor a realidade da sociedade brasileira e discutir os problemas do cotidiano, o diretor de jornalismo do canal, Vladimir Herzog foi “interrogado” (leia-se torturado) pelos militares, que logo depois divulgaram que ele teria se suicidado na cadeia.

CASSANDRA RIOS, A ESCRITORA CAMPEÃ DE CENSURA

Cassandra Rios foi uma escritora campeã de censura. Em 1976, ela teve 33 de seus 36 livros proibidos pela ditadura.

Era usada a alegação de “temas atentatórios à moralidade pública” para classificar livros como “Veneno” e “O Prazer de Pecar”, que hoje estariam na mesma prateleira de “50 Tons de Cinza”, de E. L. James.

Homossexual, Cassandra chegou a ser condenada à prisão.

“FELIZ ANO VELHO”

Nomes importantes da nossa literatura também foram censurados. Quase sempre com o carimbo de “pornográfico”.

“Feliz Ano Novo”, do mineiro Rubem Fonseca, foi censurado em 1976, um ano após seu lançamento. A linguagem brutal e incisiva  de Rubem era usada para narrar a crueza que ele vira em seus tempos de policial.

O governo Geisel censurou-o com a justificativa de que atentava contra a moral e os bons costumes, e um senador chegou  pedir a prisão do escritor alegando que   “Feliz Ano Novo” se tratava de “pornografia pura.

NELSON RODRIGUES, O PORNOGRÁFICO

Pornográfico era quase o apelido de outro grande escritor brasileiro, o dramaturgo Nelson Rodrigues. Ele foi o responsável por dar o pontapé no teatro moderno brasileiro com a peça “Vestido de Noiva” de 1943.

Seu primeiro romance foi publicado com o pseudônimo de uma mulher, Suzana Flag, em 1945, e à partir de 1950 começou suas crônicas “A Vida como Ela É”.

Seu único romance assinado como Nelson Rodrigues, publicado em 1966, intitulado “O Casamento” (que resenhamos aqui), foi censurado pela ditadura militar pouco tempo depois de publicado, sendo considerado subversivo e indecoroso.

Quando questionado sobre o sexo e a violência em sua literatura, ele disse

“Não inventei nenhum dos dois. O sexo e a violência existem e aí estão para quem quiser confirmar. Se afirmarmos ao pé da letra esta afirmação dos egrégios censores tudo poderá ser proibido; assim Branca de Neve poderia induzir à dissolução da família e à violência.”

Talvez a repressão na literatura tenha passado despercebida por causa da ebulição na cena musical e no jornalismo, mas Renato Tapajós, autor de “Em Câmara Lenta”, chegou ir para a cadeia por este livro.

A acusação era de “uma apologia do terrorismo, da subversão e da guerrilha em todos os seus aspectos”.

ESCRITORES INTERNACIONAIS FORAM CENSURADOS NO BRASIL

Nem nomes internacionais escaparam da censura antes e durante a Ditadura Militar.

Eça de Queiroz, após protestos da Igreja Católica, teve seu livro “O Crime do Padre Amaro” proibido em salas de aula.

Assim como “Lolita”, de Vladimir Nabokov e a “A Crucificação Rosada”, de Henry Miller foram censurados.  Aliás, Henry Miller teve seus livros censurados no Brasil até 1968.

A CENSURA NOS QUADRINHOS NACIONAIS

Muito menos os quadrinistas nacionais deixaram de ser censurados.

Eram tantos os cortes nas HQ’s que em muitos casos elas ficavam incompreensíveis.

No número 1 da revista Fradim, em 1973, nove páginas foram cortadas.

Diante de tamanha perseguição, o autor Henfil, decidiu ele mesmo suspender a publicação no número 6.

Outro nome do segmento que foi perseguido pela Ditadura Militar foi Ziraldo.

Junto a outros profissionais da área fundou O Pasquim, o mais relevante jornal não conformista da imprensa brasileira.

No dia seguinte à publicação do AI-5 ele foi preso na sua casa e levado para o Forte de Copacabana rotulado como elemento perigoso. .

Elifas Andreato, um dos mais importantes artistas gráficos do país, conta um episódio que resume bem como era a censura dos jornais quando trabalhou no Jornal Opinião, que ajudou a fundar em 1972:

“Quando o jornal saía, um censor verificava se aquilo que tinha sido aprovado era o que havia sido impresso.

“Existe um momento que me marcou muito por causa disso. Quando D. Paulo Evaristo Arns resolveu rezar uma missa em homenagem ao estudante Alexandre Vanucchi, morto pela repressão militar, decidimos produzir uma reportagem sobre isso.

“Eu desenhei D. Paulo a traço na redação e, na gráfica, apliquei a cor vermelha que aparece na roupa do cardeal.

“Quando o censor viu aquilo impresso, a primeira coisa que ele fez foi me dar um tapa na cara! Ele se sentiu ludibriado com aquilo, pois tinha aprovado um desenho preto e branco.

“Então, ele me pegou pelos fundilhos e, juntamente com Raimundo Pereira e Tarik de Souza, jogou-me num camburão. Ficamos presos umas três horas.

Era humilhante o que eles faziam. Além de baterem, o interrogatório era extremante violento e repleto de insultos.” 

(FONTE: http://www.educacional.com.br)

ENFIM…

Recentemente li que “se você quiser cohecer os tabus de alguma sociedade, investigue aquilo que ela proíbe”.

Uma sociedade cujo governo controla a cultura só pode gerar uma cerca viva para a criatividade, a educação, o pensamento livre e, consequentemente, a sua evolução.

Para aqueles inertes e adormecidos na alienação, talvez isso não significa muito, mas o mais valor de uma sociedade está em sua cultura, esse é o seu maior legado!

Afinal o homem tem que ter direito ao chamado do conhecimento, livre, sem tutores.

Até por isso, temos que nos perguntar o que estão tentando esconder de nós quando nos censuram algum movimento artístico.

Cabe a nós, não ao governo, decidir o que nos agrada ou não, se vale nossa atenção ou nossa indiferença!

É importante sempre termos esses exemplos de censura da Ditadura Militar em mente para que não aconteçam novamente mortes, prisões, torturas  e exílios por exercícios culturais.

Temos que estar vigilantes pois as sombras desta tempestade se aproxima novamente. Pode ser que ela se dissipe e nem vire garoa, mas é sempre bom estar atendo à sua história para não repeti-la.

Será que Raul Seixas estava tão errado assim, e a nossa não é a “geração da luz” , não somos “oposto dessa estupidez” e muito menos a “esperança no ar”?

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